Numa pequena mas sincera homenagem às vítimas do atentado na Nova Zelandia e aplauso à primeira ministra Jacinda Ardern, transcrevo um pequeno excerto de "O primeiro homem" de Albert Camus, nascido na Argélia, descrevendo o ambiente após o atentado de Kessous.
Apesar de tudo as sociedades evoluem, os sintomas de doença social e das psicopatologias que levam aos atentados serão tratados e o que os origina corrigidos. Todos os conceitos evoluem, e penso que para melhor, o conceito de democracia, o conceito de religião, o conceito de sociedade, o conceito de tolerancia, o conceito de convivencia e partilha, o conceito de progresso, pese embora desconfiar que o conceito de mercado dificulta tudo. Mas não impede.
"Na esquina da rua Prevost-Paradol, um grupo de homens vociferava.
"É aquela raça suja", dizia um operário baixo de casaco de malha, apontando para um árabe refugiado junto de um portão, perto do café. E dirigia-se para ele.
"Não fiz nada", disse o árabe.
"Vocês estão todos combinados, bando de malandros", tornou o outro, e lançou-se-lhe em cima . Os outros impediram-no.
Jacques disse ao árabe "Venha comigo" e entrou com ele no café que agora era explorado por Jean, seu amigo de infancia, filho do barbeiro. Este estava presente, o próprio, mas enrugado, baixo e magro, o rosto alongado e atento.
"Não fez nada", disse Jacques. "Deixa-o entrar na tua casa".
Jean olhou o árabe, enquanto passava o pano pelo balcão de zinco.
"Vem", disse, e desapareceram através de uma porta ao fundo da sala. "
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