segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Vox populi



Gosto de ler as entrevistas e as crónicas dos grandes economistas; sempre tento aprender alguma coisa, embora a maior parte das vezes me dê volta ao estômago, por causa daquela definição dada por um deles : “economista é aquele que sabe o custo das coisas, mas ignora o seu valor” (eu costumo acrescentar: “nem sabe como elas funcionam”).

Mas nalgumas circunstancias, penso que aprendo mais a ouvir pessoas normais, daquelas que trabalham sem angustias existenciais e conhecem as dificuldades do dia a dia económico.

De um mecânico de automóveis: “Está bem que se andou a gastar dinheiro de mais e agora é preciso cortar (e eu a concordar; as vezes que eu pedi aos colegas da construção civil que fizessem projetos mais modestos, que não nos obrigassem a gastar tanto dinheiro depois na manutenção das estações), mas não deviam quebrar isto. Ao menos dessem mais tempo”.
“Isto” é a economia, é o tal dia a dia económico, que faz mexer as pessoas e as coisas.
“Quebrar”.
Não tinha ainda ouvido uma palavra tão expressiva para definir a política económica do senhor ministro Vítor Gaspar.

De um estofador de móveis: “Não, não fabricamos em Portugal tecidos tão bons como os importados. Mas fazemos os sofás e estofamo-los melhor que as grandes marcas de nomes italianos e franceses. Somos muito bons a fazer e a estofar móveis.”
A firma do senhor tinha seguido todas as regras de otimização do negócio, desde a diversificação (vende tecidos de noiva e para fatos de marchas de Santo António; fabrica cortinados à medida a partir dos componentes importados; faz decoração de interiores) à concentração de unidades mais pequenas de modo a ficar no sitio certo da curva dos rendimentos ainda não decrescentes. E aplicava a teoria da vantagem comparativa, sem ter estudado Ricardo nem frequentado os seminários dos “clusters” de Peter Drucker. Devemos concentrar-nos no que sabemos fazer bem, por mais imitações que se lhes possam seguir. E se não fabricamos tecidos com 75% de poliéster e 25% de algodão, melhor será importá-los, desde que se possa evitar com o fabrico de sofás nacionais a importação de sofás de marcas pretensiosas e desde que outras fábricas portuguesas possam produzir as fibras têxteis que os fabricantes espanhóis de tecidos possam por sua vez importar. Não deve existir nenhuma diretiva europeia que contrarie esta vantagem comparativa portuguesa, mas acho que o senhor ministro Álvaro Santos Pereira podia dedicar mais atenção ao negócio dos sofás e restantes móveis.

Sem comentários:

Enviar um comentário