Vamos continuando, apesar de tudo, a tentar. Podem acusar o nosso povo de letargia perante a opressão dos economistas da escola de Chicago, sediados em Bruxelas ou nos partidos no poder. Mas vamos aos poucos tentando. Há sempre alguém que resiste, ou como escreveu William Yeats, "falta convicção aos melhores, e aos piores sobeja apaixonada intensidade" sem querer dividir os cidadãos e cidadãs em melhores e em piores.
segunda-feira, 27 de abril de 2015
25 de abril de 2015
Etiquetas:
25 de abril
"Todos os políticos são assassinos ou têm de possuir a vontade de assassinar"
Com a devida vénia ao DN e ao seu crítico de cinema João Lopes, esta citação é de Beau Willimon, argumentista da série House of cards, nos bastidores da presidencia dos USA.
Esta série deriva de outra da BBC de 1990, a partir de um romance de Michael Dobbs, conselheiro de Margaret Thatcher.
Uma das técnicas usadas no software de segurança dos sistemas processorizados de controle da sinalização ferroviária consiste em, a partir dos mesmo dados ou condições, fazer as verificações e determinar as saídas através de dois programas ou caminhos diferentes. Se as conclusões forem iguais, estará garantida a segurança da saída (acender o sinal permissivo, por exemplo).
Analogamente, sendo o pensamento de um conselheiro de Thatcher tão diferente do que penso já ter expresso neste blogue, posso concluir que é verdadeira a afirmação "Todos os políticos são assassinos ou têm de possuir a vontade de assassinar".
E disse mais, Beau Willimon: "Encontramos aqui a dramatização do que permite aos políticos fazer o indizível, seja facilitar a morte de um congressista ou mandar cem mil soldados para a guerra...As pessoas podem morrer doutras maneiras. Podem morrer de desespero. A pobreza continuada pode levar-nos ao cemitério. Feitas as contas, a política é uma indústria de vida ou morte".
Impressiona saber que as coisas podem mesmo ser assim.
Ser um crime mandar soldados australianos e neo-zelandeses desembarcar em Galipoli em 1915, mandar soldados portugueses como carne para canhão na Flandres em 1917, ou para matar e ser morto nas guerras coloniais de Salazar e Caetano. Ou telecomandar drones que matam crianças alheias à guerra.
Ou morrer de pobreza porque a escola de Chicago diz que o desemprego baixa os preços e estimula a creatividade dos empreendedores.
Ou nos corredores dos hospitais (como é possível que um secretário de Estado diga que o serviço nacional de saúde tem de obedecer à lei da oferta e da procura, quando qualquer sistema tem um tempo de reação para adaptar a sua oferta à procura; para evitar as falhas nesse período existe o conceito de reserva operacional; e existe ainda a lei de Say, que diz que diz que a oferta estimula a procura, coisa muito utilizada nas leis de tráfego, como na descompressão das pontas).
Criminosos, os políticos e os economistas que mandam reduzir os salários, as pensões, as despesas de segurança social, da educação, da saúde?
Esta série deriva de outra da BBC de 1990, a partir de um romance de Michael Dobbs, conselheiro de Margaret Thatcher.
Uma das técnicas usadas no software de segurança dos sistemas processorizados de controle da sinalização ferroviária consiste em, a partir dos mesmo dados ou condições, fazer as verificações e determinar as saídas através de dois programas ou caminhos diferentes. Se as conclusões forem iguais, estará garantida a segurança da saída (acender o sinal permissivo, por exemplo).
Analogamente, sendo o pensamento de um conselheiro de Thatcher tão diferente do que penso já ter expresso neste blogue, posso concluir que é verdadeira a afirmação "Todos os políticos são assassinos ou têm de possuir a vontade de assassinar".
E disse mais, Beau Willimon: "Encontramos aqui a dramatização do que permite aos políticos fazer o indizível, seja facilitar a morte de um congressista ou mandar cem mil soldados para a guerra...As pessoas podem morrer doutras maneiras. Podem morrer de desespero. A pobreza continuada pode levar-nos ao cemitério. Feitas as contas, a política é uma indústria de vida ou morte".
Impressiona saber que as coisas podem mesmo ser assim.
Ser um crime mandar soldados australianos e neo-zelandeses desembarcar em Galipoli em 1915, mandar soldados portugueses como carne para canhão na Flandres em 1917, ou para matar e ser morto nas guerras coloniais de Salazar e Caetano. Ou telecomandar drones que matam crianças alheias à guerra.
Ou morrer de pobreza porque a escola de Chicago diz que o desemprego baixa os preços e estimula a creatividade dos empreendedores.
Ou nos corredores dos hospitais (como é possível que um secretário de Estado diga que o serviço nacional de saúde tem de obedecer à lei da oferta e da procura, quando qualquer sistema tem um tempo de reação para adaptar a sua oferta à procura; para evitar as falhas nesse período existe o conceito de reserva operacional; e existe ainda a lei de Say, que diz que diz que a oferta estimula a procura, coisa muito utilizada nas leis de tráfego, como na descompressão das pontas).
Criminosos, os políticos e os economistas que mandam reduzir os salários, as pensões, as despesas de segurança social, da educação, da saúde?
Etiquetas:
Beau Willimon,
escola de Chicago,
guerra,
House of cards,
lei de Say
quinta-feira, 23 de abril de 2015
O sapateiro a domicílio, atividade transacionável
O DN relata o caso de um sapateiro que, numa carrinha-oficina, faz consertos ao domicílio. É uma oportunidade que soube aproveitar num tempo de crise, para além da oficina fixa que explora em Campolide. Chega a reparar sapatos Louboutin. O que me leva a pôr a hipótese de que, exercendo a atividade no setor terciário dos serviços, acaba também por ter uma componente transacionável, por sujeita à concorrencia e suscetível de poupar importações (o envio de dinheiro para o exterior para reparação no fabricante ou seu representante nacional). É portanto de aplaudir, sendo que, como empresário com atividade transacionável, deveria ter um desconto na TSU que paga.
Como Vitor Bento explicou, só as empresas que produzem bens ou serviços transacionáveis devem ser contempladas com benefícios fiscais de redução de TSU, coisa que não sei se terá sido considerada nas recentes propostas do PS.
De destacar ainda que procurou em vão "ajudas e incentivos", tendo no entanto conseguido obter um micro-crédito num banco que lhe permitiu arrancar com o negócio, há dois anos. A sua formação profissional foi obtida há 15 anos num estágio de formação profissional.
Como Vitor Bento explicou, só as empresas que produzem bens ou serviços transacionáveis devem ser contempladas com benefícios fiscais de redução de TSU, coisa que não sei se terá sido considerada nas recentes propostas do PS.
