domingo, 29 de outubro de 2023

Senhores ministros e senhores embaixadores, em defesa de António Guterres

 

Senhores ministros e senhores embaixadores, em defesa de António Guterres

Sou apenas um desconhecido que teve oportunidade de conhecer Antonio Guterres e as suas ações solidárias, na Universidade Técnica de Lisboa, nos anos 60 do século XX.
Posso, portanto, dar o meu testemunho de que é um homem bom que sacrificou a sua comodidade pessoal aos valores humanos e religiosos na sua acepção de prevalência da Paz e de respeito pelos direitos humanos, e que não merece de modo nenhum as palavras que lhes dirigiram e a recusa de um encontro. Aceitem um princípio da lógica, que as críticas de um amigo não são a defesa de um adversário.

PS em 31out2023 - Encontrei a mesma ideia, da crítica por um amigo e admirador de Israel,  ao pesquisar Yabalia. Num livro reportagem de Mario Vargas Losa escrito em 2005. Também encontrei a notícia do bombardeamento do campo de refugiados de Yabalia, em 2014 . O livro de Vargas Losa chama-se Israel/Palestina: Paz ou guerra santa

PS on 31Oct2023 - I found the same idea, from a review by a friend and admirer from Israel, when researching Yabalia. In a report book by Mario Vargas Losa written in 2005. I also found the news of the bombing of the Yabalia refugee camp in 2014. Vargas Losa's book is called Israel/Palestine: Peace or holy war


שרים ושגרירים,
להגנתו של אנטוניו גוטרס


אני רק זר שהיתה לו הזדמנות לפגוש את אנטוניו גוטרש ופעולות הסולידריות שלו, באוניברסיטה הטכנית של ליסבון, בשנות ה-60 של המאה ה-20.
אני יכול, אם כן, למסור את עדותי שהוא אדם טוב שהקריב את הנוחות האישית שלו לערכים אנושיים ודתיים במובן שלו של שכיחות השלום וכיבוד זכויות האדם, ושאינו ראוי בשום אופן למילים. שניתן לו נהג ומסרב להיפגש. קבל עיקרון של היגיון, שביקורת של חבר אינה       



PS em 3nov2023 - no Publico de hoje:  “Nenhum preço é demasiado alto para salvar os reféns”
Irif Halperin é psicoterapeuta e tem um diagnóstico: “Não estamos sãos, não temos os recursos mentais para fazer o que é preciso, para fazer a paz”. Depois de três semanas a cuidar da filha e das duas netas, que no dia 7 de Outubro escaparam ao massacre no kibbutz Re’im, junto ao festival de música electrónica onde foram mortas pelo menos 260 pessoas, começou a vir ao local onde nasceu uma espécie de concentração permanente de familiares e amigos dos reféns feitos pelo Hamas, ou de pessoas que apenas querem dizer “Tragam-nos de volta”.

https://www.publico.pt/2023/11/03/mundo/reportagem/preco-demasiado-alto-salvar-refens-2068890








Que proporiam  Gandhi, Luther King, Mandela?



Entrevista da presidente da AMT (Autoridade de Mobilidade e Transportes) sobre a conferência sobre mobilidade em territórios de baixa densidade

 Com a devida vénia ao Dinheiro Vivo:

https://www.dinheirovivo.pt/entrevistas/ana-paula-vitorino-terceira-travessia-do-tejo-tem-de-existir-e-tem-de-ser-ferroviaria-17244016.html

Não posso considerar-me um fã da prof.Ana Paula, principalmente por ter sido, enquanto administradora da FERCONSULT e depois secretária de Estado dos Transportes, a mentora do plano de expansão de 2009 do metro que inclui a linha circular. Mas também não deixo de ter apreciado o plano de plataformas logísticas que ela fez e que ficou na gaveta e de julgar detetar agora um certo frisson (vá lá, em português, uma certa tensão) positivo, entre ela e a fação da senhora ministra Abrunhosa, estrénua defensora da faixa atlântica (Puerto-Vigo ahora ya, de pronto), talvez consequência da sua passagem pela CCDRC. 

Considero portanto de muito interesse esta entrevista com os agradecimentos ao colega que me a enviou. A propósito do artigo que a professora publicou no Publico de 24 de outubro, também referindo a conferência da Covilhã sobre a mobilidade em territórios de baixa densidade, fiz uns pequenos comentários em   https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/10/observando-mobilidade.html   

