Nestes tempos conturbados, de incertezas (o número e a complexidade das variáveis e das correlações entre elas ultrapassa a capacidade de processamento do cérebro humano, pelo que a incerteza é um estado normal) e de certezas (é vê-as todos os dias, na televisão), volto à conjetura de Partha Dasgupta, autor de “Economics, a very short introduction”, editora Oxford University Press, depois de explicar as razões económicas para a desigualdade entre as pessoas e os povos:
“a pobreza e a má qualidade de vida de muitos não são causadas pela dificuldade da quadratura do círculo, nem pela inexistência de regras eleitorais perfeitas, nem por os mercados de funcionamento ideal serem um mito, nem pelos governos de per si, porque eles são compostos e delegados por homens e mulheres; elas acontecem porque as pessoas e os povos ainda têm de aprender a viver uns com os outros”
É muito interessante ver um homem sábio, professor catedrático de economia em Oxford, mostrar a sua sensibilidade e humildade, apesar de catedrático de economia, apelando à compreensão e à tolerância.
E é capaz de ter razão, de até ser bom para a economia, nestes tempos de cimeira da NATO, com uns senhores cheios de certezas, muito seguros da superioridade da sua força e dos seus valores (uma das suas vozes até dizia há uns dias que há uns valores cristãos e germânicos que têm de ser aceites numa parte do território da Europa dos cidadãos), completamente surdos à voz de Gandhi, de Partha Dasgupta, e de alguns cidadãos insignificantes como eu ou, pelo menos, de expressão política insignificantemente minoritária, o que não quer dizer que o que dizemos seja insignificante.
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