sexta-feira, 25 de março de 2011

Os benefícios do censo

O censo é muito util.
A sua utilidade é válida para todos nós, especialmente na sua versão e-censos.
O censo é uma oportunidade para jovens com dificuldades de emprego ganharem algum dinheiro.
A filha de uma amiga minha distribuiu rapidamente os seus questionários e pôde assim dedicar-se calmamente ao seu emprego numa grande empresa.
Fez depois, aos fins de semana, as voltas necessárias para os últimos contactos, combinando os encontros pelo telemóvel.
A interação entre os recenseadores como ela e a população tem sido uma mais valia para a população.
Cada freguesia tem um centro de censos e é com base nesse centro, recorrendo ao telemóvel e à Internet, que a filha da minha amiga organiza a sua atividade.
Eu tive uma pequena dificuldade.
No dia da distribuição dos questionários não estava em casa e por isso tive de ir ao tal centro de censos da minha freguesia.
Imagino que se a minha freguesia fosse maior, como agora os decisores querem que sejam, fundindo várias numa só, eu teria mais dificuldade em resolver a entrega do meu questionário preenchido.
Porque tive de me deslocar, primeiro, à sede da junta de freguesia, onde um cartaz me informou que os assuntos do censo eram no liceu rainha dona Leonor e onde eu informei a menina funcionária da junta que o numero de telefone 800 que estava no cartaz para tirar duvidas estava errado porque não era o 800 20 20 11 mas sim o 800 22 20 11.
Se as freguesias já tivessem sido fundidas talvez o centro não tivesse ficado sediado no liceu Dona Leonor, quiçá teria ficado no Hospital Julio de Matos, de acesso mais desafogado, ao fim da avenida de Roma.
É conversa de "marketing", essa de que com a reformulação do mapa das freguesias vai haver mais proximidade.
É capaz de não haver, é capaz.
Mas voltemos às minhas deslocações em plena era da teleinformática. Antigamente ia-se para uma fila e ficáva-se lá a manhã inteira a falar com os vizinhos de circunstancia, que forneciam pretexto para amáveis conversações, amigos efémeros, como dizia o Álvaro de Campos do companheiro de 18 horas de viagem de comboio, no seu poema:
 "Saí do comboio,/Disse adeus ao companheiro de viagem/Tínhamos estado dezoito horas juntos.../A conversa agradável/A fraternidade da viagem./Tive pena de sair do comboio, de o deixar./Amigo casual cujo nome nunca soube./Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas.../Toda despedida é uma morte.../Sim toda despedida é uma morte./Nós no comboio a que chamamos a vida/Somos todos casuais uns para os outros,/E temos todos pena quando por fim desembarcamos./Tudo que é humano me comove porque sou homem./Tudo me comove porque tenho,/Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,/Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira./A criada que saiu com pena/A chorar de saudade/Da casa onde a não tratavam muito bem.../Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo./Tudo isso vive, porque morre, dentro do meu coração./E o meu coração é um pouco maior que o universo inteiro."

Agora, com tudo organizado em torno da Internet,  fui rapidamente atendido no centro do censo da minha freguesia, mas tive de lá voltar uma hora depois porque a menina que me atendeu deu-me o código do alojamento, mas só a minha recenseadora (repararam  no calor humano e na proximidade desta expressão, a minha recenseadora?) me poderia dar o código de acesso e a palavra chave para eu poder preencher o questionário pela Internet.
E nem a minha recenseadora, com quem falei por telemóvel, tinha à mão os elementos com o código, porque estava no trabalho e só à hora de almoço podia enviá-los para a colega do centro.
E só podia encontrar-se comigo no sábado, mas no sábado não podia eu, e não tinha deixado os elementos na minha caixa do correio porque estava cheia de publicidade não pedida.
Salvo melhor opinião, o sistema é pouco eficiente por ter demasiadas regras desligadas da realidade, como por exemplo aquela ideia de escrever nas instruções que era preferencial responder  pela Internet no próprio dia 21 de março, pelo que não devemos admirar-nos do sistema informático ter ido logo abaixo, como no dia das eleições...
E assim foi, por isso voltei lá uma hora depois para recolher os elementos de acesso às respostas pela Internet.
Aproveitei para admirar as obras de remodelação e expansão do liceu, tão publicitadas há poucos meses, como prova da capacidade do governo em fazer obras urgentes por ajuste direto, que isto do novo código de contratação pública, quando se quer e se tem vontade de achar que uma obra é imprescindivelmente urgente, não obriga nada a fazer concursos públicos, como foi este caso.
As obras ficaram muito bonitas, mas os pobres dos diretores e diretoras estão agora a pagar faturas de iluminação aumentadas de forma exagerada e, nalgumas escolas, o isolamento térmico e a ventilação dos edifícios padecem de grandes deficiencias.
Isto é, os projetos são feitos à pressa e sem grande preocupação pela eficiência energética.
O que quer dizer que se gastou dinheiro no investimento e está a gastar-se  e irá gastar-se dinheiro no desperdício energético que resulta das obras.
Uma pena, como se costuma dizer, porque se dá carta branca aos senhores arquitetos para fazerem obras vistosas e sibaríticas.
Mas bonitas, como se pode ver.
Já não sei onde apontei o custo da obra do liceu Dona Leonor, conforme anunciava o cartaz da ordem, mas talvez tenha sido da ordem de 4 a 5 milhões de euros.

