A semiótica é a arte dos sinais.
Tome-se a fotografia de três políticos e estude-se os sinais dos seus rostos.
Estão os três, o português, o francês e a alemã, a fixar o rosto do senhor presidente da Comissão Europeia, que não se vê na fotografia.
Faço este microensaio porque estive nalgumas reuniões com colegas estrangeiros e gostava de analisar as suas expressões faciais, até porque tenho uma deficiência de discernibilidade auditiva que me dificultava a compreensão das palavras.
O politico português exprime o desencontro grande entre a realidade e a construção otimista que só existia na sua cabeça. Os músculos flácidos, descaídos, do seu rosto mostram a impotência, não só para resolver as questões, como de as compreender, às questões e às soluções. Mas a melancolia estará associada à esperança de as certezas viverem independentemente da realidade. E, até certo ponto, às vezes todos os esforços devem orientar-se para a transformação da realidade. Por exemplo, se se vive num deserto, há que plantar árvores e regá-las para deixar de ser deserto. Mas há que fazer contas. Será talvez uma visão marxista, esta de querer transformar o mundo.
O político francês mostra uma ligeira desconfiança. As tribos francas pouco se distinguiam das germânicas originalmente. Distinguem-se mais agora porque decidiram adquirir a língua latina. Fizeram bem, dos sons mais bonitos que existem são as falas de Racine e de Rostand. Mas tão desconfiados que eles são dos povos do sul. Recordo-me de um colega recém-chegado a Lisboa, para assistir à colocação em serviço da estação Campo Grande, equipada com os primeiros motores de agulha franceses. Assustou-se porque não viu os protocolos de ensaio realizados escrupulosamente de acordo com o manual da fábrica. Como bom francês, achava que ninguém em Portugal entendia a língua de Montesquieu e disse ao meu lado para o compatriota: “Ils vont tout casser”. Não partiram, os ensaios tinham sido feitos e o pessoal tinha compreendido como funcionavam os novos mecanismos.
A política alemã tem uma expressão olímpica no seu rosto. Torce o pescoço e franze (curioso, o som deste tempo de verbo é o mesmo de um nome próprio alemão muito usado) os músculos dos olhos e da boca, como se tivesse coisas mais importantes a dedicar a sua atenção do que à conversa dos povos do sul, mal esperando para poder voltar a cabeça para a frente. Os olhos semicerrados exprimem também desconfiança, e um certo mal estar por não poder dizer em claro: trabalhem para poderem pagar os BMW , os Audi e os Mercedes, para isso vos emprestamos dinheiro. Recordo-me dum colega alemão que “ralhou” comigo um belo dia por não ter recebido a minha resposta ao questionário que ele conduzia no grupo. Tive de esperar o intervalo para, a sós, lhe mostrar cópia do email que o colega do sul lhe tinha enviado atempadamente com a resposta que ele tinha recebido mas não tinha registado. Males de quem confunde uma produtividade mais baixa dos povos do sul com o valor da produção (para a nossa economia, não deveria ser prioritário, neste momento, aplicar medidas de aumento da produtividade,mas sim medidas de aumento da produção com retorno; depois de aumentada a produção, então será a fase de aumentar a produtividade, isto é, aproveitar os mesmos meios de produção para produzir ainda mais).
Enfim, talvez esta semiótica não fosse tão crua se os nossos políticos não quisessem voar tão alto, e se começassem a levar para as suas reuniões pessoal mais ligado às estruturas sindicais, assim a modos como que à maneira dos Lula e dos Morales.
Mas deliro, provavelmente, embora não me pareça errada a interpretação semiótica nem o método proposto.
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