De destacar ainda que procurou em vão "ajudas e incentivos", tendo no entanto conseguido obter um micro-crédito num banco que lhe permitiu arrancar com o negócio, há dois anos. A sua formação profissional foi obtida há 15 anos num estágio de formação profissional.
Etiquetas:
sapateiro,
transacionável,
TSU
Manifestação contra a sub-concessão das empresas públicas de transporte em 22 de abril de 2015
Não ceda 1 metro, não fique sem carris.
O prazo para entrega das propostas de interessados na privatização da exploração dos transportes urbanos de Lisboa termina no próximo dia 15 de maio.
Já são públicos os comentários e as críticas das organizações de trabalhadores ao caderno de encargos e às condições em que a sub-concessão é proposta.
Estas são imagens da manifestação de dia 22 de abril de 2015 contra este processo.
Durante a minha vida profissional no metropolitano de Lisboa contactei pessoalmente com vários metropolitanos. Embora com uma rede pequena, o metropolitano de Lisboa apresentava comparativamente indicadores de desempenho proximos ou acima da média.
Por isso, o atual governo, na sua obsessão privatizadora, tripudia quando invoca a maior eficiência de gestão por entidades privadas (e contudo, o ganhador do concurso do Porto foi uma empresa pública espanhola, e os principais concorrentes em Lisboa também).
É pois natural que quem tem experiência nesta área de atividade considere a atuação do governo própria de ignorantes e inexperientes, lamentando que os bons técnicos das empresas ameaçadas sejam obrigados por dever profissional a cumprir as suas orientações.
Aliás, uma das principais críticas ao caderno de encargos é não definir os melhores indicadores de desempenho de uma empresa de transportes (por exemplo, não usa o indicador passageiros.km).
Junto nestas ligações o parecer do colega Vazão de Almeida sobre o caderno de encargos da sub-concessão e o parecer coordenado pelas organizações de trabalhadores:
http://1drv.ms/1G91M3U
quarta-feira, 22 de abril de 2015
Beacon Power
A propósito do anterior post
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2015/04/armazenamento-por-flywheels-e-por-sais.html
junto desenhos dos flywheels fabricados pela Beacon Power, retirados do seu site
http://beaconpower.com/
Os flywheels (motor-gerador com volante de inércia) não são a panaceia, mas integrados em redes de produção de energia eólica ou solar podem reduzir os inconvenientes das intermitencias. Juntamente com outros sistemas de armazenamento podem contribuir para a alimentação de comunidades a partir de renováveis, minimizando ou eliminando até o recurso aos combustíveis fósseis.
http://fcsseratostenes.blogspot.pt/2015/04/armazenamento-por-flywheels-e-por-sais.html
junto desenhos dos flywheels fabricados pela Beacon Power, retirados do seu site
http://beaconpower.com/
Os flywheels (motor-gerador com volante de inércia) não são a panaceia, mas integrados em redes de produção de energia eólica ou solar podem reduzir os inconvenientes das intermitencias. Juntamente com outros sistemas de armazenamento podem contribuir para a alimentação de comunidades a partir de renováveis, minimizando ou eliminando até o recurso aos combustíveis fósseis.
Etiquetas:
Beacon Power,
flywheels
domingo, 19 de abril de 2015
Aos trabalhadores do metropolitano de Lisboa, poucos dias antes do 25 de abril de 2015
Aos trabalhadores do metropolitano de Lisboa , poucos dias
antes do 25 de abril de 2015
Escrevo-vos na qualidade de reformado do metropolitano, que
sou desde há 4 anos.
Não posso apoiar-vos em tudo o que disse a Raquel Varela, a
quem envio um beijinho pela frontalidade da sua posição (se ela pode enviar-vos
publicamente um beijinho eu também posso enviar-lho).
Concordo que a greve, para além de um direito, é um dever e
um ato de civilização nas atuais circunstancias, e já digo porquê.
Mas não posso, por acreditar que os técnicos de equipamentos
e sistemas deviam ter um juramento como
os técnicos de medicina, de tudo fazer para que a “máquina” não pare, por mais
degradadas que estejam as condições, que sejam outros a decidir “desligar a
máquina”, não os técnicos.
Por acreditar que só por motivos que excedam as
possibilidades humanas o serviço de transporte possa parar.
Eu sei que assim a greve perde força, mas reparem que é como
no judo. O atual governo está a fazer o mesmo que o judoca que aproveita a
força do adversário para o desequilibrar.
O atual governo está a virar a força da greve contra os
próprios trabalhadores, destacando os prejuízos para os passageiros, também
trabalhadores e muitas vezes mais precários e mal pagos.
Também devia informar-se melhor e não admitir serviços
mínimos de 25% e, se acha que o prejuízo é grande, cumprir a lei e assumir a
responsabilidade pela requisição civil.
Também devia informar-se melhor porque em Portugal é tão
elevada a percentagem de deslocações em transporte automóvel em detrimento do
transporte coletivo, mais eficiente energeticamente (“país desenvolvido não é
aquele em que pobre anda de carro, é aquele em que rico anda de transporte coletivo”).
É fácil explicar que a privatização ou sub-concessão do
serviço de operação é um mau negócio para os contribuintes: os indicadores da
exploração do metro estão e estiveram, ao longo dos anos e quando comparados
com os outros metropolitanos, dentro ou acima da média.
Por isso, por mais que os grupos privados e o senhor
secretário de Estado repitam que “os privados sabem gerir melhor”, é difícil
acreditar que os custos da operação privada mais os lucros que os seus acionistas
vão exigir (a menos que estejam a praticar “dumping”, o que é proibido pela lei
internacional) sejam menores do que os custos da operação pública.
Eu penso que uma greve apenas com perturbações (pequenos
atrasos nas estações) para explicar os motivos aos passageiros e aproveitar
para recordar as medidas de segurança (tal como se faz nos aviões) e o
desinvestimento no metro seria eficaz, com uma boa preparação da opinião
pública nos dias anteriores (denunciando os vencimentos inflacionados que a
senhora Moura Guedes expôs na televisão, por exemplo).
É evidente que ficaria claro que as sub-concessões se
integram na estratégia geral da transferência da parte lucrativa pública para o
privado e da redução da parte do trabalho no rendimento, coisa vista com bons
olhos pelos burocratas de Bruxelas, do BCE e do FMI.
Explico agora porque penso que a greve é um ato de
civilização nas atuais circunstancias.
Ser reformado há uns anos já me dá uma perspetiva abrangente
sobre o que foi a evolução do metro nos últimos 40 anos.
Embora seja uma rede relativamente pequena e tenham sido
cometidos erros por gastos supérfluos e por incoerência do desenvolvimento da
rede (evidentemente não imputáveis a quem trabalhava no metro), o nível de exigência
de qualificação dos trabalhadores para o projeto e construção (partilha com os
trabalhadores das firmas de construção civil e de fornecedores de equipamentos e
sistemas), e para a operação e manutenção da rede foi e é muito elevado.