Com base agora nesta entrevista acrescento:
  1. não se criou no nosso país, e as escolas não se têm preocupado muito com isso (provavelmente por também acharem que são assuntos que devem ser entregues às elites, e já se sabe o que acontece quando se entregam as coisas às elites) a cultura do debate assente em factos, na observação e no teste de hipóteses. Daí o anedotário, parafraseando a prof, do novo aeroporto e também da ferrovia  ( humilde opinião minha : não deve ser um dilema AV ou ferrovia no interior, embora não haja dinheiro para poder ter grande rede de AV nem grande rede interior, mas é a velha proposta, tem de haver 2 redes de gestão separada; se não há dinheiro para uma solução económica então vamos discutir os 5 mil milhões por ano da raspadinha e os 100 mil automóveis). Logicamente, sentimo-nos superiores a qualquer tentativa de normalização e dispensamos a leitura de manuais de instruções ou de manutenção (que me perdoem os maus portugueses, alguns dos quais conheci no metro, que cumprem as normas e leem os manuais). Ora, quando se fala em mobilidade no interior e nas áreas metropolitanas, parece-me a mim, que se deveria citar as redes TEN-T e o regulamento 1315 em fase de aprovação do seu substituto, e referir o que lá vem, a necessidade dos SUMP (sustainable urban mobility plans, conhecidos por cá como PAMUS) que não se referem só a áreas metropolitanas; conforme a norma, não há financiamento para novos aeroportos, mas cada aeroporto principal tem de ter uma linha de AV a servi-lo para a qual  já há financiamento, desde que os projetos apareçam, claro,  
  2. em complemento de 1 digo também que o planeamento de redes ferroviárias não pode ser circunscrito e despachado por decreto (lá volto eu ao assunto: como foi o plano de expansão do metro de 2009, ao arrepio do PROTAML, do PAMUS que teve de ser alterado em 2016 para poder incorporar a linha circular,  e sem debate público nas autarquias da AML). Nesta entrevista há uma aproximação ao procedimento correto quando se fala em autarquias, mas não basta, faltam as CCDR, o IMT e a AML, o normativo comunitário (regulamento 1315/redes TEN-T), as associações empresariais e profissionais, o debate público ...
  3.  o critério de planeamento da ferrovia não deve ser efetivamente apenas o volume da população a servir, deve intervir também o PIB por região, concordando-se com um fator de ponderação ou indicador afetando a quota do investimento para a população ou PIB crescentes
  4.  em complemento de 3, é interessante o indicador km de transporte público/km2 mas observa-se que convirá ter um indicador para cada tipo de transporte público (ferroviário, rodoviário, pesado , ligeiro) ; considerar que para o denominador  km2 há áreas não habitáveis. outros indicadores: nº de viagens ou deslocações por dia, nº de passageiros-km por dia, nº de viaturas-km por dia, quotas por modo de transporte (considerar que a quota do transporte individual cresce com a rarefação da população (nomeadamente no núcleo de maior atração)
  5. taxa de uso - de acordo, o preço de um produto deve incorporar o custo de produção para evitar os subsídios. Espera-se que os operadores e o porto de Sines cheguem a um acordo, note-se que a redução das portagens nas autoestradas corresponde a um subsídio, mas também é verdade que não se vê o governo a desenvolver consistentemente a preparação de alternativas (por exemplo, as autoestradas ferroviárias, transporte por comboio de camiões, semirreboques, caixas móveis)
  6. de acordo com a necessidade da TTT independentemente de novo aeroporto. Deverá ser ferroviária, mas pesada (AV, interurbana, suburbana, mercadorias)  e (não ou) ligeira (metropolitano, suburbana) e comparadas as hipóteses ponte e túnel. Duvido que seja relevante o desvio para o Barreiro. Correta a observação de que mercadorias na ponte 25 de abril é fantasia
  7. sobre o aproveitamento do aeroporto de Beja para picos de afluência do AHD, convirá sublinhar que só seria eficiente se construídos novos troços de ferrovia para Beja e remodelados outros troços da existente e se se compatibilizasse a operação com a da Força Aérea
  8. conforme o artigo da prof de 24 de outubro no Público, em territórios de baixa densiade é indispensável desenvolver o tranporte  a pedido. Encarando a opinião pública com naturalidade as sugestões de ciclovias e mobilidade suave, julgo que deveria estender-se o conceito a pistas segregadas para veículos autónomos chamados ou agendados a pedido por meios telemáticos, telefone ou consolas em locais públicos.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Posts sobre o metropolitano de maio de 2022 a setembro de 2023

 


https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/09/da-calcada-portuguesa-ao-pavimento.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/08/escadas-mecanicas-e-elevadores-do-metro.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/07/acessibilidade-no-metro-de-pessoas-com.html

 

 

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/08/divulgacao-em-maio-e-agosto-de-2023-de.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/07/obras-do-metro-em-campo-grande-11jul2023.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/06/uma-grande-rede-de-metro.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/05/o-momento-do-metropolitano-de-lisboa-em.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/05/a-melhor-solucao-dizem-os-estudos-e-um.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/04/entrevista-do-presidente-do-metro.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/04/o-metropolitano-de-lisboa-neste-inicio.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/02/participacao-na-consulta-publica-da.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/02/sobre-habitacao-e-mobilidade-em-lisboa.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/01/sugestoes-para-novas-linhas-de.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/08/nova-peticao-sobre-expansao-do.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/08/sobre-o-prolongamento-da-linha-vermelha.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/07/o-lrt-ou-o-eletrico-rapido-de-odivelas.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/06/sobre-discussao-da-peticao-612-contra-o.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/06/peticao-612xiii4-pedindo-suspensao-da.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/05/sessao-de-esclarecimento-com-apa-e-o.html

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2022/05/enderecos-para-posts-neste-blogue-sobre.html

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Observando a mobilidade

Pequenos exemplos (ou amostras) da mobilidade como evolução de sistemas abandonados a si próprios ou dependentes da espontaneidade dos cidadãos, grupos ou empresas, na ausencia de planificação e de visão integrada das componentes do sistema.