A estética paralelipédica pode ser dicutivel, mas a ligação à arquitetura mediterrânica estimula a adesão de quem vê. A fixação das pedras de revestimento será anti-sísmica?


                                                         Átrio. Alto relevo da rainha Dona Leonor. Reparar que são três andares. O átrio é assim um vazio com cerca de 17 metros de altura cruzado por alguns passadiços. Infelizmente o senhor arquiteto não considerou os riscos de queda a que sujeitou a população adolescente por natureza irrequieta. Também não teve a minima preocupação em facilitar o trabalho e reduzir os riscos de acidente de trabalho a quem tenha de substituir as lampadas e os sensores de incendio no teto
                                                                                   A iluminação zenital é um componente válido, mas como é chocante a falta de consideração por quem tem de fazer a  manutenção das instalações. Isto para não se falar no desperdício energético em termos de aquecimento.





























E então, uma vez na posse do código e da palavra chave, a coisa correu menos mal com a Internet, passe o susto de às tantas sobrevir o PUFF! Mas o programa vai gravando todos os passos e entrando novamente com o código de acesso tudo se recuperou.
Talvez não devesse haver tantos passos, talvez não fosse precisa tanta lentidão em cada passo, e cada passo podia ser mais compacto, desde que  houvesse menos perguntas, também, embora se compreenda a redundancia de muitas, daquelas para ver se a pessoa está concentrada nas respostas.
Porque com tantos big brothers, estando tanta coisa de cada um nas bases de dados por aí, talvez não valesse a pena fazer tantas perguntas... mas enfim, como ia dizendo, o censo é muito útil, veja-se por exemplo o caso dos transportes:

em 1991:   41%  das pessoas iam a pé para o emprego,         e em 2001:  baixou para 25%
em 1991:   31%  iam de transporte coletivo para o emprego,  e em 2001:  baixou para 25%
em 1991:   27%  iam  de transporte privado para o emprego, e em 2001:  subiu para   49%

Vai ser muito interessante  ver a evolução para 2011; mas por estes números se pode ver a distorção existente nas áreas metropolitanas de Portugal.
O peso do transporte individual é insustentável.
Será indispensável fazer investimentos (parques de estacionamento "park and ride" à chegada das autoestradas às cidades, linhas automatizadas de pequeno gabarit "on demand", por exemplo) que permitam com eficácia subir a quota do transporte coletivo.
Temos duas ameaças: a primeira é a desculpa agora em voga: não existe dinheiro para investimentos (apesar dos milhares de milhões de euros todos os anos comprometidos com a aquisição de veículos ligeiros em Portugal); a segunda é a de se entregar a gestão do problema a concessionários estrangeiros (pode ser que eles façam os investimentos, nunca se deve perder a esperança, quanto mais não seja no velho provérbio: se santos da casa não fazem milagres...o problema será se os concessionários forem especialistas nacionais em cortes e pedidos de subsídios).

Referencias: DN, donde retirei os elementos estatísticos, de que destaco tambem o analfabetismo de 11% -9% -5% (previsão) em 1991-2001-2011 e a população com curso superior 4%-9%-13%(previsão).

PS  - Segundo o DN de 2011-03-28, o censo nos paises escandinavos é feito por cruzamento de dados dos registos atualizados nas bases de dados da administração publica. Passa-se isto desde 1981. Não era assim disparate a sugestão feita neste post. Será que os decisores têm isto como objetivo? Ou a ideia é continuarmos a ser diferentes dos escandinavos? (lembram-se da história do menino do Erasmus que copiou e por isso foi expulso de uma universidade finlandesa e depois o paizinho pediu ao embaixador e o embaixador pediu a reintegração do menino e o reitor disse ao embaixador que tivesse paciencia mas não podia ser? e aquele estagiário duma fábrica que ficou muito admirado porque o colega sueco que lhe tinha dado boleia chegou mais cedo e deixou o carro no lugar mais afastado do parque para deixar os lugares mais próximos da entrada livres para quem chegasse atrasado? e aquele turista que teve de se sujeitar a seguir na fila de Volvos a 60 km/h numa estrada larga e retilínea, porque o limite era esse e todos o cumpriam? - tremos de continuar assim? não podem mesmo mudar-se as mentalidades, como pedia Vitor Alves, capitão de Abril?)

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