Transportar pessoas em metropolitanos com requisitos de
segurança é uma função complexa e de grande responsabilidade.
É possível que os senhores da secretaria de Estado, do
governo em geral e dos comentadores que os servem não tenham experiencia profissional
que lhes permita compreender isso, ou pelo menos aceitar quando tal colide com
a sua política de desvalorização de quem trabalha. Mas eu posso atestar, tendo
conhecido diretamente na minha vida profissional mais metropolitanos do que os
consultores que trabalham para aqueles senhores, que é complexo construir,
operar e manter um metropolitano.
Os trabalhadores do metro, ao longo desses 40 anos e atualmente,
têm assim direito ao reconhecimento da comunidade e não merecem o tratamento
que lhes é dado pelo governo e seus mandatados.
Era isto, mais ou menos, que vos queria dizer, desejando-vos
sucesso.
Com consideração,
Fernando Santos e Silva
reformado do metropolitano de Lisboa, onde teve o número
3071
Etiquetas:
greve,
metropolitano de Lisboa
Meu caríssimo DN
Meu caríssimo DN
Escrevo-lhe para lhe chamar a atenção para o perigo em que vem incorrendo já há uns tempos em dar guarida nas suas páginas a perigosos esquerdistas de grupos internacionais de interesses inconfessáveis que põem em causa a excelência das medidas e das orientações do atual governo e seus patronos do BCE,FMI e UE.
O perigo é, concretamente, permitir que cheguem ao público leitor, que também é eleitor, informações e dados que demonstram a falta de fundações sólidas para a versão do atual governo.
Corre-se assim o risco de, nas próximas eleições, os eleitores não votarem nos partidos que compõem a atual maioria.
Não bastavam as citações de prémios Nobel como Stiglitz e Krugmann, embora a sua credibilidade outros colaboradores do DN já foram apoucando.
Também foi dado pelo DN algum relevo a Thomas Picketti e ao seu Capital no século XXI, baseando-se em dados reais demonstrativos de que as desigualdades só podem aumentar enquanto o crescimento do rendimento da parte financeira for superior ao de quem trabalha. Mas como o livro tem quase 900 páginas e é duro de roer, talvez não haja problema com o sentido de voto dos eleitores.
Mais grave foi o DN ter publicada há pouco uma análise de um editor do Financial Times, Munchau, demonstrando que as ferramentas macroeconómicas dos decisores europeus são inuteis.
Que escandalo, contestar assim, despudoradamente, os dogmas trazidos á humanidade por Haiek, Friedman e ou fundamentalistas da escola de Chicago.
É verdade que o DN tem quem lhe responda a um nível superior, como aquele senhor diretor de uma revista espanhola que acredita na regressividade dos impostos e no sucesso da iniciativa privada por si só, ou como o evangélico João Cesar das Neves, para quem os reformados acima de 600 euros são uns privilegiados (já naquela historieta se contava que o ministro sueco teria respondido a Otelo, orgulhoso por ter acabado com os ricos em Portugal, que na Suécia tinham optado por acabar com os pobres).
É verdade que só fica bem a um governo ter uma comunicação social que lhe aponte erros ou omissões, desde que o faça de modo a não atingir a essencia da sua governação.
Esta é, como se sabe, a transferencia do controle da atividade económica e financeira (o pouco que resta) das entidades públicas para entidades privadas, dizendo sempre que o Estado fica com a função de regulador (apesar de só poder exercer a função de regulador quem tem "know how" e este só se consegue se se exercer o mesmo negócio).
Deixar que o interesse individual dos acionistas das empresas privadas, por iluminação divina como Bossuet dizia da origem do poder do soberano absoluto, contribuam para o interesse coletivo.
Repetir isso muitas vezes para que os eleitores acreditem com muita fé, por mais que os dados e a realidade da degradação do serviço nacional de saúde, da segurança social, do sistema educativo, dos níveis do emprego, mostrem o contrário.
Mas há que não exagerar, que não ultrapassar linhas vermelhas.
A entrevista a Mazzucato foi uma ultrapassagem da linha vermelha. A senhora vem demonstrar que para termos crescimento temos de ter, apesar da dívida pública, investimento não só privado mas também público, porque este gera, arrasta, aquele. Além de atacar o desemprego. E sabe-se que isso é verdade, se olharmos para a fórmula do saldo orçamental, igual ao investimento privado ou com fundos comunitários, menos as poupanças, menos as importações e mais as exportações.
Aqui, porém, o comportamento do DN tem sido irrepreensível, uma vez que tem dado destaque às orientações do senhor professor de direito da universidade de Florença que, sem experiencia industrial, tem desviado os fundos comunitários dos investimentos nas infraestruturas que fazem falta ao país para miríficas medidas de aumento de competitividade. Omitir assim as recomendações europeias nos corredores ferroviários de passageiros e mercadorias e no privilégio da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis é um bom contributo para que o país mantenha o seu ritmo lento de crescimento quando comparado com a restante UE, embora naturalmente se repita à saciedade que essas orientações estão no papel e são discutidas nas cimeiras (não se passa é à fase seguinte, sem a qual não há fundos comunitários, que é a elaboração dos projetos,coisa desagradável para quem não tem formação técnica).
Espera-se assim que a entrevista de Mazzucato caia no esquecimento, para que o atual governo possa continuar a repetir que só os investidores privados sabem gerir bem os investimentos. E que não se fale muito no investimento público do KfW, o banco de fomento alemão que se farta de investir em energias renováveis, nem no financiamento público do GPS, do Google Earth, da NASA, nem da Apple nos seus tempos de garagem, nem no financiamento das ligações entre a ciencia e a industria dos centros Fraunhofer alemães, sem esquecer o caso das comunicações por satélite da rede Iridium. Nem que se explique como, sendo a produtividade um quociente, tal como a relação dívida por PIB, a maneira de aumentar a produtividade é aumentar a produção (o numerador) a um ritmo mais elevado do que o fator de produção (o denominador, os recursos humanos, por exemplo, em vez de os despedir). E que para baixar a relação dívida por PIB, o melhor é aumentar o PIB (o denominador) a um ritmo mais elevado do que a dívida (o numerador).
Ainda por cima, a senhora veio dizer que os sábios dirigentes europeus fizeram um diagnóstico errado (polarizado na questão quem gasta demasiado ou não) e deram receita errada (limite de 3% para o défice, que nem a Finlandia cumpre) em vez de "obrigar" a investimento público em atividades inovadoras (produção renovável, ligação ciencia-industria).