1 -  Província do Cunene (sul deAngola, 1,1 milhão de habitantes/78.300 km2), município de Cuanhama (320 mil habitantes/20.300 km2), cidade de Ondijiva (96 mil habitantes/5.000 km2)


Queixa-se o governo da província que 50% dos 600 veículos de transporte público estão inoperacionais e que a mobilidade é assegurada principalmente por mototaxistas



aparentemente, o sistema funciona com telemóvel

https://www.msn.com/pt-pt/noticias/africa/mototaxistas-substituem-transportes-p%C3%BAblicos-na-cidade-angolana-do-cunene/ar-AA1iSEZL?ocid=winp2fptaskbarhover&cvid=876bd161c56f4129ac6f7db9e3683f5b&ei=26


2 - Os lotadores de Luanda

2.1 - mais uma hipótese de transporte urbano em Luanda

https://fcsseratostenes.blogspot.com/2023/06/excelente-artigo-do-publico-da-conta-de.html

2,2 - Analise do fenómeno dos lotadores de taxis coletivos em Luanda (lotadores - aqueles que lotam, angariam clientes, enchem os lugares das carrinhas que funcionam como taxis coletivos, uma tarefa mais ou menos equivalente a algoritmos de uma Uber de partilha) : mercado espontâneo, informal; incapacidade de contenção dos fluxos migratórios para a capital

em:
https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/detalhes.php?id=407602


3 -  Parques de estacionamento dissuasores na periferia do núcleo central urbano

Município de Évora (53.600 habitantes/1.300 km2; núcleo urbano 4.300 hab./1,1 km2) : exemplo de parques dissuasores gratuitos na periferia do nucleo urbano. As deslocações casa-trabalho fazem-se principalmente por transporte individual dos arredores e da periferia da cidade para o seu núcleo. De notar a frota de autocarros elétricos, muitos deles de pequena dimensão dadas as caraterísticas das ruas.



4 - artigo da presidente da AMT (Autoridade da Mobilidade e Transportes) sobre o estudo sobre a mobilidade em territórios de baixa densidade:

https://www.publico.pt/2023/10/24/opiniao/opiniao/mobilidade-sustentavel-territorios-baixa-densidade-caminho-futuro-2067725

Sublinho a inteira concordancia com o reconhecimento que o usufruto da mobilidade é um direito e que deve desenvolver-se o transporte a pedido. Discordarei de algumas das formas em que este será pensado, mas o que poderia ser uma boa solução, o recurso a pistas segregadas para veículos autónomos a pedido  (ver em  https://1drv.ms/b/s!Al9_rthOlbweyF5xFKvxfc6aGggc?e=X0I9mE    ), parece não suscitar o interesse do público e da comunicação social, tampouco o debate sobre soluções concretas e respetivos planeamentos. Prefere-se invocar o desígnio geral do transporte a pedido, da mobilidade suave , da partilha do TI e da mobilidade inteligente.







terça-feira, 24 de outubro de 2023

Conjunto de 7 intervenções de defensores da exclusividade da bitola ibérica e alguns comentários

 

Junto neste “post” os comentários que fiz a várias intervenções sobre as ligações ferroviárias à Europa: a um artigo de João Cunha, a um artigo de Manuel Tão, à intervenção de Carlos Fernandes na sessão de 14 de setembro na Ordem dos Engenheiros, ao artigo de opinião no Público do vice-presidente da APEF Miguel Rebelo de Sousa, ao artigo do deputado do PS Carlos Pereira e ao artigo do eng.Renato Rodrigues da IP.

 Artigo de João Cunha:

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbweyFWeGS2vjz9bht5V?e=jbgt0J

 Artigo de Manuel Tão:

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbweyFL2f-yKQDawQUww?e=TbiuOD

 intervenção de Carlos Fernandes na O.Eng. em 14set2023:

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbweyC5HMMD0zAIqWuPS?e=gcDwO0

 artigo de Miguel Rebelo de Sousa

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbweyFSaw_zS8--PakVt?e=KXYCJJ

 artigo de Carlos Pereira

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbweyFfzce71v30C8Zdk?e=WpJxWd

 artigo de Renato Rodrigues

https://1drv.ms/w/s!Al9_rthOlbweyFZhNEJOsiFb1cfe?e=n4zO1Y

 

Segue-se a transcrição do debate entre o eng.José Carlos Barbosa, deputado do PS, e o prof Nunes da Silva, presidente da ADFERSIT. Introduzi a azul alguns comentários. 

 https://sol.sapo.pt/2023/10/12/ferrovia-bitola-iberica-ou-europeia/ 

 



 - A pergunta poderá ser antes “bitola ibérica e bitola europeia?”  em vez de “bitola ibérica ou bitola europeia?”. A exemplo de Espanha, 11.200 km de bitola ibérica, 3.080 km de bitola europeia, 270 km de vias de 3 carris.  

 

 

 

 

Todas as ligações a Espanha estão em bitola ibérica” 

JOSÉ CARLOS BARBOSA   Deputado PS e quadro da CP 

 … já temos mais de 3000 quilómetros de rede ferroviária nacional e, se nós construirmos uma rede de alta velocidade em bitola europeia, estaremos a criar não apenas uma ilha como um arquipélago de ilhas porque, ao nível operacional, a coisa fica muito mais difícil. 

