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Tenho muita consideração pelo senhor ministro da justiça.
Quando jovem, na capela da universidade de Coimbra, levantou-se e dirigiu-se ao presidente da república Américo Tomás, pedindo-lhe a palavra.
O homem não lha deu, mas Alberto Martins tomou calmamente o seu lugar na história da resistência.
Porém, tenho conceitos estatísticos diferentes dos dele.
Também tenho alguma consideração pelo senhor secretário geral da segurança interna.
Mas também tenho conceitos diferentes de estatística.
Sobre o conceito de estatística do senhor ministro da administração interna não vale a pena argumentar, desde que preferiu os indicadores favoráveis das estatísticas de que dispunha, na cimeira de Viana do Castelo, enquanto no quarteirão ao lado o museu do ouro era assaltado com uma morte.
E desde que manda para o Eurostat o número de vítimas da sinistralidade rodoviária sem contabilizar as mortes dos feridos graves nos hospitais.
Não vale a pena também discutir o erro da duplicação da estatística dos crimes com armas de fogo (dependência do ministério da Justiça).
As discrepâncias são tão grandes que não vale a pena. Porém dou alguma credibilidade às estatísticas da PJ, cujo diretor contrariou a desculpa dada pelo senhor ministro da Justiça, garantindo que nas estatísticas da PJ não tinha havido duplicações.
O problema de evitar duplicações também se põe em qualquer empresa de transportes quando serviços diferentes fazem o registo das ocorrências. Qualquer colega que trabalhe nisso poderá explicar aos senhores ministros como se faz (se quiserem aplicar o art.48 da Constituição, relativo ao diálogo entre as entidades oficiais e os cidadãos, claro).
Mas repito, não vale a pena discutir estes números. Todos sabemos que a criminalidade está acima do tolerável, configurando um funcionamento irregular das instituições públicas.
Que descende diretamente, a criminalidade, do insucesso escolar, do desemprego e da desigualdade de rendimentos, e que continua a perder-se esta guerra, porque o insucesso escolar não pode resolver-se apenas nas escolas.
Para um funcionário, como eu, de uma empresa de transportes, a estatística que mais rigorosamente reflete o estado das coisas é muito simples, e é esta que os colegas da linha de Sintra de comboios suburbanos sentem na pele:
3 revisores agredidos por semana.
Não vale a pena virem com desculpas de “marketing”, ou de perceção da realidade, ou de aleatoriedade estatística.
Todas as semanas há 3 colegas agredidos. Sabe-se porquê: insucesso escolar, desemprego, desigualdade de rendimentos.
Se se quer melhorar a eficiência energética, aumentando a quota de transporte coletivo relativamente ao transporte individual, tem de se atacar as causas, não será? Por mais “carjacking” que ameace o transporte individual.
PS - Segundo informação pública da CP, de 5 de Julho de 2010, as 3 agressões por semana referem-se ao conjunto das linhas de Sintra e de Cascais, cujo tráfego diário é de cerca de 300 mil passageiros.
Peço desculpa pela imprecisão, cuja correção não me parece contrariar o diagnóstico: pode reprimir-se a criminalidade, mas as suas causas são claras: insucesso escolar (cerca do dobro do resto da Europa), desemprego, desigualdade de rendimentos.
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