segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Le quattro volte, ou o carbono nas nossas vidas



“Le Quattro volte” (“As quatro vezes” – a língua portuguesa tem um problema, o título dado em português foi “As quatro voltas”) filme de 2010 de Michelangelo Frammartino, filmado numa região rural da Calábria.

Surpreendente pela clareza da análise do mistério da vida.
Lembrei-me da “Árvore da vida” de Terence Malick, que é uma visão norte americana que privilegiou a imagem.
O filme italiano chama-nos a atenção para o que esquecemos: “o homem tem dentro de si quatro vidas, que deve conhecer:  mineral, vegetal, animal, racional”… dependente, como mineral, do carbono para viver, e é carbono, também, embora nos encham o coração com a poesia do oxigénio e do azul refratado.
Agora que a União Europeia concedeu um prémio de 500 milhões de euros para a investigação sobre as aplicações do grafeno (material monocamada de átomos de carbono) na microeletrónica, é interessante ver como é importante o átomo de carbono para a humanidade.
No filme “As quatro vezes” mostra-se a produção de cavão vegetal segundo a técnica tradicional, com a combustão de pequenos troncos em ambiente pobre em oxigénio devido à terra que cobre os troncos.
Trata-se de uma técnica de pouco impacto ambiental (o anidrido carbónico emitido tinha sido previamente sequestrado por fotosintese) a que os governos deveriam dar  mais atenção.

E parece que não fui só eu que considerou o filme muito acima da média. O crítico do Guardian também gostou:

Passou agora na RTP2, no ciclo 5 noites, 5 filmes, juntamente com aqueles extraordinários “Aldeia de cartão” de Ermanno Olmi, sobre  imigrantes africanos em Itália e as questões das culturas diferentes, e  “Welcome” de Philip Loiret, sobre o imigrante curdo que jogava futebol como Ronaldo e se afogou na travessia a nado do canal da Mancha.
A Europa devia pensar melhor em como acolher a imigração e em como atenuar as causas que levam à emigração a partir dos países africanos (ensina-me a pescar, não me dês o peixe).
Estes filmes já tinham passado na RTP2 em Maio do ano passado:

Mas as audiências da RTP2 são tão pequeninas, e a programação dos canais concorrentes não deixa sequer um dia para um pouco mais de cultura de olhar o mundo para além do imediato (e ainda querem “privatizar” o canal).
E os críticos de televisão não parecem querer saber.

Pode ser essencial o equilíbrio das contas públicas de um país (e das contas privadas, contudo escondidas), mas este problema, o de como fazer chegar às pessoas filmes como estes, e falhar essa disseminação, em favor do entretenimento dominante, isso compromete um país.
Salvo melhor opinião, claro, eventualmente da maioria que não pensa como eu, ou do governo, que a maioria elegeu.

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