         - É verdade, a gestão de redes duais implica dificuldades, mas novas linhas em Portugal em bitola europeia só seriam ilhas ou arquipélago de ilhas se Espanha se recusasse a cumprir o regulamento 1315 em fase de aprovação da revisão/substituição que prevê a construção do corredor atlântico interoperável com bitola europeia das redes TEN-T ligando Sines a Madrid e Irun e Aveiro a Salamanca e Irun, e seguimento para Mannheim e Strasburg. Foi o governo português que desistiu da ligação em bitola europeia  Madrid prevista no acordo da Figueira da Foz de 2003 e do cofinanciamento comunitário da linha Poceirão-Caia em 2011, não o governo espanhol que aproveitou para desviar verbas para o corredor mediterrânico e para o “Y” basco

 Hoje, já existe tecnologia para alteração de bitola e, facilmente, os comboios alteram a bitola em andamento e não há qualquer constrangimento à interoperabilidade.             

        - Certo, a tecnologia de intercambiadores e eixos variáveis permite a comboios com essa tecnologia passar de uma via de bitola europeia para uma de bitola ibérica, como é exemplo em Ourense. Essa tecnologia permitiria a construção da nova linha Porto-Lisboa em bitola europeia  

A outra questão é que todas as ligações a Espanha estão em bitola ibérica. 

Se nós quiséssemos construir uma linha de alta velocidade nova, chegaríamos à fronteira e os nossos comboios teriam de alterar a bitola para bitola ibérica. Por exemplo, do lado de Vigo, entre Vigo e Ourense está em bitola ibérica e depois de Ourense está em bitola europeia. Os comboios têm de alterar a bitola. 

A linha de alta velocidade será feita por fases e a primeira será Porto-Soure. Ao concluirmos a primeira fase, começamos logo a operar com os comboios lá e a tirar partido da alta velocidade. Ela não será uma linha desligada da rede. Por isso, a única forma de tirarmos partido efetivo de cada uma das fases é ela manter-se em bitola ibérica. 

Depois há aqui outra questão de fundo. O projeto TGV nunca foi consensual, andamos há 30 anos a discutir o TGV e a única forma de torná-lo consensual é evitar que o interior não fique a ver os comboios a passar.  

 

- contudo, o interesse em ligações de alta velocidade é para longas distancias 

 

Em alguns pontos da rede, por exemplo, os comboios que vêm da Guarda chegarão a Coimbra e entrarão na linha de alta velocidade até Lisboa, o que irá aproximar todo o país da capital e também do Porto. 

Do ponto de vista económico, não há problema nenhum da bitola para a questão das mercadorias. Nós temos 150 carruagens preparadas para andar a 200 Km/h, mais as locomotivas, temos nove alfa pendulares para andar a 220 km/h e depois há desvios; os comboios mudam para os seus itinerários, não há qualquer atraso. A ADFERSIT faz um comunicado a discutir o parafuso e não fala da parte operacional. 

Uma linha de alta  velocidade Porto-Lisboa tem capacidade para passar 10 a 15 comboios por hora, grosso modo, a cada seis minutos passa um comboio. Neste momento, não se consegue fazer essa oferta porque não vai haver procura para isso e não se vai tirar partido de toda a capacidade da rede. 

 

 

“A interoperabilidade obriga a termos bitola europeia” 

FERNANDO NUNES DA SILVA      Professor e especialista em transportes 

 

Uma das causas de o país estar a ficar cada vez mais para trás na Europa é porque não somos capazes de manter uma estratégia durante o tempo necessário para que ela se concretize. Provavelmente, todas as pessoas que vou referir não souberam defender os interesses do país, estavam tecnicamente mal aconselhadas ou defendiam propostas irrealistas… 

Primeiro governo de Cavaco Silva (1985-1987) com ministro Oliveira Martins: despacho da nova rede de ligação europeia deve ser feita em bitola europeia, seguindo as recomendações da Comissão Europeia. Nos outros governos de Cavaco Silva, o ministro Ferreira do Amaral mantém a bitola europeia e avança com estudos e projetos nesse sentido. Segue-se governo de António Guterres, com os ministros João Cravinho e Jorge Coelho (PS), que mantém bitola europeia e desenvolve projetos. 

Depois veio o governo de Durão Barroso que mantém a opção bitola europeia. Houve cimeiras ibéricas que discutiram os assuntos e o seu funcionamento. A seguir vem o governo Sócrates, com o ministro Mário Lino e, a seguir, ministro António Mendonça, atualmente presidente da Ordem do Economistas (ambos PS), que mantém a bitola europeia. No governo Passos Coelho, o ministro António Mexia (depois presidente da EDP) mantém bitola europeia e pega no projeto que tinha sido desenvolvido no tempo de Sócrates, na ligação Poceirão-Gaia em bitola europeia, e prepara o lançamento do concurso para a sua construção.       – a decisão de desistir do Poceirão-Caia foi do governo Passos Coelho 

De repente, aparece um governo António Costa que decide alterar isto tudo. Com que base? Com que estudos? Com que custos? Não só altera isto como momento está num processo de negociação com a União Europeia para que esta financie estas obras porque há decisões da Comissão Europeia no sentido de o financiamento das novas linhas da rede transeuropeia de transportes obrigarem à interoperabilidade e a interoperabilidade obriga a termos bitola europeia, obriga a ter um sistema de sinalização e de comunicação entre a via e o veículo europeu, que é uma coisa complicada, e há alguns problemas de protocolos e de alimentação. 