Não devemos portanto contrariar o atual governo quando repete que os dirigentes europeus que impuseram a austeridade "tout court"é que sabem. Talvez porque, se se realizasse a reforma estrutural de que falou Mazzucato, a distribuição da nova riqueza deixaria de se fazer como atualmente e é natural que haja oposição a essa mudança de paradigma, desde os grandes escritórios de advogados/deputados, á classe politica oriunda das juventudes partidárias, ao setor não transacionável.
Com os melhores cumprimentos
Escrevo-lhe para lhe chamar a atenção para o perigo em que vem incorrendo já há uns tempos em dar guarida nas suas páginas a perigosos esquerdistas de grupos internacionais de interesses inconfessáveis que põem em causa a excelência das medidas e das orientações do atual governo e seus patronos do BCE,FMI e UE.
O perigo é, concretamente, permitir que cheguem ao público leitor, que também é eleitor, informações e dados que demonstram a falta de fundações sólidas para a versão do atual governo.
Corre-se assim o risco de, nas próximas eleições, os eleitores não votarem nos partidos que compõem a atual maioria.
Não bastavam as citações de prémios Nobel como Stiglitz e Krugmann, embora a sua credibilidade outros colaboradores do DN já foram apoucando.
Também foi dado pelo DN algum relevo a Thomas Picketti e ao seu Capital no século XXI, baseando-se em dados reais demonstrativos de que as desigualdades só podem aumentar enquanto o crescimento do rendimento da parte financeira for superior ao de quem trabalha. Mas como o livro tem quase 900 páginas e é duro de roer, talvez não haja problema com o sentido de voto dos eleitores.
Mais grave foi o DN ter publicada há pouco uma análise de um editor do Financial Times, Munchau, demonstrando que as ferramentas macroeconómicas dos decisores europeus são inuteis.
Que escandalo, contestar assim, despudoradamente, os dogmas trazidos á humanidade por Haiek, Friedman e ou fundamentalistas da escola de Chicago.
É verdade que o DN tem quem lhe responda a um nível superior, como aquele senhor diretor de uma revista espanhola que acredita na regressividade dos impostos e no sucesso da iniciativa privada por si só, ou como o evangélico João Cesar das Neves, para quem os reformados acima de 600 euros são uns privilegiados (já naquela historieta se contava que o ministro sueco teria respondido a Otelo, orgulhoso por ter acabado com os ricos em Portugal, que na Suécia tinham optado por acabar com os pobres).
É verdade que só fica bem a um governo ter uma comunicação social que lhe aponte erros ou omissões, desde que o faça de modo a não atingir a essencia da sua governação.
Esta é, como se sabe, a transferencia do controle da atividade económica e financeira (o pouco que resta) das entidades públicas para entidades privadas, dizendo sempre que o Estado fica com a função de regulador (apesar de só poder exercer a função de regulador quem tem "know how" e este só se consegue se se exercer o mesmo negócio).
Deixar que o interesse individual dos acionistas das empresas privadas, por iluminação divina como Bossuet dizia da origem do poder do soberano absoluto, contribuam para o interesse coletivo.
Repetir isso muitas vezes para que os eleitores acreditem com muita fé, por mais que os dados e a realidade da degradação do serviço nacional de saúde, da segurança social, do sistema educativo, dos níveis do emprego, mostrem o contrário.
Mas há que não exagerar, que não ultrapassar linhas vermelhas.
A entrevista a Mazzucato foi uma ultrapassagem da linha vermelha. A senhora vem demonstrar que para termos crescimento temos de ter, apesar da dívida pública, investimento não só privado mas também público, porque este gera, arrasta, aquele. Além de atacar o desemprego. E sabe-se que isso é verdade, se olharmos para a fórmula do saldo orçamental, igual ao investimento privado ou com fundos comunitários, menos as poupanças, menos as importações e mais as exportações.
Aqui, porém, o comportamento do DN tem sido irrepreensível, uma vez que tem dado destaque às orientações do senhor professor de direito da universidade de Florença que, sem experiencia industrial, tem desviado os fundos comunitários dos investimentos nas infraestruturas que fazem falta ao país para miríficas medidas de aumento de competitividade. Omitir assim as recomendações europeias nos corredores ferroviários de passageiros e mercadorias e no privilégio da produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis é um bom contributo para que o país mantenha o seu ritmo lento de crescimento quando comparado com a restante UE, embora naturalmente se repita à saciedade que essas orientações estão no papel e são discutidas nas cimeiras (não se passa é à fase seguinte, sem a qual não há fundos comunitários, que é a elaboração dos projetos,coisa desagradável para quem não tem formação técnica).
Espera-se assim que a entrevista de Mazzucato caia no esquecimento, para que o atual governo possa continuar a repetir que só os investidores privados sabem gerir bem os investimentos. E que não se fale muito no investimento público do KfW, o banco de fomento alemão que se farta de investir em energias renováveis, nem no financiamento público do GPS, do Google Earth, da NASA, nem da Apple nos seus tempos de garagem, nem no financiamento das ligações entre a ciencia e a industria dos centros Fraunhofer alemães, sem esquecer o caso das comunicações por satélite da rede Iridium. Nem que se explique como, sendo a produtividade um quociente, tal como a relação dívida por PIB, a maneira de aumentar a produtividade é aumentar a produção (o numerador) a um ritmo mais elevado do que o fator de produção (o denominador, os recursos humanos, por exemplo, em vez de os despedir). E que para baixar a relação dívida por PIB, o melhor é aumentar o PIB (o denominador) a um ritmo mais elevado do que a dívida (o numerador).
Ainda por cima, a senhora veio dizer que os sábios dirigentes europeus fizeram um diagnóstico errado (polarizado na questão quem gasta demasiado ou não) e deram receita errada (limite de 3% para o défice, que nem a Finlandia cumpre) em vez de "obrigar" a investimento público em atividades inovadoras (produção renovável, ligação ciencia-industria).
Não devemos portanto contrariar o atual governo quando repete que os dirigentes europeus que impuseram a austeridade "tout court"é que sabem. Talvez porque, se se realizasse a reforma estrutural de que falou Mazzucato, a distribuição da nova riqueza deixaria de se fazer como atualmente e é natural que haja oposição a essa mudança de paradigma, desde os grandes escritórios de advogados/deputados, á classe politica oriunda das juventudes partidárias, ao setor não transacionável.
Com os melhores cumprimentos
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Armazenamento por flywheels e por sais térmicos; as coisas mexem-se
O colega Mário Ribeiro, sempre atento, enviou-me a notícia da construção de uma subestação na Irlanda com flywheels (volantes de inércia no vácuo com rolamentos magnéticos) como dispositivos de armazenamento da energia elétrica produzida em excesso nos períodos de fraco consumo.
