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Seja um metro, um metropolitano, da capital de uma região autónoma.
Seja uma comissão sindical, não, duas, que embirram com a arrogância, a petulância, a empáfia e a ignorância dos políticos em questões de transportes, e cito o antigo diretor desse dito metro , ou melhor das políticas e dos políticos que governam a região autónoma e, por inerência, o referido metro.
Então, as condições económicas difíceis determinaram a redução pelo governo nacional dos salários das empresas em cujo capital está a parte pública, como é o caso do referido metro.
Sabe-se que esse governo, para combater a desigualdade de rendimentos , até aplicou uma boa taxa aos depósitos “off-shore” dos cidadãos e cidadãs desse país, dissemelhantemente do que se passou no nosso país, e por isso não deve ser acusado de protetor dos privilegiados.
Porém as comissões sindicais embirram mesmo com as tais políticas e políticos dirigentes , e cometeram o pecado de prejudicar as cidadãs e cidadãos trabalhadores da região autónoma ao fazer greve.
Prejudicaram mesmo, até porque trabalhar no metro é sem termo, e a maior parte dos passageiros que são transportados trabalha a termo certo, o que não quer dizer que nas próximas eleições esta maior parte vote em programas que defendem o sem termo (pareceria a melhor maneira para cumprir a declaração universal dos direitos do homem, mas se calhar não vai acontecer), isto é, quem fica prejudicado com as greves também sofre do pecado da falta de solidariedade, porque acha que mesmo a termo certo não tem que defender programas de pleno emprego (ou pleno subemprego, mas não consigo acreditar que o desemprego seja melhor).
Eu também acho mal, porque as comissões sindicais aplicaram, em vez do princípio da solidariedade que está nos textos fundamentais que as enformam, o princípio do interesse egoista de Adam Smith, que diz que quando eu satisfaço os meus interesses estou a contribuir para a satisfação dos interesses dos outros (lá está, falaciosamente se poderia dizer que graças a estas greves, os trabalhadores do metro vão ter algumas reivindicações satisfeitas e, portatno, a população da região autónoma vai ter um metro a funcionar com melhor ambiente de trabalho, mais eficiente e seguro; é uma falácia, mas é também uma dedução adam smithista, a qual não subscrevo, obviamente).
Mas não são as motivações nem as avaliações morais que quero discutir.
Quero discutir as estimativas de perdas nesse metro por cada dia de greve.
E queria interrogar-me: quais serão as estimativas no nosso metro de Lisboa?
Segundo a comunicação social dominante as perdas por dia de greve foram:
- perda diária de receitas no metro da região autónoma: 3,2 milhões de euros
- perda diária de receitas dos comerciantes da área metropolitana: 25%
- perda diária de quantidade de trabalho: 12 milhões de homem.hora
Admitindo que o referido metro transporta diariamente 2,5 milhões de passageiros, isto é, cerca de 4 vezes mais do que o nosso metro de Lisboa, talvez se pudesse estimar que as perdas em Lisboa seriam cerca de um quarto, o que daria 800 mil euros de perda de receitas. Mas não, admitindo 600 mil passageiros por dia e que cada passageiro tem uma receita virtual de 60 centimos, digo virtual por causa da existência do passe social e cito de cor, então a perda diária de receitas no nosso metro de Lisboa seria de cerca de 360 mil euros. O que é bastante menos de um quarto e indicia que a estrutura de custos do metro de Lisboa necessita de reparação ou, também, que o valor dos salários em Lisboa é menos de metade do valor dos salários na região autónoma em questão.
A existência do dito passe social atenua as perdas porque a receita já foi recebida.
A definição dos serviços mínimos que condiciona a avaliação das receitas também será subjetiva.
Dir-se-ia que serviços mínimos seria a oferta suficiente para transportar as pessoas que têm atividade remunerada, liberal ou por conta de outrem, sem termo ou a termo certo, e que não podem deslocar-se por outro meio de transporte. Confesso que não tenho dados para estimar.
A conclusão que eu tiro é a de que os dados relativos ao metro da região autónoma não parecem ser de muita confiança. Mas os cálculos para as estimativas de perdas numa eventual greve em Lisboa também não parecem ser de confiança. Isto é, discutimos as coisas, mas em termos virtuais
Vêem por que razão eu não queria discutir as motivações e as avaliações da greve do metro da região autónoma?
Eu centro-me na declaração universal dos direitos do homem: direito ao trabalho, não ao desemprego.
Se não tenho números, é só o que me interessa dizer, e muito gostaria que não se enganassem os cidadãos e as cidadãs com números.
PS - Tenho de corrigir a informação: a receita média por passageiro do Metropolitano de Lisboa não é 60 centimos. É 34 centimos!! por causa do passe social. O que daria uma perda diária virtual de 200 mil euros. Que número tão pequeno para o efeito (deixo a escolha do efeito ao leitor).
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