Quando é referido que os espanhóis, nos últimos troços, estão a fazê-los em bitola ibérica é por uma razão extremamente simples: foi o Governo português que assim o exigiu e disse que ia manter a bitola ibérica nas suas ligações. Portanto, os espanhóis, e muito bem, não iam gastar a fazer uma nova linha até à fronteira, de Ourense para a frente, para depois não ligarem ao outro lado. 

             - notar que Espanha concentra os seus investimentos em bitola europeia no Y basco e no corredor mediterrânico. Contudo, o orçamento geral do Estado para 2023, previu 1648 milhões de euros para o corredor atlântico mais 4770 milhões do PRR até 2026. 

A bitola ibérica é defensável a nível técnico, mas, para passar para França, não será normal que tudo funcione em bitola europeia?

JCB – Houve aqui exemplos de vários governos, como se eles fossem donos da razão, não é? E o que nós percebemos é que, ao longo dos anos, houve um forte desinvestimento na ferrovia e, em 2018, a ferrovia quase colapsou. E porquê? Porque desinvestiram no material circulante, nas oficinas, no pessoal, tudo para cortar custos. Isso fez com que perdêssemos milhares de passageiros. No ano de 2022, atingimos um valor que já não atingíamos há 20 anos. O que fizemos? Recuperámos comboios e oficinas, contratámos trabalhadores. Há projetos de governos que dão errado e há projetos de governos que dão certo e este Governo é o que mais tem investido na ferrovia.  

Na ADFERSIT, a discussão devia ser por onde é que passa o comboio, qual é a velocidade do comboio, onde é que ele deve parar, que tipo de material circulante, quem a deve operar e não a bitola. A bitola é um falso problema, até porque os principais operadores (a própria Medway) dizem que a bitola não é problema nenhum nas mercadorias…    

 - louva-se a atividade de recuperação das oficinas de manutenção e do material circulante encostado, mas não foi respondida a pergunta. O normal seria que tudo funcionasse em bitola europeia. O próprio presidente da Medway, embora sem propor as ligações aos Pirineus em bitola europeia, afirmou em entrevista à Railway Gazette em setembro de 2021:  It’s evident that I, as a railway operator, would like to have standard gauge. It would be much easier”   .    Também é importante referir o que diz o PFN/nov2022 da bitola europeia:   “A criação de ligações ferroviárias em bitola padrão (1435 mm) teria inegáveis vantagens no transporte de mercadorias internacional de longa distância, contribuindo para melhorar a competitividade das exportações portuguesas…não se coloca no âmbito deste Plano planear essa migração.” 

 

FNS – Eu estou a falar de passageiros, depois falarei das mercadorias. 

JCB – Nós damos exemplos de governos anteriores que tinham o seu cavalo de Troia e a sua política, mas os portugueses sabem os resultados dessas políticas. 

O foco do debate é a opção pela bitola ibérica ou europeia…

FNS – É preciso ter ligações Lisboa-Porto num tempo compatível e concorrencial com o automóvel… 

JCB – Desculpe, a gente não vive de infraestrutura; a gente vive de serviço. O serviço cria valor, infraestrutura cria despesa. Vocês estão focados na infraestrutura, na bitola. A bitola, a bitola… como se a bitola fosse a mãe de todos os problemas. Mas a bitola não é um problema! 

CB – Vocês estão a querer criar uma sub-rede dentro de uma rede e a criar uma ilha operacional.              – não, duas redes, como em Espanha 

FNS – Não, de modo algum! 

JCB – O filet mignon da Península Ibérica é, neste momento, Porto-Lisboa. O eixo atlântico é a zona onde vivem mais pessoas da Península Ibérica e não   -  existe qualquer rede de alta velocidade. A ADFERSIT esquece isso. Isto vai ser feito por fases. A primeira ligação será Porto-Lisboa e deve ser a ligação prioritária. 

          -    O PIB das regiões de Asturias, Castela/Leon, Madrid, Castela/Mancha, País  Basco foi em 2019, em mil milhões de euros, 411 (corresponde ao corredor atlântico norte sem a Galiza); o da Galiza, Portugal e Extremadura 268 (corresponde ao corredor atlântico sul mais a Galiza); o de Navarra, Catalunha, Comunidade Valenciana e Andaluzia  570  (corresponde ao corredor mediterrânico). Comparando estes valores do PIB por região, o argumento do “filet mignon” pode justificar a prioridade ao eixo da fachada atlântica? ou será apenas uma proposta da Universidade do Minho para empolar a importância da sua região em detrimento do conceito da rede integrada ferroviária europeia? 

Mas mantendo o atual traçado ou criando um novo?

JCB – Mantendo o atual traçado e criando algumas saídas para que utilizemos as estações centrais. Na Europa, a estação representa a centralidade, é um shopping, é um ponto de encontro. A proposta da ADFERSIT é criar uma rede fora da rede e meter as estações fora da cidade. 

FNS – Não está a falar como engenheiro. A ADFERSIT nunca defendeu que as estações ficassem fora do sítio. Nunca defendeu. 

JCB – Então como é que faz? 

FNS – Muito simples: terceiro carril. Não há problema nenhum, em termos de passageiros. A Espanha utiliza terceiro carril, por exemplo, nas ligações entre Barcelona e França… Há quantos anos e quanto é que se gastou na reformulação da Linha do Norte para estarmos, neste momento, com um tempo de percurso inferior àquele que existia no início do século? 

