Belmiro, Belmiro, Doutor Belmiro, Doutor Belmiro
Hoje, dia 22 de Maio de 2009, mais um dia em que não posso dizer que não faliu mais um banco (o maior da Flórida), nem que não subiu o petróleo, nem que não houve nacionalizações de empresas do sector energético (3 empresas de gás nacionalizadas na Venezuela), oiço-te, Belmiro, ou melhor, doutor honoris causa Belmiro, dizeres que a culpa é dos trabalhadores.
Maniqueísta que és, Belmiro.
A culpa é dos trabalhadores.
Disseste isso.
Tu que foste trabalhador por conta de outrem.
Lembras-te? No tempo do patrão Pinto de Magalhães.
Lembras-te de como tu, sempre dentro da legalidade e demonstrando darwinisticamente que eras o mais bem apetrechado para a função “fazer dinheiro” - e como é elegante o sotaque do norte com que dizes esta expressão tão simples – assumiste o controle accionista e deixaste de ser trabalhador por conta de outrem?
Porque não fazem o mesmo os trabalhadores da Auto-Europa?
Porque não estão tão bem apetrechados, darwinisticamente em ambiente economista falando, claro, como tu.
Não foram capazes de deixar de ser trabalhadores por conta de outrem.
Logo, deviam aceitar as propostas de flexibilidade da administração da Auto Europa.
Dizem-me que não são as propostas da casa mãe, será verdade?
Teremos chegado ao ponto da administração ser mais papista do que a casa mãe?
E vens tu, Doutor, dizer que os trabalhadores preferem passar os sábados com os pés na água?
Ora tu, que és doutor, sabes que a remuneração aos sábados é apenas uma apropriação parcial das mais valias geradas ao sábado. Porque produzir ao sábado gera mais valias, que como doutor que és, tendem nessas circunstancias a reproduzirem-se.
É assim tão grave reclamar essa apropriação parcial de uma coisa que, como dizia o outro, já era deles, que a geraram?
Ora tu, Doutor, sabes melhor do que eu porque és um bom gestor e eu não, que ao olhar-se para os trabalhadores devemos ver o peso que eles têm nos custos totais.
E já veio nos jornais: na Auto Europa é 5% (por acaso no Metropolitano de Lisboa é à volta de 55%, mas isso é conversa para outra altura).
O que quer dizer que, se na Eslováquia os salários forem mais baixos 30%, as luminárias que fundamentam a deslocalização da fábrica para a Eslováquia estão a fundamentá-la com um diferencial de 1,5% !
Chega para pagar os custos da deslocalização?
Claro que não, mas tu, doutor Belmiro, jogas com a ileteracia matemática dos eleitores.
Ocultas-lhes que o diferencial para a Eslováquia é de 1,5%.
E quererias talvez que começássemos a falar em expropriações para animar a luta.
Talvez não seja o momento no processo histórico para falar nisso, embora os teus colegas empreendedores do ramo hipotecário nos USA e em alguns bancos privados portugueses se esforcem para isso.
Não receias que a tua atitude possa ser interpretada como um convite à anexação dos sudetas pela Volkswagen?
Mas, Doutor Belmiro, para que não digas que faço críticas destrutivas que tornam menos competitivo o País, deixo-te a mensagem que retirei da ópera-rock do Chico Buarque da Holanda, “A gota d’água”, adaptação da Medea à vida nas favelas do Rio (manda comprar o DVD, dôtô, manda, vais ganhar em ver, até porque Creonte também segue as tuas pisadas):
mantem a divisa “ganhemos dinheiro”, mas acrescenta: “baixemos os lucros”, como diz Chico Buarque. Verás que o País fica mais competitivo.
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