Em primeiro lugar, aplausos ao Dr João Correia, que se demitiu de secretário de estado da Justiça.
Não por se ter demitido, mas por ter lutado enquanto secretário de estado contra o estado da justiça em Portugal, que é uma das desvantagens comparativas do nosso país (ver medidas concretas contra a crise no livro de Luis Monteiro Os últimos 200 anos da nossa econnmia e os próximos 30) e por ter explicado as razões da demissão: entre outras, porque o senhor secretário de estado da modernização judiciária é um ótimo secretário de estado da informática.
Testemunho sobre o Dr João Correia: "é um profundo conhecedor da realidade da justiça e uma pessoa séria e íntegra".
Perante estes factos, que poderão ser negados mas são muito difíceis de esconder, e tendo presente que entre alguns dos nossos colegas existe uma cultura semelhante à do secretário de estado "informático", de privilegiar o tratamento informático das questões técnicas da operação e manutenção de um sistema ferroviário, possivelmente para melhor tratar a imagem do sistema perante a opinião publica e não obstante o "batalhão" de técnicos que têm de ser desviados para o tratamento informático em detrimento da análise real e direta das ocorrencias com impacto na operação, permito-me dar o nome de João Correia a esta conjetura:
- não só no mundo jurídico, mas também no mundo da técnica ferroviária, o tratamento informático das questões pode criar uma barreira entre a realidade, as causas e as circunstancias reais que provocam os incidentes, e os técnicos que devem lutar contra os incidentes; e aplicando um dos corolários da lei de Murphy, se pode criar uma barreira entre a realidade e os técnicos, certamente que a criará.
Aplausos para o Dr João Correia.
PS - Mais notícias entretanto surgidas dizem que a questão estará tambem na transferencia dos técnicos de informática, da Direção geral de administração da Justiça, para as Tecnologias de Informática na Justiça, entregando o Citius Plus à empresa externa Critical Software. O Citius é o processo de desmaterialização dos processos que sucedeu ao Habilus (para acabar com os anacronismos das pilhas de papel atadas com cordel) que foi desenvolvido com mérito por esses técnicos. E o percurso lógico de uma equipa de sucesso de uma entidade pública é este: assim que "a coisa" funciona, gera interesse ou uma oportunidade de negócio numa empresa externa.
É a dependencia dos consultores, ou, como se dizia antigamente, para encontrar a explicação de um comportamento, "cherchez la femme" ("cherchez le profit").
Citius é latim e significa mais rápido. Habilus significa mais conveniente. Dizem tudo, os nomes.
Ninguém pretende dotar os ministérios ou as empresas públicas de orgãos sobredimensionados com todas as competências; mas que devem ser mantidas nestas entidades a capacidade e a direção estratégicas dos processos, isso sim; mas apenas desde que os condutores desses processos não sejam nomeados por critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico.
Não sendo assim, parecerá que o estimulo para os técnicos será integrar o universo dos consultores e dos critérios diferentes do mérito e do conhecimento técnico, o que não me parece que estimule a vontade de bem servir no serviço público.
O que se repercutirá no produto final.
Deve ser de propósito.
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