domingo, 28 de novembro de 2010

A metáfora da barra da Ria de Cabanas de Tavira


A primeira imagem do video mostra uma lingua de areia amontoada (adunada?) pela corrente marítima de sudoeste no sotavento algarvio. Depois vê-se a barra recentemente aberta na ria de Cabanas de Tavira pelo sudoeste, as águas calmas da ria frente a Cacela a Velha e o seu forte do século XVI. Perto daqui desembarcaram em 24 de junho de 1833 as tropas do Duque da Terceira que deram o nome à Av.24 de Julho, em Lisboa , derrotando o exército miguelista na batalha da Cova da Piedade depois de uma marcha de 30 dias e libertando Lisboa de absolutistas.

Há uns anos, gastou-se algum dinheiro a despejar terra sobre a duna e a fazer um cordão de ripados para fixar a duna. O pretexto era proteger a cultura de ameijoas na ria.

A metáfora é se vale a pena tentar desviar a força de uma corrente marítima que muda as barras de uma ria com facilidade de temporada para temporada. Ou se vale a pena impor limites (o aterro e os ripados) às leis do mercado (a corrente marítima) , ou, se pelo contrário, vale a pena às leis do mercado (o aterro e os ripados) oporem-se à vontade das comunidades (a corrente marítima) de cumprirem a declaração universal dos direitos do homem e o art.9º da constituição da republica portuguesa (o Estado deve trabalhar para o bem estar dos cidadãos).

Como não sou economista, não consigo pronunciar-me sobre as leis do mercado, para além de repetir o que vem nos livros de economia: as leis do mercado só devem ser deixadas entregues a si próprias se:
- não houver escassez do bem ou produto
- não houver assimetria de informação  ou de acesso ao bem ou produto
- não existir uma externalidade afetando quem não tenha nada a haver com o bem ou produto.

Mas como dediquei uns anos da minha vida a ouvir o que alguns professores e assistentes duma escola técnica diziam nas aulas, direi que o critério de valer ou não a pena gastar dinheiro com uma obra para evitar a abertura natural de uma barra é o critério do dimensionamento das variáveis em jogo.
Isto é, a obra de desvio de uma barra é possível (por exemplo, o fecho da Golada), mas tem de ser bem dimensionada; e depois há que ver se o dinheiro que custa é mais ou menos do que o que se perde se não se fizer a obra.

No caso da ria de Cabanas de Tavira, afinal as ameijoas ainda lá estão, mais a Poente.

O problema, é que os nossos decisores-consultores-economistas-políticos têm dificuldade, muita dificuldade, em apreender as questões técnicas necessárias para compreender o dimensionamento da obra e as suas vantagens não imediatamente tangíveis, e limitam a sua análise ao volume do investimento (já não estou só a referir-me à barra da ria de Cabanas, mas também aos investimentos que nos interessam).

É uma pena, esta dificuldade em compreender as análises de custos-benefícios, embora se reconheça que  uma análise de custos-benefícios correta requer uma visão integrada pluri-disciplinar (e como somos reratários às visões integradas pluri-disciplinares ).

É uma pena, porque é difícil haver desenvolvimento de um país sem análises de custos-benefícios.

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