Continuando o tema tão do gosto dos moralistas ofendidos, gostaria de tranquilizar quem possa estar mais preocupado (uma senhora directora de um jornal diário chegou a perguntar no seu jornal – seu dela por força de quem a nomeou - “que monstros estamos a criar nas nossas escolas com estes professores?”) que é possível distribuir preservativos nas escolas públicas há já 10 anos. Isso, o governo e os moralistas estavam desatentos. O que, segundo uma hipótese que devia ser aprofundada, será talvez positivo.
Recordam-se de ter contado a experiencia da minha mulher como professora com uma aluna de 12 anos (“eu sou melhor na cama do que a setôra” – bom, as palavras utilizadas não foram estas, como hão-de calcular, mas o sentido era)?
Como a história se passou há mais de 20 anos, a mocinha já deve ser avó. E como a segurança social e a assistência social estão como estão, será fácil imaginar o trajecto. Até aos moralistas deve ser fácil.
Mas eu queria contar a experiencia da minha cunhada (mania das irmãs de irem para professoras…), também passada há muito tempo. Mais precisamente em 1971.
Pediu-lhe o professor Calvet de Magalhães (sim, esteve ligado ao anterior regime mas era um humanista e um pedagogo) para organizar umas sessões de educação sexual. Tinha a minha cunhada 24 anos. Como os seniores da altura gostavam de dar trabalhos complicados aos juniores (a primeira coisa que me mandaram fazer no Metropolitano foi um esquema de avaliação, corria o mês de Fevereiro de 1974…). E foi assim que a Isabelinha preparou cuidadosamente, em colaboração com a professora de Ciências da Natureza, um programa de Educação sexual.
A sessão decorreu com os miúdos interessadíssimos. No fim, a Isabelinha perguntou quem tinha duvidas. Silencio. A Isabelinha a sentir-se perdida porque quando não há duvidas é porque a mensagem não passou e ninguém entendeu ou aderiu ao tema. Até que um rapazinho mais afoito, perante a insistência, explicou: “Sabe setôra, a gente percebeu tudo e até temos dúvidas, mas como a setôra só usou nomes difíceis, a gente não sabe como há-de dizer. É que nós só conhecemos essas coisas pelo nome-palavrão”.
C…, leitor, não é giro? Não era melhor falarmos destas coisas com mais naturalidade?
É que na escola da minha mulher (lá estou eu outra vez), a professora de ciências da natureza segue o programa (por favor, reparem, segue o programa) e mesmo assim já tem havido encarregados de educação que fazem saber o seu descontentamento.
E os moralistas rasgam as vestes com o caso da professora de Espinho? Eu só gostava de saber se ela disse “tu não sabes onde te metestes” (aqui, sim, eu acho que a conduta seria reprovável) ou se terá dito “tu não sabes onde vos metestes” (não faz concordância mas é um regionalismo tolerável). No resto, parece-me que as pessoas andam demasiadamente vestidas de branco por fora, parafraseando a metáfora.
E, já agora, não querem que vos reproduza a conversa que ouvi, en passant, entre a minha neta e a prima, de 8 anos? Vá lá, abram as mentes, que as crianças não se importam de abrir as delas. E se não fordes como as criancinhas…
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