Há mais de 30 anos…

FNS – Desde 1987! Em 1987, a CP, com este tipo de raciocínios, tomou uma decisão (que foi catastrófica) que fazia por fases, para melhorar imediatamente e repercutir as melhorias que se fizessem no resto da rede. E o que aconteceu? 

Desde 1987 ainda estamos a melhorar a Linha do Norte. Já gastámos mais dinheiro na Linha do Norte do que construir uma linha completamente de raiz ao lado.      -  sem alterações muito mais substanciais do que as já realizadas ou previstas na linha o Norte, é impossível aumentar a velocidade média porque a linha é constantemente atravessada por passagens de nível e por passadeiras para peões e tem caminhos pedonais paralelos à via não só nas estações mas  ao longo da via constituindo risco elevado de sucção; a fluidez do tráfego é também prejudicada pelos serviços regionais, suburbanos e de mercadorias. 

JCB – Não vou entrar na crítica que faz ao pensamento da CP porque está à vista de todos e é reconhecido pela maioria que gosta de comboios. O trabalho feito, nos últimos anos, tem sido de recuperação da CP, ao contrário de muitas pessoas que acompanham a ADFERSIT que passaram pela CP e que fecharam oficinas e encostaram material circulante. 

FNS: “O problema da Linha do Norte é ter os suburbanos misturados com intercidades”    o que é especialmente gravoso entre Ovar e Porto, entre Alfarelos e Coimbra, e entre Azambuja e Lisboa 

JCB – Nós não podemos criar uma ilha operacional. Se tivermos a mesma rede, os comboios entram e saem dentro da rede de alta velocidade e criam redundâncias. Um dos problemas da Linha do Norte é que não tem redundância. Quando há cheias, por exemplo na zona de Coimbra, a Linha do Norte fica completamente inoperacional porque não temos qualquer tipo de redundância.    – a vulnerabilidade às cheias do Mondego (e dos seus afluentes cujas bacias não foram devidamente tratadas) era um motivo para o traçado da linha AV atravessar em viaduto perpendicularmente ao rio Mondego sem desvio para a estação de Coimbra B paralelamente ao rio, desenvolvendo-se uma rede de metro para ligação rápida a Coimbra. Mas não é esse o conceito do PFN.  Notar que aparelhos de mudança de via de ponta (desvios) para acesso às estações intermédias serão sempre pontos vulneráveis à ocorrência de acidentes 

A Linha do Oeste será modernizada e entre Caldas da Rainha e Louriçal terá velocidades até 200 km/h, o que criará uma redundância e depois a rede de alta velocidade poderá criar mais redundâncias… 

FNS – Então vamos ter uma linha separada da atual. Essa tal linha de alta velocidade não é na atual. É que há bocadinho disse o contrário… 

JCB – Não, não, não disse isso! Diz que é uma linha Porto-Lisboa e só quando acabar a linha Porto-Lisboa é que começam a passar lá comboios. Então como é que faz isso? Como é que faz o Porto-Soure? 

FNS – Tem aqui a Linha do Norte. Está a construir esta linha, tem aqui a estação atual, o que você diz é que quando faz isto, faz um ramal para fazer a ligação… Depois, continua aqui, exatamente da mesma maneira. O que é que isto tem que ver com a bitola ibérica, explique-me. 

JCB – O senhor faz uma linha Porto-Soure em bitola europeia… 

FNS – Sim, senhor. 

JCB – Como é que no outro dia mete lá comboios a circular? Como, se não os tem? O quê, compra com bitolas variáveis? 

FNS – De eixos variáveis, claro.    

JCB – Defende a compra de comboios de bitola variável? – notar que atualmente os comboios Alfa fazem apenas o percurso Braga-Faro, não vão por exemplo á Guarda como sugerido pelo PFN. Evidentemente que nas fases Porto-Soure e Soure-Carregado o recurso a comboios de eixos variáveis será forçoso se se quiser evitar os transbordos. Notar que  se poderá negociar a operação com comboios Alvia S-120 ou S-130 da RENFE sem ter de os comprar. Mais uma vez teremos aqui um problema análogo ao da bitola. Não querendo a IP substituir o CONVEL, vai ser necessário equipar os comboios de operadores estrangeiros com o STM (conversor das mensagens das balizas CONVEL para os comandos ERTMS de bordo), desconhecendo-se neste momento a calendarização para a sua conclusão, mas sabendo-se que o regulamento revisto propõe a remoção dos sistemas diferentes do ERTMS  até 2040. 

FNS – Claro, sim. Como é evidente. Na fase inicial, sim. 

JCB – E todos os comboios que a CP tem prontos a operar a 200 km/h, o senhor encosta-os…  - se se pretende mesmo descarbonizar os transportes, todo esse material será utilizado, quer se siga ounão o conceito do PFN (nova linha Porto-Lisboa para alta velocidade e velocidade elevada, linha do Norte para mercadorias e serviços locais); criticam-se os atrasos na modernização de linhas como a da Beira Alta (neste caso critica-se também o excesso de modernização), do Oeste, do Algarve (neste caso critica-se a não duplicação), não se critica a necessidade de manutenção 

FNS – Então, mas a alta velocidade é a 200 km/h? 

JCB – Mas pode utilizar comboios até 200 km/h…                -   o regulamento prevê que em linhas modernizadas, não em linhas novas para as quais foi definido 250 km/h 

FNS – Ah, então vamos meter numa linha de alta velocidade comboios com velocidades diferentes… 

JCB – Também. Qual é o problema? 

