Economicómio II - Um pequeno problema de economia
Eu sei que os meus amigos economistas andam empenhados em destrinçar problemas complicadíssimos e teorias explicativas do estado global das coisas.
Mas gostava muito que me explicassem um pequeno problema que se me deparou.
Foi o caso de ter de comprar uma pulseirinha para a pequenina de uma pessoa de quem gosto muito.
Como sou muito moderno e sigo as recomendações dos meus amigos economistas, no sentido de utilizar a Internet e de dar preferência às empresas com capacidade de inovação, consultei a Swarovsky on line.
Escolhi um pequeno bracelete/pulseira de criança de zircónio (o bracelete, claro), com um pequeno coração com uns cristaizinhos incrustados. Coisa fina.
Passei pela loja do Colombo. Não tinha o modelo escolhido e os que tinha não se adequavam.
De modo que lembrei-me de passar pelo Carrefour , onde me recordava de ter comprado uma peça de ouro por um preço muito vantajoso, beneficiando das novas técnicas de marketing das grande s superfícies, e do pequeno artifício inovador de reservar para a presença do ouro apenas a capa exterior das peças.
Problema dos idosos. A memória que predomina é a do Carrefour, mas a realidade é agora mais um hipermercado do grupo Belmiro.
Em vão procurei o balcão do ouro. Uma análise de mercado do grupo terá ditado o fim da experiência.
Afinal as grandes técnicas só se aplicam ao que dá lucro imediato. Quando foi oportuno criar dificuldades ao comércio tradicional do ouro, foi dada grande importância aos balcõezinhos do grupo (não era só o Carrefour que tinha uma ourivesaria, o grupo de Belmiro copiou na altura a iniciativa). Nos tempos que correm, em que a passividade dos decisores da segurança de pessoas e bens ainda não inverteu a estatística de 2 assaltos por semana a ourives, o grupo Belmiro não tem necessidade de combater o comércio tradicional do ouro.
Certamente que os meus amigos economistas concordarão com a minha visão física de que “combater” significa a apropriação de parte importante da quota de mercado do comércio tradicional.
Ainda será válida aquela estatística de que por cada posto de trabalho criado numa grande superfície extinguem-se 2,5 postos no comércio tradicional? Os meus amigos economistas costumavam explicar-me que isso acontecia porque o comércio tradicional não tinha capacidade de se adaptar nem de inovar (leituras apressadas das “origens das espécies”?).
E então, como dizia o poema de José Régio, apanhei o metro da linha azul e fui a uma pequena ourivesaria familiar e tradicional, ali no Largo de S.Domingos, comprar pelo mesmo preço do bracelete da Swarovsky, uma pulseirinha de 18 karat . Porque a senhora da ourivesaria me explicou, como boa técnica de marketing, que aquelas mais grossas e vistosas, que via na montra, pelo mesmo preço, eram de 9 karat.
E assim vai o comércio tradicional, felizmente vendendo agora o seu ouro, sabe-se lá se ainda do que veio de Minas Gerais no século de D.João V, a turistas que têm na sua terra o ouro preto.
E assim vai a economia global, um pouco acima do nível de discussão sobre inovações, marketings e funcionamento de mercados, deixando-me perante este problema que me faz lembrar Drucker: é mais importante abrir grandes superfícies comerciais ou concentrar forças nos locais em que existe comércio tradicional?
Era importante saber a resposta para, quem trabalha em transportes, poder dimensionar as suas redes.
Mas se os meus amigos economistas não me sabem responder, quem saberá?
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