Eu, que sou da escola clássica, diria que o despacho da energia não devia depender para além do razoável das questões económicas, mas no contexto atual a ideia é armazenar a energia elétrica nos períodos de baixo consumo em que a remuneração do MWh é baixa (pouca procura), armazená-la e vendê-la depois a melhor preço nos períodos de maior procura (pontas do diagrama de cargas).
Uma pequena incursão pela wikipedia informou-me que a subestação poderá fornecer 20 MW durante 15 minutos, ou 5 MWh. Será um princípio, uma experiencia piloto como outras na Irlanda (foram estendidos cabos submarinos entre a Irlanda e a Inglaterra para alimentar consumos na Inglaterra nos períodos de vazio na Irlanda.
São experiencias de que os beneficiários dos CMEC não gostam, mas parecem-me muito válidas.
Cada volante de inércia pode fornecer 100kW durante 15 minutos, isto é, pode armazenar cerca de 25 kWh. São fabricados pela Beacon Power, a estimativa de custos é de 250 € por kW instalado, e usam a mesma tecnologia dos centrifugadores para produção de uranio enriquecido (vácuo, rolamentos magnéticos sem contacto).
As formas de armazenamento da energia elétrica podem ser as seguintes (é uma pena o atual governo não querer candidatar o desenvolvimento destas formas a fundos comunitários, com a desculpa de que não há dinheiro e que se gastou muito em infraestruturas):
- bombagem em centrais hidráulicas reversíveis
- baterias estacionárias
-depósitos de ar comprimido (a produção de ar comprimido será mais rentável se descentralizada, isto é, em postos locais de produção alimentados pela rede elétrica)
- produção descentralizada por eletrólise de hidrogénio, especialmente para fins de tração rodoviária (idem - 1 kg de hidrogénio consome 60 kWh)
- volantes de inércia (flywheels)
- sais térmicos em centrais solares com concentradores e sais térmicos para conservar o calor depois do por do sol (solução já muito utilizada em Espanha e na Califórnia)
Foi pois com satisfação que na edição da revista Ingenium da Ordem dos Engenheiros de janeiro-fevereiro de 2015 encontrei um artigo dscritivo das vantagens das centrais hibridas de concentradores solares com sais térmicos e back up com combustíveis fósseis (eu preferiria sem a intervenção fóssil, com a diversificação das formas de produção renovável mesmo à custa de menores rendimentos, e a redução até 3% da rentabilidade das PPP de energia, sendo certo que apesar do atual governo as ter reduzido a 8% se deve assinalar o facto como positivo) .
O artigo traça uma perspetiva interessante do panorama energético ibérico, e é da autoria dos profs H.M.I.Pousinho, V.M.F.Mendes, M.Colares Pereira e C.Pereira Cabrita, das universidades de Évora, ISEL e Beira Interior.
Isto é, a coisa irá, vai mexendo, será imparável, apesar do baixo preço do petróleo e do gás natural e da força dos seus comercializadores.
PS - Cheguei a estudar as experiencias de flywheels no metropolitano de Londres. Eram instalados nas subestações de tração, absorvendo a energia de regeneração da travagem dos comboios e devolviam-na, descontando o rendimento, claro, no arranque dos comboios. Penso que o metro de Hamburgo tambem teve uma instalação experimental. Parece que não vingaram as experiencias. Tambem se pensou montá-los nas automotoras (há muitos anos circularam num metro dos USA esses volantes de inércia). Penso que os construtores de autocarros elétricos tambem estão a experimentar isto. E os construtores de fórmula 1 para absorver a energia de travagem e devolvê-la nas acelerações. Enfim, admirável mundo da tecnologia de aplicações à mobilidade. Mas sem certezas... o petróleo está baratinho e o gás não é problema...
Eu, que sou da escola clássica, diria que o despacho da energia não devia depender para além do razoável das questões económicas, mas no contexto atual a ideia é armazenar a energia elétrica nos períodos de baixo consumo em que a remuneração do MWh é baixa (pouca procura), armazená-la e vendê-la depois a melhor preço nos períodos de maior procura (pontas do diagrama de cargas).
Uma pequena incursão pela wikipedia informou-me que a subestação poderá fornecer 20 MW durante 15 minutos, ou 5 MWh. Será um princípio, uma experiencia piloto como outras na Irlanda (foram estendidos cabos submarinos entre a Irlanda e a Inglaterra para alimentar consumos na Inglaterra nos períodos de vazio na Irlanda.
São experiencias de que os beneficiários dos CMEC não gostam, mas parecem-me muito válidas.
Cada volante de inércia pode fornecer 100kW durante 15 minutos, isto é, pode armazenar cerca de 25 kWh. São fabricados pela Beacon Power, a estimativa de custos é de 250 € por kW instalado, e usam a mesma tecnologia dos centrifugadores para produção de uranio enriquecido (vácuo, rolamentos magnéticos sem contacto).
As formas de armazenamento da energia elétrica podem ser as seguintes (é uma pena o atual governo não querer candidatar o desenvolvimento destas formas a fundos comunitários, com a desculpa de que não há dinheiro e que se gastou muito em infraestruturas):
- bombagem em centrais hidráulicas reversíveis
- baterias estacionárias
-depósitos de ar comprimido (a produção de ar comprimido será mais rentável se descentralizada, isto é, em postos locais de produção alimentados pela rede elétrica)
- produção descentralizada por eletrólise de hidrogénio, especialmente para fins de tração rodoviária (idem - 1 kg de hidrogénio consome 60 kWh)
- volantes de inércia (flywheels)
- sais térmicos em centrais solares com concentradores e sais térmicos para conservar o calor depois do por do sol (solução já muito utilizada em Espanha e na Califórnia)
Foi pois com satisfação que na edição da revista Ingenium da Ordem dos Engenheiros de janeiro-fevereiro de 2015 encontrei um artigo dscritivo das vantagens das centrais hibridas de concentradores solares com sais térmicos e back up com combustíveis fósseis (eu preferiria sem a intervenção fóssil, com a diversificação das formas de produção renovável mesmo à custa de menores rendimentos, e a redução até 3% da rentabilidade das PPP de energia, sendo certo que apesar do atual governo as ter reduzido a 8% se deve assinalar o facto como positivo) .
O artigo traça uma perspetiva interessante do panorama energético ibérico, e é da autoria dos profs H.M.I.Pousinho, V.M.F.Mendes, M.Colares Pereira e C.Pereira Cabrita, das universidades de Évora, ISEL e Beira Interior.
Isto é, a coisa irá, vai mexendo, será imparável, apesar do baixo preço do petróleo e do gás natural e da força dos seus comercializadores.
