O DN de domingo dia 21 de Novembro de 2010 tem duas entrevistas que me parecem importantes para os historiadores do período recente.
Numa das entrevistas, Jacinto Nunes recorda 1960, ano de adesão ao FMI: sistema financeiro sólido e economia anémica, bancos pouco hipotecados mas com grandes lucros, nivel de vida baixo, industrialização a arrancar, rendimento médio 60% da média europeia. Sobre 2009: o grande erro foi alterar as taxas de juro dos certificados de aforro; centenas de milhões de euros fugiram; "uma parvoíce, porque substituiram divida interna, que não exerce pressão sobre os governos, por divida externa".
E eu, que ignorante, sempre achei o mesmo, fico a recordar um jovem economista do governo, muito convencido, a dizer que o que era bom era acabar com os certificados de aforro. E deram-lhe poder para isso, e a democracia portuguesa não teve meios de se defender desse jovem econmista, de que nem sei o nome, mas lembro-me bem de ter sido entrevistado no DN a defender os disparates que o deixaram fazer.
Mas há sempre um senior que vem explicar as coisas, sintetizando: se Portugal "não tem juízo, o FMI vai acabar por intervir com mão de ferro, depois de ter entrado na casa e na carteira dos gregos".
Um perigo, deixar os seniores falar, quando tanto se incensa a inovação (talvez devamos antes ser shakespeareanos: "se a velhice pudesse e a juventude soubesse...").
Na segunda entrevista, Otelo Saraiva de Carvalho declara-se "a leste" da ação do 25 de Novembro de 1975 e invoca conversas com Melo Antunes para dizer que:
- Melo Antunes se encontrou uma semana antes do 25 deNovembro com Alvaro Cunhal para que o PC não interviesse, porque o grupo dos nove pretendia acabar com a esquerda revolucionária, o que ficou acordado; efetivamente, o partido de Cunhal saiu bruscamente da "frente revolucionária" e Melo Antunes honrou o compromisso depois do seu triunfo;
- Melo Antunes foi "repreendido", como ministro dos negócios estrangeiros, em Maio de 1975, em Munique, por Gerald Ford e Henry Kiessinger, que lhe disseram que os USA e a Europa fariam um bloqueio económico total se Portugal evoluisse segundo uma revolução socialista com o PC no poder; efetivamente, houve na altura dificuldade em arranjar peças; lembro-me que não se vendiam cabos de embraiagem para vauxalls, e que a General Electric deixou de bobinar motores eléctricos para a Carris e o Metro, por falta de material importado.
Mas seria muito interessante se os historiadores pudessem confirmar isto, quanto mais não fosse para corrigr as versões um pouco romanceadas , "fulanizadas", parciais e subjetivas, que foram adotadas pelos discursos oficiais.
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