terça-feira, 8 de março de 2011

A Física explicada por palavras simples aos economistas

Penso que naquelas coleções de livrinhos de divulgação, "a ciencia X explicada por palavas simples a ..." faz falta um com este título.
É que os economistas têm uma formação muito boa em matemática.
Alguns até ganharam prémios Nobel com modelos matemáticos extraordinários.
Têm também uma boa compreensão jurídica das coisas.
Sabem explicar por que aconteceu um fenómeno, embora não o tenham conseguido prever.
Mas falta-lhes a perspetiva e os conceitos da Física.
Não conseguem envolver o raciocínio físico nas suas análises.
Sabem o custo de um produto.
Não sabem o valor desse produto.
Ficam aquem do seu significado físico.
Sabem calcular o PIB, mas não sabem como funciona ou se é útil o produto cuja transação entrou no cálculo do PIB.

Então eu vou tentar ajudar a compreender alguns conceitos físicos.
A Física é a ciencia que estuda a matéria e a energia e todas as interações entre os seus componentes.

1 - as variáveis multiplas. O universo a que se aplica a Economia é composto por muitas variáveis obedecendo a estatísticas de difícil modelização ou com correlações fracas entre elas.  Estudar a variaçao de uma variável ou a relação entre duas, fixando os valores das restantes variáveis será apenas uma abstração ou um modelo que não representa  realidade, embora possa servir para a estudar. Pense-se no movimeno browniano  das moléculas de um gás num recipiente. Por uma questão de humildade, podem os economistas pensar que esse é o significado físico dos conjuntos de variáveis económicas. Que os elementos dos conjuntos que estudam,desde as movimentações nas bolsas até às tendencias dos mercados, seguem mais as leis estocásticas do que as decisões racionais
2 - fenómenos transitórios. Existem na natureza fenómenos transitórios, cujo nome significa que a passagem de um estado para outro nunca poderá ser instantânea. Por exemplo, um automóvel leva tempo para se imobilizar (o que o automobilista devia ter em conta nas passadeiras de peões), a corrente elétrica não passa instantaneamente a zero quando se abre um interruptor (porque a variação do fluxo magnético associado à corrente elétrica é proporcional à tensão elétrica gerada e esta não pode ser infinita; por isso salta o arco elétrico até  corrente se extinguir). É dificil na economia distinguir um fenómeno transitório dum estado estacionário, porque as variáveis são de facto muitas e as correlações entre elas pouco definidas, e a escala do tempo pode complicar a análise; então no jogo bolsista...
3 - a oscilação é um fenómeno natural. Ocorre quando a força excitadora contraria o que está a sair do sistema. Este introduz um tempo de atraso, não pode responder instantaneamente às solicitações, e pode inverter o sentido da solicitação. Se a solicitação pretende que a saída aumente, isto é, se se pretende que o sistema seja um amplificador, é necessário que a sua ação chegue à saida do sistema conjugando esforços. Caso contrário, temos que uma medida que num dado instante iria produzir um bom resultado, acaba por produzir o efeito contrário porque a constante de tempo ou os circuitos internos do sistema lhe alteraram o sentido (a fase). E o sistema, sem regulação externa, acaba por ir oscilando ao longo dos anos; por exemplo, mediando grandes depressões com períodos de crescimento...
4 - o princípio da conservação. Um sistema isolado tem um nivel de energia constante. Não há criação de energia, o que há é conversão de uma forma de energia noutra. Por exemplo, a energia elétrica transformada em calor no aquecedor, a energia química potencial do petróleo convertida em energia mecânica. Os próprios preços, se entendidos como unidades de transferencia de potencial de aquisição, e portanto analogia de transformação de energias, serão constantes num sistema isolado. Isto é, se um preço é demasiado baixo, como diz o anuncio do grande grupo de distribuição, é porque outro ou outros são demasiado altos. Ou se o preço de um produto chinês é demasiado baixo, é porque os salários de quem o produziu foi comprimido em benefício de outro recoletor do rendimento (isto é, as mais valias não nascem de geração espontânea, estão sob a forma potencial os respetivos fatores de produção). E outro exemplo: é dificil  poupar num fator de produção; isso pode significar que se está a desperdiçar noutro (o que se economiza na reciclagem do lixo pode não compensar o excesso do consumo que produz o lixo; a economia em lampadas fluorescentes pode desperdiçar-se na sua reciclagem, se se fizer a reciclagem, claro; o que se economiza num investimento, que não se faz, pode perder-se no adicional de gastos devido à sua ausencia).