FNS – Qual é a empresa ferroviária do mundo que mete comboios de velocidades muito diferentes na mesma infraestrutura? Diga-me só uma. 

JCB – Está completamente enganado. 

FNS – O problema da Linha do Norte não ter capacidade entre Aveiro e Porto e entre Lisboa e o Carregado é devido ao facto de ter os suburbanos misturados com alta velocidade, com os intercidades, regionais… Esse é que é o problema. 

Não é possível ter uma infraestrutura ferroviária com comboios de velocidades muito diferentes a operar na mesma linha. Isso vai prejudicar os comboios mais rápidos. 

JCB – Nós temos de tirar o máximo da capacidade da rede e podemos trazer comboios que andam a 200 km/hora. 

FNS: “A nossa ligação é a Madrid e as ligações estão em bitola ibérica” 

Na visita do governo à linha ferroviária Évora-Elvas, o primeiro-ministro quis saber como mudar de bitola: “No dia em que haja essa mudança em Espanha e se possa fazer essa mudança aqui, desaparafusa daqui, aparafusa ali, é isto?”. E foi-lhe respondido: “É isso mesmo”. É assim que vai funcionar? 

JCB – Isso foi uma forma simples de resposta.       

-  não, a forma de resposta pode ser simples (e é enganadora), mas a ação não será simples, porque os viadutos do Évora-Caia só têm tabuleiro numa via, a outra via só tem as bases dos pilares, vai ser muito onerosa a duplicação das vias nos viadutos, além de eu a substituição de um aparelho de mudança de via em bitola ibérica por um aparelho em bitola europeia também não é simples. 

O que vai acontecer é que a primeira ligação é feita em bitola ibérica (Porto-Lisboa) e faz todo o sentido, para ligar ao resto da rede.    

-  o sentido que faz está explicado no PFN que rejeita a bitola europeia e a integração da linha Porto-Lisboa no mapa do regulamento 1315 das redes TEN-T com caraterísticas interoperáveis, rejeitando o conceito de integração na rede europeia única, privilegiando um conceito de nova linha na região da fachada atlântica ao serviço também das estações intermédias 

FNS – Mas depois vai mudar para bitola europeia. O Governo está a negociar com a União Europeia, não está? Eu vi a proposta de como é que aquilo ligava. 

JCB – Não, o projeto está a ser feito em travessas polivalentes e, como é óbvio, se houver corredores internacionais, nós podemos duplicar a ligação entre Évora e Badajoz. Só tem uma via e podemos passar para uma segunda via em bitola europeia. O presidente da Medway diz que a bitola é um falso problema. O ex-presidente da CP, Nuno Freitas, um dos maiores especialistas (senão o maior especialista português) em ferrovia, diz que a bitola não é um problema. Aliás, é um dos grandes defensores em mantermos a bitola para não criarmos um arquipélago, um conjunto de ilhas operacionais que criam dificuldades…          

   - sendo um facto a defesa da continuidade da bitola ibérica pelos operadores de mercadorias privados, volto a citar a entrevista referida acima do presidente da Medway  e o extrato do PFN.  Critica-se assim nada se querer fazer até 2050 para progressivamente mudar este estado de coisas e conseguir a prazo, eventualmente de 10 anos (o regulamento revisto refere as datas de 2040 e 2050 para integração dos corredores de mercadorias nos corredores internacionais TEN-T) a situação ideal da mesma bitola europeia entre os portos e as plataformas nacionais e a Europa além Pirineus. Se é uma situação desejável, deve-se trabalhar para ela em vez de nos contentarmos em transportar os contentores para a plataforma de Vitoria, em bitola ibérica ou por estrada. Sem negar a evidencia de em Plasencia-Badajoz se utilizar bitola 1668mm com travessas polivalentes e faltarem cerca de 800km (Plasencia-Madrid-Vitoria  e fronteira portuguesa-Medina del Campo) em Espanha para o corredor atlântico, não parece dever insistir-se em que a linha AV da Extremadura está em via única sem capacidade para o tráfego misto de passageiros e mercadorias, nem ignorar a estratégia do governo espanhol e da ADIF de satisfazer as especificações da regulamentação comunitária das redes TEN-T.  

 

FNS – Mas estamos a criar um arquipélago… 

JCB – Não! Vocês é que querem criar um arquipélago. Ao nível dos passageiros, só conseguimos ser competitivos numa viagem até 3 horas, ou seja, no máximo 700 quilómetros. Chegar a Barcelona já é uma miragem, é para pessoas que gostam muito de comboio. As pessoas vão continuar a utilizar o avião porque têm 5, 6 horas de viagem quando em 1h45 chegam a Barcelona. A nossa ligação é a Madrid. Neste momento, todas as ligações a Madrid estão em bitola ibérica. 