PS - Cheguei a estudar as experiencias de flywheels no metropolitano de Londres. Eram instalados nas subestações de tração, absorvendo a energia de regeneração da travagem dos comboios e devolviam-na, descontando o rendimento, claro, no arranque dos comboios. Penso que o metro de Hamburgo tambem teve uma instalação experimental. Parece que não vingaram as experiencias. Tambem se pensou montá-los nas automotoras (há muitos anos circularam num metro dos USA esses volantes de inércia). Penso que os construtores de autocarros elétricos tambem estão a experimentar isto. E os construtores de fórmula 1 para absorver a energia de travagem e devolvê-la nas acelerações. Enfim, admirável mundo da tecnologia de aplicações à mobilidade. Mas sem certezas... o petróleo está baratinho e o gás não é problema...
Etiquetas:
armazenamento de energia elétrica,
energia
Atlântida, Atlântida, Anticiclone, Anticiclone
http://www.envc.pt/navios/n258/navio258.htm
http://videos.sapo.pt/tlv5LMpPtPQJfslCPirC
Com a devida vénia à revista Ingenium da Ordem dos Engenheiros, edição de janeiro-fevereiro de 2015, comento a noticia da encomenda pelo governo de Timor Leste ao estaleiro da Figueira da Foz de um navioi ferry que, tudo indica, utilizará o material adquirido pelos estaleiros de Viana do Castelo para construção do Anticiclone, "irmão" mais novo do Atlântida. Penso que algum deste material, adquirido apesar das resistencias burocráticas "abençoadas" pelo próprio ministério da defesa, já respondia a algumas questões ligadas à limitação da velocidade (o Atlântida está claramente submotorizado face aos acrescentos que sofreu para correção do projeto inicial (por exemplo, a comporta de 60 toneladas para acesso dos veículos conforme o normativo subsequente ao afundamento do "Estónia" posterior ao projeto).
Entretanto, o infeliz Atlântida aguarda a venda, sabe-se lá a quem, por quem o comprou por 8,7 milhões de euros (posto à bvenda por 50 milhões). A Douro Azul desistiu dos cruzeiros no rio Amazonas , provavelmente porque alguem explicou que não se altera o projeto de um navio porque pode baixar o nivel de segurança.
Estamos então nesta situação: o estaleiro de Viana do Castelo deixou de concorrer com os outros estaleiros, nomeadamente os de Aveiro e da Figueira da Foz e pode agora produzir torres eólicas, É como se tivesse sido comprado pela concorrencia. Não esquecer o papel decisivo do ministério da defesa, atrasando a autorização das encomendas de material para o Anticiclone, para os patrulheiros, para os evanescidos asfalteiros venezuelanos (há que tempos que não se fala desta indeterminação...). Nenhuma empresa pode funcionar assim, Depois foi fácil crucificá-la na praça pública.
Aplausos. Para uma atuação vergonhosa na senda da desindustrialização do país.
http://videos.sapo.pt/tlv5LMpPtPQJfslCPirC
Com a devida vénia à revista Ingenium da Ordem dos Engenheiros, edição de janeiro-fevereiro de 2015, comento a noticia da encomenda pelo governo de Timor Leste ao estaleiro da Figueira da Foz de um navioi ferry que, tudo indica, utilizará o material adquirido pelos estaleiros de Viana do Castelo para construção do Anticiclone, "irmão" mais novo do Atlântida. Penso que algum deste material, adquirido apesar das resistencias burocráticas "abençoadas" pelo próprio ministério da defesa, já respondia a algumas questões ligadas à limitação da velocidade (o Atlântida está claramente submotorizado face aos acrescentos que sofreu para correção do projeto inicial (por exemplo, a comporta de 60 toneladas para acesso dos veículos conforme o normativo subsequente ao afundamento do "Estónia" posterior ao projeto).
Entretanto, o infeliz Atlântida aguarda a venda, sabe-se lá a quem, por quem o comprou por 8,7 milhões de euros (posto à bvenda por 50 milhões). A Douro Azul desistiu dos cruzeiros no rio Amazonas , provavelmente porque alguem explicou que não se altera o projeto de um navio porque pode baixar o nivel de segurança.
Estamos então nesta situação: o estaleiro de Viana do Castelo deixou de concorrer com os outros estaleiros, nomeadamente os de Aveiro e da Figueira da Foz e pode agora produzir torres eólicas, É como se tivesse sido comprado pela concorrencia. Não esquecer o papel decisivo do ministério da defesa, atrasando a autorização das encomendas de material para o Anticiclone, para os patrulheiros, para os evanescidos asfalteiros venezuelanos (há que tempos que não se fala desta indeterminação...). Nenhuma empresa pode funcionar assim, Depois foi fácil crucificá-la na praça pública.
Aplausos. Para uma atuação vergonhosa na senda da desindustrialização do país.
terça-feira, 14 de abril de 2015
A macroeconomia precisa de novos instrumentos para desafiar o pensamento dominante
Poderia pensar-se que seria a petulância dum ignorante de economia política coomo é o humilde escriba deste blogue a escrever a frase do título.
Mas não, a frase é o título de um artigo no Finantial Times de Wolfgang Munchau, apreciado especialista editor do FT, e que o DN tambem publicou em 13 de abril de 2015.
Este blogue já criticou , a propósito do filme "Inside Trading", dois dos atores da crise financeira de 2007-2008, Lawrence Summers e Ben Bernanke. O artigo de Munchau parte das justificações destes dois para a crise, estagnação secular e excesso de poupanças contrário ao investimento, criticando-as. Que as teorias e modelos macroeconómicos atuais não conseguem explicar porque se está em estagnação há tanto tempo e porque há um excesso de poupança contrário ao investimento (por mais que o atual governo ache que o PIB português está a crescer) e são necessárias novas ferramentas que existem noutras disciplinas, mas não na macroeconomia (será o que eu costumo dizer, que a política económica e financeira do atual gverno é a de um contabilista que se limita a alinhar as colunas do deve e haver, sem entender os mecanismos físicos que fazem realmente funcionar a economia, sem entender o conceito de produto e de realização humana associada à produção?).
Critica matemática aos modelos de equilíbrio geral dinamico estocástico (DSGE):
1 - não existe um equilibrio macroeconómico que faça retornar a economia ao estado anterior ao choque. Em Física estudam-se as curvas de histerese que explicam isto. As curvas dos rendimentos decrescentes na zona da armadilha da pobreza tambem o ilustram. Não se podem acusar os macroeeconomistas de ignorantes, talvez não queiram saber, por uma questão de fé dogmática
2 - não existe uma relação universal e linear entre acontecimentos. Estudam-se também na Física as curvas de saturação, e de segundo grau, e logaritmicas, e também de baixa correlação. Mais uma vez deveriam os macroeconmistas submeterem as suas leis à realidade e não querer que a realidade se submeta aos seus dogmas (por exemplo, reduzir o valor do trabalho, como quer o primeiro ministro atual do governo português para "aumentar a competitividade", quando é certo que a competitividade só se aumenta com qualificação)
3 - não existem leis universais que sejam válidas ao longo de todo o domínio da mesma forma. Em Física estudam-se as condições aos limites, ou de fronteira, em qualquer fenómeno físico. O efeito de uma baixa das taxas de juro quando próximas de zero não é o mesmo para valores mais altos. São conceitos simples que o dogmatismo não quer aceitar.
