quarta-feira, 27 de março de 2019

Areias da Caparica, ou de como nem sempre a economia circular é nossa amiga

https://eco.sapo.pt/2019/03/22/reforco-de-areia-nas-praias-da-costa-de-caparica-vai-custar-63-milhoes-de-euros/

Já se tinha falado disto, em 2018, o senhor ministro já tinha prometido aos seus ouvintes em Almada que iriam ser depositadas areias na praia da Caparica, para o benefício do lazer e balnear, no montante de quase 5 milhões de euros.
Passados uns meses, eis a noticia que vai sair o anuncio do concurso para dragagem de 1 milhão de metros cúbicos de areias da barra sul do Tejo (o acesso principal ao porto de Lisboa que se vai assoreando paulatinamente) e sua deposição na praia da Caparica.
O senhor ministro mostra-se contente por beneficiar os utilizadores da praia, e satisfeito consigo próprio por mais um sucesso publicitável do seu ministério.
Eis porque não verão com bons olhos a minha crítica. Cuja se subordina a um tema mais vasto, e para mim de importancia extrema: o fecho da Golada.
Há uns anos, num virulento acesso de ambientalite aguda, parte da opinião pública conseguiu impedir a ação do fecho da Golada.
A Golada é a zona entre a ilha do Bugio e a ponta da Cova do Vapor, por onde o vento e a corrente do sudoeste "empurram" as areias que se depositaram na praia da Caparica, "descarnando-a".
De mistura com as correntes da vazante e do vento norte, as areias que vêm da Caparica acabam no fundo do canal diminuindo a sua profundidade, e numa vertente submarina virada a norte, que vai avançando de ano para ano, como as sondagens revelam.
Ora, isto não é bom para os calados dos cargueiros maiores.
É toda a funcionalidade (e como gostam de ouvir os economistas, a competitividade) do porto de Lisboa que é afetada.
Porque se inventou neste cantinho periférico da Europa a economia circular das areias da praia da Caparica-fundo da barra sul-praia da Caparica?
Era para esta zona que se tinha pensado um porto de águas profundas (ainda a vertente submarina virada a norte não tinha engordado tanto). Na zona da Golada, entre o Bugio e a Cova do Vapor, não na Trafaria, onde aliás até existe um terminal cerealífero e um terminal de combustíveis, coisas de que Portugal é dependente do exterior.
Mas demagogicamente o governo da altura apadrinhou a "deslocação" desse porto para o assoreado Barreiro. E o governo que veio depois apoiou. Ainda por cima, os seus promotores tiveram o descaramento de prever um custo de 2 euros por m3 de dragagem, incluindo alguma descontaminação, e como se pode ver pelo anuncio de agora para a Caparica, prevê-se 6,3 euros por m3...
É ofensivo falar em "ambientalite aguda"? Será, mas no meu tribunal interior, evidentemente sem valor legal, o que isto é é um ato de sabotagem económica.
Mas que ninguém tema, a lei não prevê penas para isso.
Pena é a comunicação social ignorá-lo.

sugestão de leitura para entender a problemática do fecho da Golada:
http://cip.org.pt/wp-content/uploads/2017/06/Ref-113-JCerejeira2013_RevMarinha_Plano-de-Reestrutura%C3%A7%C3%A3o-do-Porto-de-Lisboa.pdf

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