Este é um post dedicado aos senhores ministros de administração interna.
Que têm uma missão impossivel entre mãos: a de compatibilizar o sistema de gestão financeiro e económico com a qualidade de vida dos cidadãos (ou a tarefa impossivel é eles próprios, sem entrarem em dissidencia com os seus partidos, entenderem a correlação entre desemprego, insucesso escolar e livre funcionamento dos mercados por um lado e vandalismo por outro?)
Arderam bairros em Londres em 2011, ardem automóveis em Amiens em 2012, escorre sangue do telemóvel do ministro português em 2011 e em 2012.
Mister Pickles, Eric Pickles, é o ministro inglês.
Quis explicar, depois do exito do controle apertado sobre os jogos olimpicos, que os motins de 2011 tinham tido origem na vontade de jovens quererem usar vestuário e calçado de marca. Que tinha sido a ganancia , uma espécie de motim Gucci.
O meu comentário é que a ganancia dos vandalos foi crime, mas que a ganancia dos empresários e banqueiros não é considerada crime, mesmo que em consequencia das flutuações bolsistas e da cativação de terrenos para os bio-combustíveis o preço do trigo suba de forma a gerar fome, ou que a policia dispare sobre os mineiros em greve na mina de platina da África do Sul quando pedirma aumento do seu salário de 400 euros. Dito de outra forma, Mr Pickles concordará com a minha análise, que a ganancia dos banqueiros e empresários poderá gerar riqueza apesar da fome e dos disparos mortais, mas que a ganancia dos vandalos de Londres não (aliás, até aumenta a despesa pública com a canalização do dinheiro dos contribuintes para o reforço da policia).
Mr Pickles acrescentou uma segunda razão para os motins: a sensação de impunidade que levou ao rápido alastramento dos motins a outros bairros.
E contudo, Mr Pickles sabe melhor do que eu que o desemprego jovem, entre os 16 e os 24 anos, aumentou 16% , de 2011 para 2012, apesar do sucesso dos jogos olimpicos.
São 1.200.000 jovens desempregados.
Diria um deus grego que Mr Pickles e os seus pares brincam com o fogo, pelo menos até onde a força da policia anti-riot conseguir evitar que ele se propague.
Valls, Manuel Valls, é o ministro francês.
Depois da expulsão de ciganos e dos motins em Amiens, o senhor tenta explicar que o seu partido não é como o anterior que reprimiu discriminatoriamente.
Mas a tarefa é dificil, trata-se de conciliar o programa do partido socialista de defesa dos direitos humanos com a obediencia minima aos burocratas anti estado social que dominam a orientação ideológica da união europeia.
Finalmente, Macedo, Miguel Macedo é o ministro português.
Célebre pela sua frase "o meu telefone escorre sangue", que revela bom fundo, cansado de receber noticias de uma sociedade desestruturada, mas também ingenuidade de quem não tem conhecimentos para avaliar as justificações que lhe são dadas pelos dirigentes das entidades que tutela (resposta a um jornalista que lhe perguntara porque não tinham sido utilizados meios aéreos no combate ao incendio na Madeira: "dizem-me que não era possível utilizá-los").
Sinistralidade rodoviária, insuficiencia de resposta contra os incendios, violencia familiar com mortes quase diariamente, insegurança nas habitações de férias de estrangeiros no Algarve, criminalidade organizada... O senhor ministro terá alguem a estudar os dados destas questões e a tentar encontrar soluções no meio dos cortes? Ou caber-lhe-á também a tarefa de ocultar a importancia do insucesso e abandono escolar das ultimas gerações no panorama de violencia familiar e criminalidade? de esconder a incompatibilidade da teoria económica vigente, de deixar os mercados funcionarem livremente, com o bem estar social? Penso que não exagero, depois de ver uma reportagem da BBC (que evidentemente não passou cá) sobre a degradação das condições de vida da comunidade negra em Washington DC, capital do império dos mercados livres, onde a miséria sem apoios mas que não vota nas eleições para a presidencia, convive com o maior PIB do mundo.
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