segunda-feira, 22 de junho de 2009

O surpreendente metro de Madrid – II

O surpreendente metro de Madrid – II

Já se conhece qualquer coisa da carta que Manuel Melis, presidente não executivo do metro de Madrid enviou ao senhor conselheiro da assembleia da região autónoma de Madrid e que foi considerado por este como incompreeensível (pobres conselheiros da comissão de transportes, queriam que eles percebessem de transportes; malvados). Não esquecer que Manuel Melis confessou-se muito farto da “pomposidade e suficiência com que falam os conselheiros de transportes” (referindo-se à região de Madrid, claro).
Ver em: http://www.ines-sabanes.net/?p=1043
Quer dizer que as causas do descarrilamento estão mais ou menos no domínio do catálogo. Será que não existe uma articulação eficaz entre os serviços do metro de Madrid e o seu presidente não executivo? Será que a teoria dos compartimentos estanques e a falta de qualidades de trabalho em equipa se verificam também no metro de Madrid?
– primeira hipótese: galgamento da cabeça do carril pelo verdugo (o verdugo - pestaña em castelhano - é aquela circunferência maior do lado de dentro da roda que mantem o rodado dentro dos carris); na realidade, há muitas hipóteses dentro desta, desde o desalinhamento ou desnivelamento de uma das rodas relativamente às outras, defeito da suspensão, defeito de nivelamento da via, gripagem do verdugo com a cabeça de carril…); o próprio Manuel Melis explica que vem tudo explicado no livro dele: “Ferrocarriles Metropolitanos”, 3ª edição. Acho que vou encomendar
- segunda hipótese: problemas de dinâmica vertical da via e variações da rigidez vertical da via
(aqui convem esclarecer que o sistema de fixação da via no metro de Madrid é radicalmente diferente do que se usa em Portugal: fora das zonas de agulhas, os carris estão assentes em sapatas – tacos em castelhano - embebidas no betão através de elastómeros amortecedores de ruidos e vibrações, sem travessa de sujeição entre sapatas; para conhecer o sistema de via férrea do metro de Madrid ver em: http://www.railforum.net/PresentacionesPonencias/2004/12%20-%20Via%20-%20Mayo%202004/PRESENTACION%20RENOVACION%20DE%20VIA%20Metro%20de%20Madrid%202004.pdf)
- medidas a executar: Manuel Melis quer medir as rigidezes e as elasticidades das sapatas e das travessas quando existentes no troço do descarrilamento, bem como as elasticidades das suspensões (exige o desmonte dos bogies), seguindo-se a introdução destes dados num simulador Simpack de vibrações (para conhecer o funcionamento do simulador Simpack ver em: http://www.simpack.com/uploads/media/um06_dc-meljnikov_10.pdf).
Da análise dos resultados do simulador sairá a tal causa a explicar ao senhor conselheiro numa Hamburgeria.
Isto é, ainda não houve tempo para medir os parâmetros que o homem quer? Será que alguém com funções executivas no metro de Madrid acha que não é preciso?
Realmente, La Palice poderia dizer que o descarrilamento se deu por defeito da via, ou por defeito da suspensão ou do material circulante, ou por incompatibilidade entre material circulante e via.
Mas isso era La Palice (ou eu). Parece não ser o caso de Manuel Melis, a quem tiro o chapéu.

3 comentários:

  1. Teorias sobre as causas de um descarrilamento podemos formular muitas. Não deixo de estar de acordo com a posição do presidente do metro de Madrid.
    Vamos aguardar pelas conclusões do inquérito, as quais irão certamente esclarecer as causas deste acidente, ou não! Quando não se pretende saber as causas de qualquer acidente normalmente nomeia-se uma comissão de inquérito.
    Um certo dia ia eu de comboio para o Algarve, no velho comboio rápido (só de nome, pois levava 6 horas para percorrer 300 km) para o Algarve, recém admitido no ML e resolvi levar como leitura uma pequena brochura publicada pelo ML - Teoria do descarrilamento, do Eng.º Castelo Branco Vieira. Comecei a ler e às tantas vi que o passageiro que ia sentado no banco à minha frente mostrava algum incómodo, até que o homem não se conteve e disse-me: "O senhor não tinha mais nada para ler durante esta viagem de comboio?", ao que eu respondi: "pois, talvez tenha razão". Nesse livrinho, de capa amarela, que julgo ainda ter em meu poder uma cópia, este nosso colega formulava uma teoria sobre as possíveis causas de descarrilamento. A ciência já evoluiu muito deste essa altura, idos de 1981/82? até hoje. Certamente com as possibilidades abertas pelos computadores hoje é possível, utilizando modelos matemáticos fazer simulações que permitirão perceber melhor o que se passa na inter-acção roda carril, entrando em consideração com todas as dimensões que caracterizam, quer a via-férrea, quer os bogies (esqueci-me que você acha que os modelos são sempre abstracções da realidade e como tal têm pouco valor, mas mesmo assim acho que podemos confiar neles quando bem utilizados). Depois há os imponderáveis da actividade humana, para os quais não há ciência que lhes valha. Há ainda os políticos que falam, por vezes, sem conhecer aquilo de que falam e não acreditam nos técnicos. E depois há ainda os normativos que umas vezes são sagrados, quando nos convêm, e outras vezes não servem para nada, porque não nos convêm. Finalmente há a mente humana que é muito complexa, enquanto os problemas técnicos são só complicados. Se fizermos uma "caldeirada" destes ingredientes iremos perceber porquê que os comboios, às vezes, descarrilam.

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  2. José, sou eu, o José Osvaldo Bagarrão, aquele que, por regra está em desacordo consigo. Nem sempre...

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  3. Carissimo José

    Se a memória não me falha o descarrilamento estudado pelo Eng.Castelo Branco é de 1976, na curva do Rossio e o seu parceiro de viagem fez bem em falar. Remonte de pestaña (verdugo), como diz o presidente não executivo do metro de Madrid. Concordo inteiramente com a utilização do simulador Simpack para o estudo da interacção (bom seria termos cá em Portugal um, mas a funcionar preventivamente), se bem que com um bocadinho de convergência de esforços, será possível a nuestros hermanos, técnicos, ir adiantando alguns factos concretos que tenham contribuido para o descarrilamento.

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