5 - fatores de ponderação. As variáveis que contribuem para um resultado final podem ter coefcientes diferentes em funão da sua importancia para esse resultado. Embora seja um fenómeno matemático perfeitamente dominado pelos economistas, a incompreensão fisica das causas de cada fator de ponderação pode levar os economistas a recomendar cortes cegos, isto é, cortar na mesma proporção independentemente da ponderação ou do rendimento de cada variável. Por exemplo, numa transportadora de comboios elétricos, o esforço de economia da fatura elétrica deve concentrar-se nas poupanças na tração elétrica e os consumos de iluminação e de força motriz devem ser contidos comparativamente com os consumos de tração elétrica; cada fator deve ter o seu tratamento diferenciado.
6 - custo da energia nos transportes. É vulgar as análise de custos dos sitemas de transporte esquecerem tods as variáveis e os prncípios físicos. Por exemplo, considera-se  o transporte rodoviário mais económico do que o ferroviário; considera-se o transporte individual como mais eficaz. O problema é que o transporte rodoviário assenta no contacto roda de borracha-asfalto, a que está associado um coeficiente de atrito superior ao do transporte ferroviário. Foi por isso que se desenvolveu o transporte ferroviário. É necessária menos energia por peso deslocado, quer no arranque, quer na manutenção do movimento. Evidentemente que o peso "morto" de um veículo ferroviário não poderá consumir a economia relativa ao modo rodoviário quando comparado com o peso morto de um veículo rodoviário. Mais uma vez entra aqui o conceito de dimensão ótima.
Por curiosidade, compare-se a energia de tração (energia na roda) necessária para deslocar um passageiro durante um quilómetro e 2 minutos, a uma média de 30 km/h:
-  num comboio metropolitano com ocupação média de um quarto da capacidade : 60 Wh  ; 
-  num automóvel com ocupação média de 1,3 passageiros : 350 Wh (6 l/100 km)
Igualmente os encargos com a construção, manutenção e exploração das infraestruturas ferroviárias não deverão absorver as economias, obtidas com a eficiencia energética do transporte, quando comparados com os encargos de construção, manutenção e exploração das infrsaestruturas rodoviárias. É que as análises económicas têm a tendencia para esquecer a inclusão dos custos de construção, manutenção e exploração das estradas e os custos de produção, transporte, refinação e distribuição dos combustíveis quando comparam com os custos e rentabilidade dos investimentos ferroviários, nomeadamente o TGV. Tambem há tendencia para esquecer os benefícios por economia de tempo de trabalho devido aos transportes coletivos por evitarem os engarrafamentos.Também têm tendencia para esquecer, no caso do transporte aéreo, os custos de construção, manutenção e exploração dos aeroportos, incluindo as deslocações dos empregados, e as emissões de gases com efeito de estufa dos aviões, dos aeroportos e de todas as atividades subsidiárias.
Graças a estes esquecimentos e a uma mais lenta evolução tecnológica no modo ferroviário relativamente ao modo rodoviário, assistiu-se a um crescimento exagerado (para o que tambem contribuiu o dogma neoliberal da livre iniciativa para o negócio dos camionistas) do transporte de mercadorias nas autoestradas europeias. A própria UE teve de introduzir diretivas para o desenvolvimento do transporte de mercadorias pela ferrovia e por via maritima. e a Suiça teve de introduzir fatores de limitação do tráfego pesado rodoviário de atravessamento.

Passe a imodéstia, poderá ter interesse para os economistas a consideração do post:

 http://fcsseratostenes.blogspot.com/2010/08/calculos-para-investimento-em-redes-de.html

e do powerpoint com a problemática dos custos de energia, das emissões de CO2  e das poupanças nos transportes, que fiquei a dever aos estudos do Imperial College sobre transportes metropolitanos:

http://cid-95ca2795d8cd20fd.office.live.com/view.aspx/Metros%20potential%20to%20reduce%20energy%20consumption%20and%20GHG%20emissions/NOVA%20versao%20base%2022out09%20PPT%20DESENV%20%20POTENC%20%20METROS%20P%5E_REDUZIR%20CONSUMOS.pptx

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