quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Carta ao diretor geral da minha empresa


Meu caro diretor geral

I wonder, como dizem os anglo-saxónicos, se não temos aqui um tema de manutenção.


A fotografia é do Carnival Splendor, um navio de cruzeiros para 3.000 passageiros e 1000 tripulantes, que ficou sem energia no inicio do cruzeiro e teve de ser rebocado. 3000 pessoas sem água nem ar condicionado num espaço fechado.

Diz o senhor presidente da Carnival, possivelmente no seguimento de informação dada pelo seu diretor geral: nunca nos tinha acontecido.

Não é verdade. Aos navios da Carnival não aconteceu, mas ainda há 2 meses um navio de cruzeiros ficou sem energia entre a Madeira e as Canárias.

E então ai está a hipótese (a conjetura do cantoneiro que se reformou e agora ninguém corta os ramos das árvores que tapam o sinal rodoviário) : houve evolução nas estratégias de manutenção; agora tudo está informatizado e não é preciso ir pessoal qualificado a bordo; faz-se tele-vigilancia, põe-se um centro de manutenção em San Diego e monitorizam-se todos os equipamentos no Splendor, até rebentar a casa das máquinas (uma cambota que se partiu… partiu-se uma cambota?! O que é isto?). Sabia que a plataforma Deepwater estava em e-drilling? Que o pessoal que estava a bordo no golfo do México não tinha “skills” para avaliar o risco que corria enquanto os senhorinhos do centro de manutenção a distancia em Houston controlavam tudo?

Mas que importa? Só rebentou uma plataforma petrolífera no ultimo ano, só ficaram sem energia dois navios de cruzeiro no ultimo ano, só rebentou um dos motores de dois A 380 no ultimo ano. Que é isso, comparado com a produção total?

Ai meu caro diretor geral, o que a conjetura do cantoneiro diz é simples: que é tudo uma falta de cultura que anda por aí na manutenção.

2 comentários:

  1. Deverá colocar estas questões ao Director Geral de uma qualquer Empresa que não Metro, pois essa figura não existe na nossa estrutura organizacional.
    Não me sendo a missiva dirigida, mas para lhe dar o meu ponto de vista, aqui vai a minha opinião.
    A manutenção, como todas as outras actividades realizadas pelos seres humanos, envolvem riscos. Os riscos podem ser potenciados quando as metodologias de manutenção são geridas por incompetentes (e não é preciso muito longe, para o mar, para os encontrar). Neste caso não são as metodologias e os métodos que falham, são as pessoas que deviam ter a capacidade e os conhecimentos (gosto mais dos termos portugueses) para avaliar as situações que não são as mais adequadas ao exercício das funções que lhes são pedidas. Erro de gestão ao escolher pessoas insuficientemente qualificadas para as funções. Sempre erros de gestão.
    Às vezes são também erros de projecto onde os sistemas de supervisão são mal projectados e supervisionam variáveis e dimensões que não são as criticas e/ou adequadas para se poder fazer diagnóstico à distância. Erros de projecto meu caro, muito comuns numa casa que ambos conhecemos. Erros de projecto…são da responsabilidade do “Director Geral dos Projectos”.
    O trabalho em equipa – projectistas; técnicos de manutenção – que muitas vezes é recusado pelos projectistas (será que isto não lhe parece uma realidade duma empresa que ambos conhecemos?) é a única forma de poder reduzir a probabilidade de acidentes deste tipo ocorrerem.
    Por agora não tenho mais nada a comentar. Se um dia for “Director Geral” de alguma coisa, por exemplo da irmandade da castanha, logo emitirei outra opinião.
    José Osvaldo Bagarrão

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  2. Caro José Bagarrão

    Não tenho o dom da concisão.
    Veja a resposta ao seu comentário em nova mensagem deste blogue.
    Obrigado

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