         

     - sobre a necessidade de transferir o tráfego aéreo de passageiros Lisboa-Madrid para a ferrovia AV, é importante citar o coordenador do corredor atlântico Carlo Secchi no seu relatório de jul2022:  

“The new high-speed line between Porto-Lisboa is a priority for the Corridor, and European standard track gauge should be considered for its connection with the rest of Europe, in order to ensure future connectivity with Spain and France and the rest of the European rail network. The completion of the high-speed line between Lisboa and Caia-border, in particular “Lisboa- Pinhal Novo”, “Elvas-Caia border” and “Pinhal Novo – Évora” should be ready prior to the high-speed line connecting Aveiro to Villar Formoso and a migration to European standard track gauge should also be considered in the same timing. There are up to forty daily flights both ways between Lisboa and Madrid, we cannot afford to wait until 2050 to shift this traffic to rail.”   Convinha que o governo português alterasse a sua estratégia e coordenasse com Espanha a implementação da ligação Lisboa-Madrid em bitola europeia numa altura em que já se listaram 11 ligações internas aéreas de curta duração em Espanha  que deverão ser descontinuadas.  

 

FNS – As ligações a Madrid estão em bitola ibérica? Onde? 

JCB – A ligação pelo corredor internacional sul está em bitola ibérica. Não foi inaugurada Plasencia-Badajoz? Estou a dizer alguma inverdade, alguma falsidade? Foi inaugurada no ano passado.    

-  certo, em julho de 2022 e a sua eletrificação a 25 kVAC recentemente em 2023; segundo a informação oficial, prevê-se tráfego misto passageiros e mercadorias; entre Plasencia e Merida em via dupla, entre Merida e Badajoz em via simples; travessas polivalentes, efetivamente atualmente em bitola ibérica. 

     

 Depois a ligação Madrid-Ourense em bitola europeia, mas Ourense-Vigo em bitola ibérica. E não foi por questões portuguesas, foi por questões operacionais da Galiza.  

50% das nossas relações comerciais são com Espanha. Transportamos menos de 10% em transporte ferroviário e a nossa bitola é igual. Ou seja, o problema não é a diferença de bitola. O problema é a competitividade, é a falta de canais de rede. Se nós temos a mesma bitola na Península Ibérica para o transporte de mercadorias, porque é que nós não aumentámos o transporte e passámos do modo rodoviário para o modo ferroviário? Porque nos faltam canais ferroviários.    

– qualquer técnico de transportes concorda, os canais redundantes são essenciais, mas foi também por isso que o corredor atlântico do regulamento 1315 tem um ramo norte (Aveiro-Salamanca) e um ramo sul (Sines/Lisboa-Badajoz). Mas conviria analisar de mais perto as estatísticas de transporte para que não se insista na preferência pelo destino de Espanha para as nossas exportações em detrimento das exportações para a Europa além Pirineus. Números do INE para 2022 para modos terrestres: 11,3 milhões de toneladas exportadas para Espanha e 5,9 milhões exportadas para o resto da União (65,7% e 34,3% respetivamente). O valor das exportações para Espanha foi 16.800 milhões de euros e para o resto da União 25.700 milhões (43% e 57% respetivamente). Considerando agora o conjunto de exportações e importações por todos os modos de janeiro a agosto de 2023 temos: para e de Espanha 23,4 Mton e para e da EU 14,8 Mton (61,3% e 38,7% respetivamente) a que corresponderam os valores de 36.700 Meuros para Espanha e 51.600 Meuros para o resto da EU (41,6% e 58,4% respetivamente). Isto é, sem descurar o tráfego interno de Espanha (em 2019 a quota ferroviária de mercadorias em Espanha foi apenas de 5%) , o que os operadores privados e o incumbente asseguram, deverá insistir-se também no tráfego para a Europa além Pirineus incluindo a transferência do modo rodo para o ferroviário através das autoestradas ferroviárias (transporte de camiões, semirreboques ou caixas móveis por comboio) corrigindo os gabaris onde necessário (coisa aliás prevista no regulamento revisto) e prevendo nos cadernos de encargos dos vagões  a mudança fácil para eixos de bitola europeia. Saúda-se a assinatura pela APEF de um protocolo de cooperação para a implementação de uma autoestrada ferroviária do Entroncamento a Valencia. Estima-se que em 2025 esteja em funcionamento a ligação em 3 carris entre Vitoria e Irun e entre Valencia e Barcelona/Perpignan, constituindo-se nesta fase as suas plataformas como núcleos principais intermodais. 

 FNS – Em relação às mercadorias, nunca ouviu a nossa posição, como a da ANTRAM, que é manter a bitola ibérica. O maior operador do transporte de mercadorias (Medway) faz parte da minha direção da ADFERSIT e, em relação às mercadorias, o que diz é que não é necessário mexer na bitola nas mercadorias.    

     – ver acima a referência à entrevista de setembro de 2021; notar que a rede de bitola ibérica constitui uma barreira para o acesso de operadores estrangeiros que não dispõem de material circulante de bitola ibérica; acertadamente, tanto a Medway como a Captrain adquiriram recentemente locomotivas de elevada potencia e força de tração, com 6 eixos, as Euro6000 da Stadler, sendo um lote de bitola ibérica para operação na península e outro lote com bitola europeia para operação na Europa além Pirineus. 

Para passageiros, vamos comprar protótipos de alta velocidade, comboios que custam 25 milhões de euros. 

  -   como comentário final:  o governo português, a IP , o AVEP e os operadores deviam estar a trabalhar nos projetos para implementação dos corredores internacionais para passageiros e mercadorias, apesar do horizonte estar distante, especialmente no caso das mercadorias com ligação aos Pirineus. É essencial mudar a estratégia e negociar com Espanha (e com França, e com a Comissão Europeia) as ligações ferroviárias de acordo com a regulamentação europeia das redes TEN-T interoperáveis.