segunda-feira, 8 de junho de 2009

Economicómio IV - A lei de Say

Economicómio IV – A lei de Say

A lei de Say (Jean-Baptista Say, primeira metade do séc.XIX) é mais uma daquelas leis económicas polémicas e pode resumir-se assim:
“A oferta gera a sua própria procura”, i.é, o valor do que é produzido está correlacionado com o rendimento que pode comprá-lo e com o valor do que pode ser produzido graças ao seu próprio valor.
Keynes não gostava da lei (a economia também não é uma ciência exacta).
E, infelizmente quanto a mim, também não gostam dela os estrategas que procuram sistematicamente adaptar a oferta da produção à procura.
Embora os conceitos de marketing invoquem o sagrado(sagrado para eles, claro) interesse de obedecer às tendências do eleitorado, perdão, dos clientes, parece desencorajante, para quem trabalha, por exemplo, numa empresa de transportes, ver diminuir a oferta da sua produção (o produto de uma empresa de transportes é o produto do número de viajantes pela distancia média por eles percorrida, expresso em passageiros.km), com a desculpa de redução de despesas.
É que em transportes, especialmente no caso urbano, existe um fenómeno que dá pelo nome de “descompressão das pontas”. Por outras palavras, sendo difícil circular numa cidade durante as horas de ponta, os potenciais clientes sentem-se desmotivados. Se aumentarmos a oferta, melhoramos o conforto e consequentemente a procura, descomprimindo a ponta, como queríamos mostrar.
Por outro lado, pode fazer impressão transportar lugares vazios, mas é suposto que numa cidade houve concentração de pessoas para aceder a locais de trabalho onde também é suposto haver produção de valor. Se de repente a cidade desertifica e a produção de valor é deslocalizada para a periferia, há que repensar os modos (deve-se transportar o maior número de pessoas com o menor consumo de energia, não é? Isso condiciona as escolhas dos modos de transporte) e a rede de transportes e combater as causas que desertificaram a cidade.
Não vamos cair no primarismo neo-liberal de nos contentarmos com o dogma: a empresa deixou de dar lucros, fecha; a casa deixou de dar rendimento, fecha; a loja deixou de ter clientes, fecha.
Pois não?

5 comentários:

  1. Em primeiro lugar o objectivo das organizações comerciais, i. e. as empresas, é ter lucro. Sem lucro não há empresa.
    Existem, no entanto,outros tipos de organizações, por exemplo as empresas públicas cujo objectivo é satisfazerem uma necessidade comum, por norma não lucrativa. Embora não procurem o lucro, estas empresas não devem, e não podem, ignorar os princípios princípios de racionalidade técnica e económica.
    No caso concreto o problema é de elasticidade e de escala.
    A procura do transporte não responde a variações do preço, assim como o preço também não responde a variações da procura, o que nos leva a problemas de escala e de renda marginal.
    Ou seja, a empresa pode aumentar a sua produção até ao limite em que o custo adicional da produção é igual a renda derivada do aumento da procura. No caso dos transportes o aumento da oferta (passar para uma nova escala) representa um custo de tal forma elevado que a procura teria de passar variar de forma mais que proporcinal para compensar o o acréscimo de custo. Outra forma será compensar o aumento do custo através das subvenções...

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  2. Ahhhh! O neo-liberalismo, o capitalismo ou outro ismo qualquer não forma chamados à colação, porque não são matéria de transportes.

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  3. Interessante. Mas continuo adepto da lei de Say. E também de que a curva para uma empresa de transportes não é tão rigida como isso. Na California, a um aumento de 10% do preço da gasolina corresponde um aumento de 10% no tráfego dos comboios suburbanos. Cá não, será mias uma especificidade nossa.Não aumentamos os custos da empresa de transportes mas aumentamos os custos da faqctura energética do transporte privado. Estamos a ser racionais? E o Barraqueiro está a ser racional quando pede subvenções?
    Quanto ao neo-liberalismo. Se ele afecta as soluções de uma empresa de transportes que existe para satisfazer uma necessidade da comunidade, deve mesmo ser chamado à colação, não? Até porque um deficiente funcionamento de uma trasnportadora pode indiciar, como parece ser o caso de Lisboa, um deficiente urbanismo da sua área, ou não será assim?

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  4. Não, não fecha...
    Embora não esteja em total desacordo com o primeiro anónimo (malvados anónimos. O que será que leva um ser pensante ou pelo menos com capacidades cognitivas e físicas para teclar umas palavras, a auto denominar-se por Anónimo?), a verdade é que também partilho da sua opinião, sua ou do Say, vá-se lá saber porquê! O problema reside em generalizar, ou melhor, aplicar o conceito de Say ou do seu maior crítico, ao que se conhece, pois pode ter tido outro de estimação, o Keynes, à realidade dos transportes cá do burgo, penso que da capital. De facto poucos pensam transportes, mobilidade, serviço social ou sequer inovam...
    Pensam em gastar, outros em poupar, outros em contestar, outros sem servir, outros em conjecturar e até há aqueles que trabalham.
    E este é que é o maior problema, obviamente que não me estou a referir aos que trabalham, refiro-me aos outros e há por ai muitos outros, mas por agora falaremos apenas deste, do problema é claro.
    Não pense o ilustre que iria falar de pessoas, se teve esse pensamento aconselho-o vivamente deixar-se dessas ideias popularuchas.
    Quando se deixar de levar Metros até a Santa Apolónia, sem os levar até ao Oriente, ir até Odivelas sem servir pelo menos com mais duas estações aquela cidade, sem fazer o prolongamento até Loures, continuar a ignorar que as cidades da Área Metropolitana de Lisboa estão sem uma rede sustentada de transportes que atravessem perpendicularmente a linha da CP, continuar a permitir que a Carris circule com os seus amarelos por cima da rede do Metro, ou permitir que os transportadores rodoviários de passageiros entrem dentro da cidade para largar e/ou recolher passageiros, não vale a pena, e salvo melhor opinião, continuar a “bater na velhinha”, porque o resultado de qualquer coisa que se tente modificar é inócuo.
    Isso sim é que deitar dinheiro para o “lixo”, ou para outras coisas pérfidas.
    Até porque, parece que por vezes, é necessário empatar para não ferir susceptibilidades.

    DPVL

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  5. Carissima anónima DPVL
    Estamos ferozmente de acordo.
    Se calhar é isso, compra-se a paz de não ferir susceptibilidades com a inexistencia de planeamento integrado.

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