quinta-feira, 25 de junho de 2009

Economicómio X – os 28 magníficos

Economicómio X – os 28 magníficos

A mensagem atroa os ares porque as vozes são estentóricas. Quase todos já passaram pelo Prós e Contras e já fizeram um riso amarelo quando a apresentadora lhes diz: mas o ano passado vieram cá e as soluções que propuseram não funcionaram (não são bem estas as palavras, mas também eles depois desculpam-se que nem o povo nem o governo fizeram nada do que eles disseram, mas fizeram ,pelo menos o governo, as coisas que eram concretas, e as abstractas, não, claro, porque eram abstractas).
Por exemplo: o manifesto começa por dizer (e bem, claro, que a competência técnica não está em causa) que a média anual da taxa potencial de crescimento da economia caiu de 3% para 1% ainda antes da crise internacional. A proposta para contrariar isto é reavaliar, com o concurso dos especialistas (lá está, é uma boa solução, mas como e quem vai atar o guizo no pescoço do gato?). É capaz de ser um pouco abstracto...Depois desatam a desancar os investimentos públicos e a propor reavaliações dos ditos e dos PPPs . Noto uma desilusão quando falam em PPPs, será que, parafraseando Sarkozy (este não é o capitalismo que desejávamos) estes não são os PPPs que queríamos? Desancam especialmente os transportes, o que me leva a parafrasear Pancho Guedes (os políticos não percebem nada de cidades) os políticos não percebem nada de transportes.
Reavaliações são o pensamento português no seu melhor: “O que era bom era…” (lembram-se de Armando Cortês, há muitos, muitos anos, num programa de fim de ano em que uma colectividadezinha rural de cultura e recreio organizava uma festa. Em todas as reuniões preparatórias o Armando Cortês interrompia as discussões das pessoas importantes e repisava: “O que era bom era que a televisão transmitisse”.
Vá, estudem o Armando Cortês, ele era profundo nas caricaturas que fazia…
Mas como sou eu que não percebo nada de economia, tenho de me contentar em fazer uma reflexão sobre um defeito que me ficou da infância: uma vez dita ou combinada uma coisa, as pessoas que a apoiaram ou que a contrariaram ou que se estiveram nas tintas ficam retidas na minha memória. É um defeito, eu sei, será uma zona de neurónios do meu cérebro que se distorceu no período de formação, mas é um facto.
E do que eu me lembro é, no tempo em que a crise internacional ainda não falava nem tinha sido anunciada pelos senhores economistas sábios, um deputado da Nação foi repreendido pelo ministro das Finanças sobranceiramente nestes termos: “Senhor deputado, tenha termos, não chame criminosos aos banqueiros”. Não consta que o ministro tenha pedido desculpa ao deputado, nem os banqueiros pediram (os banqueiros de que se falava, claro).
Eu lembrei-me desta porque o Ministério Público acusou ontem de burla uns senhores gestores de um banco muito conhecido, por criarem 17 contas “off-shore” para manipularem as cotações da Bolsa.
Senhores economistas. Eu agradecia que na altura tivessem dado uma ajuda.
Agora…
Mas enfim, vou seguir a vossa recomendação e entrarei em http://www.reavaliarinvpublicos.com/
A ver se depois digo alguma coisa. Assim como assim, pode ser que me considerem especialista de alguma coisa. Há sempre uma especialidade desconhecida em cada português. É por isso que o problema é principalmente de organização. Como dizia o outro, deixem trabalhar os portugueses (já viram isto, eu a inspirar-me no Adam Smith...).

2 comentários:

  1. Tal como o especialista citado, será que tembém raramente tem dúvidas e nunca se engana?
    Se a decisão nos investimentos públicos, nomeadamente em transportes, seguir uma lógica técnica terá que verificar se a despesa que vão originar é inferiror ao benefícios directos e inderectos que vão induzir.
    Até agora já apareceram vários defensores de todas as posições, mas não conheço nenhum estudo da decisão, e quando o Ministro garantiu que tais estudos existiam e foi desafiado a dar deles conhecimento público, respondeu que estavam a encadernar...
    Será que a resposta foi do Ministro ou do especialista?
    PJP

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  2. Carissimo anónimo PJP
    Realmente o estado em que isto está para eu defender o laissez faire laissez passer...
    Então façamos ao contrário: os 28 magnificos claculam o prejuizo, por exemplo, para o Aeroporto. E depois eu digo assim: curiosissimo. Esse valor é exactamente, mas exactamente igual, nem um cêntimo a mais nem outro a menos, do que o valor do benefício que consiste em não ter os aviões a zunir todo o dia e grande parte da noite por cima das nossas cabeças adicionado do valor da multa por ter um aeroporto a funcionar em sitio proibido.
    Serve assim? Para o TGV pode-se arranjar outro argumento: é proibido discriminar. Quero ir a Madrid em 2 horas e meia, esgotei a minha quota de CO2 e não tenho dinheiro paraq um X5. Ocálculo do prejuizo é igual ao benficio de não ter de pagar a multa por discriminar pessoas. Serve assim?

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