Como consequencia da obstinação dos macroeconomistas, que segundo Munchau "continuam a remexer nos seusmodelos esperando que nenhum politico os vá usar" (penso que a ironia significa que os macroeconomistas prefeririam que os seus modelos não saissem das universidades, possivelmente porque as experiencias de Reagan e de Thatcher, à distancia, não pareçam brilhantes; infelizmente, pelo menos em Portugal, a aplicação da "sebenta" macroeconómica do pensamento dominante nas universidades tem sido aplicada pelo atual governo; Munchu critica tambem a utilização destes modelos pelo BCE, conduzindo a previsões demasiado otimistas).
Munchau recorda ainda o economista Hyman Minsky, que desenvolveu análises para compreensão de crises e que "foi banido pelo poder estabelecido", e manifesta receios de que a derrota dos atuais modelos virá de fora da disciplina e de forma brutal.
Interessante, não é? Ouvir uma voz dissonante do pensamento dominante das universidades apoiantes dos economistas que nos dirigem.
Ao meos ainda existe pluralismo no DN.
Mas não, a frase é o título de um artigo no Finantial Times de Wolfgang Munchau, apreciado especialista editor do FT, e que o DN tambem publicou em 13 de abril de 2015.
Este blogue já criticou , a propósito do filme "Inside Trading", dois dos atores da crise financeira de 2007-2008, Lawrence Summers e Ben Bernanke. O artigo de Munchau parte das justificações destes dois para a crise, estagnação secular e excesso de poupanças contrário ao investimento, criticando-as. Que as teorias e modelos macroeconómicos atuais não conseguem explicar porque se está em estagnação há tanto tempo e porque há um excesso de poupança contrário ao investimento (por mais que o atual governo ache que o PIB português está a crescer) e são necessárias novas ferramentas que existem noutras disciplinas, mas não na macroeconomia (será o que eu costumo dizer, que a política económica e financeira do atual gverno é a de um contabilista que se limita a alinhar as colunas do deve e haver, sem entender os mecanismos físicos que fazem realmente funcionar a economia, sem entender o conceito de produto e de realização humana associada à produção?).
Critica matemática aos modelos de equilíbrio geral dinamico estocástico (DSGE):
1 - não existe um equilibrio macroeconómico que faça retornar a economia ao estado anterior ao choque. Em Física estudam-se as curvas de histerese que explicam isto. As curvas dos rendimentos decrescentes na zona da armadilha da pobreza tambem o ilustram. Não se podem acusar os macroeeconomistas de ignorantes, talvez não queiram saber, por uma questão de fé dogmática
2 - não existe uma relação universal e linear entre acontecimentos. Estudam-se também na Física as curvas de saturação, e de segundo grau, e logaritmicas, e também de baixa correlação. Mais uma vez deveriam os macroeconmistas submeterem as suas leis à realidade e não querer que a realidade se submeta aos seus dogmas (por exemplo, reduzir o valor do trabalho, como quer o primeiro ministro atual do governo português para "aumentar a competitividade", quando é certo que a competitividade só se aumenta com qualificação)
3 - não existem leis universais que sejam válidas ao longo de todo o domínio da mesma forma. Em Física estudam-se as condições aos limites, ou de fronteira, em qualquer fenómeno físico. O efeito de uma baixa das taxas de juro quando próximas de zero não é o mesmo para valores mais altos. São conceitos simples que o dogmatismo não quer aceitar.
Como consequencia da obstinação dos macroeconomistas, que segundo Munchau "continuam a remexer nos seusmodelos esperando que nenhum politico os vá usar" (penso que a ironia significa que os macroeconomistas prefeririam que os seus modelos não saissem das universidades, possivelmente porque as experiencias de Reagan e de Thatcher, à distancia, não pareçam brilhantes; infelizmente, pelo menos em Portugal, a aplicação da "sebenta" macroeconómica do pensamento dominante nas universidades tem sido aplicada pelo atual governo; Munchu critica tambem a utilização destes modelos pelo BCE, conduzindo a previsões demasiado otimistas).
Munchau recorda ainda o economista Hyman Minsky, que desenvolveu análises para compreensão de crises e que "foi banido pelo poder estabelecido", e manifesta receios de que a derrota dos atuais modelos virá de fora da disciplina e de forma brutal.
Interessante, não é? Ouvir uma voz dissonante do pensamento dominante das universidades apoiantes dos economistas que nos dirigem.
Ao meos ainda existe pluralismo no DN.
Citação de Christine Lagarde diretora do FMI
Em entrevista a vários jornais europeus em 11 de abril de 2015, A senhora diretora do FMI descreveu a situação da economia mundial como uma nova mediocridade porque o crescimento económico médio mundial é de 3,5% mas a natureza desse crescimento é problemática. Porque "não estamos a criar os postos de trabalho necessários e a disposição dos que são criados não responde às necessidades."
Pena não explicar quais são os postos de trabalho necessários (penso que são os dos setores transacionáveis).
Pena continuar a invocar a produtividade (nada a objetar, se não significasse aumento de desemprego e se aumentasse o bem estar das populações).
Pena continuar a ter fé na austeridade (nada a objetar se permitisse o investimento e o crescimento nos países endividados).
Pena continuar a crer nos dogmas macroeconómicos de Haiek e Friedman.
Pena não reconhecer como primeira prioridade o combate ao desemprego.
Pena não explicar quais são os postos de trabalho necessários (penso que são os dos setores transacionáveis).
Pena continuar a invocar a produtividade (nada a objetar, se não significasse aumento de desemprego e se aumentasse o bem estar das populações).
Pena continuar a ter fé na austeridade (nada a objetar se permitisse o investimento e o crescimento nos países endividados).
Pena continuar a crer nos dogmas macroeconómicos de Haiek e Friedman.
Pena não reconhecer como primeira prioridade o combate ao desemprego.
Citação de Serge Haroche, prémio Nobel da Física de 2012
Com a devida vénia ao DN de 12 de abril de 2015, cito Serge Haroche, premio Nobel de Física de 2012: (o meu trabalho na física quantica) "vai trazer inovações tecnológicas, mas é difícil prever quais. As que hoje temos provêm da investigação fundamental feita no século XX, mas nessa altura não eram previsíveis. O laser tem hoje aplicações essenciais, mas as pessoas que o inventaram não tinham qualquer ideia para que poderia servir. O mesmo para a ressonancia magnética, que revolucionou o diagnóstico médico. A investigação fundamental permite compreender o funcionamento das coisas, o que dá meios para inventar novos dispositivos".
