segunda-feira, 22 de junho de 2009

Securitarium I - OSCOT, OSCOT, porque nos atormentas?

OSCOT, OSCOT, porque nos atormentas?
O General Garcia Leandro era o presidente do OSCOT.
O OSCOT é o Observatório de segurança, criminalidade organizada e terrorismo.
Não confundir com o muito brasileiro neologismo Convescote (significado: piquenique; formação: conv (ívio) + escote (quota parte de cada um)).
O general chegou ao fim da sua comissão de serviço e deixou várias mensagens.
Os relatórios que sob a sua coordenação foram sendo produzidos cobrem os domínios do objectivo do observatório e são muito válidos, especialmente quando revelam as dificuldades de recolha de informação fundamentadora e as de coordenação inter-entidades.
Também de destacar a imagem que o general utilizou: o emprego é um dique que sustem o eclodir da criminalidade.
É uma pena não lhe darem ouvidos. Era eu adolescente e já um moço do meu bairro (no meu tempo o meu bairro era composto por uma zona fina e por um bairro delata; agora só tem a zona fina; progressos…), perante o seu insucesso escolar, dedicou-se a assaltar as pessoas nas ruas mais solitárias do bairro. Depois ia vender o produto do roubo a uma ourivesaria receptadora conhecida de toda a gente. Era o filho da peixeira, conhecida de toda a gente. Um belo dia arranjou emprego e deixou de assaltar pessoas (Prudhon e Bianqui diriam que passou a ser ele o assaltado pelo apropriador das mais valias). Era a isto que o director geral da segurança interna se referia como salto geracional para justificar um súbito crescimento da criminalidade juvenil.
Voltando ao nosso general, na despedida de presidente do OSCOT, pediu (este pedir é uma forma minha de dizer que todos nós devíamos exigir) que as pessoas ligadas à resolução dos problemas de segurança estivessem menos dependentes dos corredores ministeriais (não foi bem assim que ele disse, mas sou eu a tentar traduzir).
De modo que já temos um novo director do OSCOT, que vem hoje nas noticias a anunciar que agora é que vai ser bom, a criminalidade no Verão vai ser contida porque as forças de segurança vão cercar e vigiar as saídas dos bairros onde moram os criminosos.
Não estou seguro de terem dado ouvidos ao general.
Ouve-se e custa a acreditar. Até porque se calhar é mesmo verdade. As forças de segurança sabem onde moram os criminosos. E assim é a prevenção. Terá aplicação à prevenção da criminalidade no metropolitano, na linha de Sintra, nas rodoviárias?
Faz-me lembrar o caso do meu vizinho, era ele adolescente, algarvio a estudar em Lisboa e a morar num quarto alugado na Baixa. Um dia chega chorosa a casa a Tatão, ou alguém por ela, mocinha empregada na Baixa que fora assaltada e ficar sem o fio de ouro. Os outros hóspedes (parece mesmo o filme da Tatão, não é?) ouvem contristados e o senhor X, inspector na polícia diz à mocinha que se acalme que ele vai ver o que se pode fazer. E no dia seguinte lá apareceu ele com o fiozinho da menina, justificando que tinha falado a uns conhecimentos.
Este tipo de casos tenta mostrar que não é aplicável a Portugal a teoria Giuliani de combate sistemático à pequena criminalidade. Por exemplo, são conhecidos os carteiristas que ganham a sua vida no metropolitano de Lisboa. Mas eu, que não tenho responsabilidades de segurança, temo que o combate à pequena marginalidade estimule o aparecimento da grande e organizada. E então lá têm de se organizar os cercos aos bairros dos criminosos em período de assaltos para conter o crime.
Em que ficamos: o dique contra a criminalidade é o emprego , conforme dizia o presidente anterior do OSCOT , ou são as carrinhas da polícia à saída do bairro (as traseiras pedonais do bairro também estarão “guarnecidas”?), conforme diz o actual?
Eu diria que façam os cercos que entenderem, até porque é uma medida de curto prazo, mas por favor desdiscriminem , desdiscriminem, (agora há bairros onde moram os criminosos…) passe mais um neologismo.
E para desdiscriminar, lá vamos ter de garantir sucesso escolar, emprego… ná, com Adam Smith, por mais Sarkozy (“não era este o capitalismo que desejávamos”… é inteligente, este senhor) e Merkel a tomar boas decisões (que as estão a tomar), não vamos lá.
Complexo, o mundo do OSCOT.

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