O programa eleitoral do partido que ganhou as eleições falava em privatizar um canal da televisão pública. Não falava em fechar a RTP2. Não pode portanto invocar-se o cumprimento de um programa eleitoral.
Tampouco, em assunto tão sério e definido na constituição da Republica, se poderá invocar legitimidade para, sem 2/3 da vontade dos eleitores, fechar a RTP2.
O mal é admitir-se o ato bárbaro.
Depois, é só esperar uma oportunidade.
Certamente invocando que não há dinheiro (provavelmente os senhores da troika não exigirão o fecho da Antena 2, pois têm aspeto de ir a concertos na terra deles).
Falou ingenuamente o senhor primeiro ministro, acusando de histeria quem quis debater o tema (em democracia debatem-se os temas, não se chama "histérico" a quem não pensa como nós) que “ainda não sabiam que solução iam escolher, que se estava a estudar”.
Pena dizer isso, porque os profissionais destas coisas já vão sabendo há muito como se resolvem as questões do seu negócio.
É ingénuo e padece da sindroma do mundo fechado dos teóricos do movimento do sol à roda da terra dizer que as coisas só são compreendidas depois do próprio as compreender.
É por isso que a humanidade é gregária, para poder trabalhar em grupo e não estar à espera que tudo passe pelo entendimento de um dos da sua espécie.
E para completar a barbárie, o programa eleitoral do partido vencedor das eleições (com 29% dos votos relativamente ao universo dos eleitores inscritos) promete estender à RDP o mesmo procedimento.
Confirmam-se os receios depois de, há cerca de um ano, ouvir a entrevista do atual senhor secretário de estado da cultura à própria Antena 2.
Estes senhores provavelmente não ouvem a Antena 2.
Não devem ter preocupações com os temas que lá se debatem.
De música sinfónica, de câmara, de piano, orgão ou cravo, ou de ópera, devem fugir.
Nem uma orquestra de Antónios Vitorinos de Almeida conseguiria sensibilizar os seus tímpanos.
Por isso lhes dedico este post, sugerindo que sigam a ligação e ouçam, durante 60 minutos, o programa “Véu diáfano”, de Pedro Amaral, na Antena 2, dedicado ao erotismo na poesia renascentista de Guarini e na musica a capella (a vozes), também renascentista, de Jesualdo.
Poema Tirsi, morir volea, de Guarini:
“Tirsi queria morrer,
olhos nos olhos com aquela que adorava,
e ela lhe disse:
não morras já que eu também quero morrer
e quando ele fixava os olhos dela, belos, divinos,
a bela ninfa que sentia perto os mensageiros do amor, disse:
Ah, morre, meu amor,
que eu também morro
E Tirsi disse:
Ah, eu, minha vida, também morro
E assim morreram os afortunados amantes,
de morte tão suave e agradável,
que de assim morrer,
regressaram à vida”
Ouvir, especialmente se não entenderam como se pode regressar à vida depois de se morrer assim, em:
http://www.rtp.pt/programa/radio/p3110/c89047
(make love, not jeopardy of public service)
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