"Em França os lugares na investigação para os jovens são cada vez mais raros... quando tento explicar ao poder político que é um erro grave deixar uma geração fora do sistema científico eles respondem com a crise económica, que não há dinheiro. Mas daqui a uns anos, quando a crise acabar, sera tarde demais, porque teremos sacrificado uma geração. Além disso, a ciencia precisa de continuidade, para que a experiencia se transmita entre gerações. Em geral, os países do sul da Europa têm neste momento esse problema...há uma fuga de cérebros e não há postos suficientes para os investigadores em geral."
O humilde escriba deste blogue nunca teve vocação para a investigação fundamental, mas pensa, provavelmente com imodéstia, que colaborou em aplicações úteis para a comunidade de alguns resultados dessa investigação.
Por isso, também pensa ter alguma razão em preocupar-se com a política imobilizadora e danosa para o futuro que o atual governo tem sobre a ciencia e a técnica.
No entanto, a propaganda oficial alinhará argumentos (a natureza é assim, há sempre argumentos para justificar o que quer que seja), como, por exemplo, que patrocina através da direção geral de educação o programa da CE eSkills for jobs, orientado para as competencias nas aplicações informáticas. Que a CE prevê 900 mil ofertas de emprego nas tecnologias de informação na Europa para 2020. Que em Portugal 90% das empresas que recrutam profissionais desta especialidade se queixam de falta de competencias dos candidatos ( que depois emigram para exercer essas funções?!) e de inadequação do ensino universitário.
A mim me parece conversa de burocrata mais assente em papeis que em dados reais. Qualquer que seja a disciplina científica e técnica, ninguém sai duma universidade habilitado a resolver problemas numa empresa. A aprendizagem tem de ser continua, as universidades e as empresas têm de colaborar e as empresas têm de gastar dinheiro com isso.
Entretanto, destaque para o programa da IBM para participantes dos 8 aos 16 anos, na esperança de que a nova geração não se perca nas profissões mais ligadas ao setor não transacionável, EXITE e TryScience.
Num país como Portugal, a necessitar de reindustrialização e de reduzir a predominancia dos serviços, seria desejável
"Em França os lugares na investigação para os jovens são cada vez mais raros... quando tento explicar ao poder político que é um erro grave deixar uma geração fora do sistema científico eles respondem com a crise económica, que não há dinheiro. Mas daqui a uns anos, quando a crise acabar, sera tarde demais, porque teremos sacrificado uma geração. Além disso, a ciencia precisa de continuidade, para que a experiencia se transmita entre gerações. Em geral, os países do sul da Europa têm neste momento esse problema...há uma fuga de cérebros e não há postos suficientes para os investigadores em geral."
O humilde escriba deste blogue nunca teve vocação para a investigação fundamental, mas pensa, provavelmente com imodéstia, que colaborou em aplicações úteis para a comunidade de alguns resultados dessa investigação.
Por isso, também pensa ter alguma razão em preocupar-se com a política imobilizadora e danosa para o futuro que o atual governo tem sobre a ciencia e a técnica.
No entanto, a propaganda oficial alinhará argumentos (a natureza é assim, há sempre argumentos para justificar o que quer que seja), como, por exemplo, que patrocina através da direção geral de educação o programa da CE eSkills for jobs, orientado para as competencias nas aplicações informáticas. Que a CE prevê 900 mil ofertas de emprego nas tecnologias de informação na Europa para 2020. Que em Portugal 90% das empresas que recrutam profissionais desta especialidade se queixam de falta de competencias dos candidatos ( que depois emigram para exercer essas funções?!) e de inadequação do ensino universitário.
A mim me parece conversa de burocrata mais assente em papeis que em dados reais. Qualquer que seja a disciplina científica e técnica, ninguém sai duma universidade habilitado a resolver problemas numa empresa. A aprendizagem tem de ser continua, as universidades e as empresas têm de colaborar e as empresas têm de gastar dinheiro com isso.
Entretanto, destaque para o programa da IBM para participantes dos 8 aos 16 anos, na esperança de que a nova geração não se perca nas profissões mais ligadas ao setor não transacionável, EXITE e TryScience.
Num país como Portugal, a necessitar de reindustrialização e de reduzir a predominancia dos serviços, seria desejável
Citação de José Braz, ex-diretor da Polícia Judiciária
Com a devida vénia ao DN de 9 de abril de 2015, cito José Braz, ex-diretor da Polícia Judiciária: "É hoje claro que o crime organizado infiltrou o aparelho de Estado".
Já Paulo Morais insiste na tecla da corrupção, e na dificuldade do Estado em se reequiloibar do ponto de vista da Ética enquanto os grandes escritórios de advogados tiverem predominancia no Parlamento.
Parecerá que a sociedade civil tem um papel a desempenhar na luta contra este estado de coisas, mas a dificuldade de organização muito portuguesa é grande obstáculo.
Entretanto vamos registando factos.
Por exemplo, que um antigo diretor do departamento de estudos do BES declarou que só soube das dificuldades do grupo pelos jornais. O que não terá impedido que se tivesse desfeito das ações que possuia com um prejuizo de 50% por comparação com a perda total. Se isto, que foi publicado e não desmentido é verdade, é muito grave, com a agravante do senhor ter atualmente umcargo de relevo nas estruturas económicas públicas, mas é possível que haja um vazio legal e que não seja punível a manipulação por informação privilegiada e assimétrica (inside trading) de ações. E será perfeitamente compatível com a observação de que assistimos simplesmente á transferencia de rendimentos do trabalho para o capital.
Mas não é ético.
Já Paulo Morais insiste na tecla da corrupção, e na dificuldade do Estado em se reequiloibar do ponto de vista da Ética enquanto os grandes escritórios de advogados tiverem predominancia no Parlamento.
Parecerá que a sociedade civil tem um papel a desempenhar na luta contra este estado de coisas, mas a dificuldade de organização muito portuguesa é grande obstáculo.
Entretanto vamos registando factos.
Por exemplo, que um antigo diretor do departamento de estudos do BES declarou que só soube das dificuldades do grupo pelos jornais. O que não terá impedido que se tivesse desfeito das ações que possuia com um prejuizo de 50% por comparação com a perda total. Se isto, que foi publicado e não desmentido é verdade, é muito grave, com a agravante do senhor ter atualmente umcargo de relevo nas estruturas económicas públicas, mas é possível que haja um vazio legal e que não seja punível a manipulação por informação privilegiada e assimétrica (inside trading) de ações. E será perfeitamente compatível com a observação de que assistimos simplesmente á transferencia de rendimentos do trabalho para o capital.
Mas não é ético.
Subscrever:
Mensagens (Atom)