quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Se 10% dos 400.000 automóveis que diariamente ...

Se 10% dos 400.000 automóveis que diariamente se movem na área metropolitana de Lisboa mudassem da tração por combustíveis fósseis para tração elétrica (por baterias ou por células de combustível alimentadas por hidrogénio),
e se a origem dessa tração elétrica estivesse na produção de energia elétrica a partir de geradores eólicos e de centrais hidroelétricas com bombagem,
talvez fosse uma contribuição significativa para a diminuição da importação de petróleo e para o reequilíbrio do saldo orçamental.

Grande parte dos veículos elétricos para deslocações intra metropolitanas poderá ser de aluguer partilhado (aumentando  o tempo de vida útil do carro de família para deslocações interurbanas e de fim de semana, embora não reduzindo a importação porque os veículos elétricos teriam de ser importados) com recarga das baterias nos pontos de concentração desse aluguer; mais ambicioso será o plano de produção descentralizada de hidrogénio por eletrólise em postos de abastecimento junto das vias rápidas, alimentados pela rede elétrica nacional (como se o hidrogénio fosse transportado, embora com mau rendimento, pelas linhas de transmissão, justificando-se o esquema pela produção de energia eólica sem custos de importação, considerando a elevada componente nacional no fabrico dos geradores, e pela reduzida taxa de emissão de CO2, apenas na fase de fabrico e instalação dos geradores).





Considerando então que os 10% de automóveis percorrem em média, cada um, 20 km por dia, com um consumo de 6 l/100km, e que o fator de agravamento do poço à roda (well to wheel) é de 1,3 , teremos para necessidades de importação diária para manter esses 10% a funcionar com petróleo:

400.000 x 0,1 x 20km x 0,06 l/km x 1,3 = 62.400 l 

O que equivale aproximadamente a 56 tep (toneladas equivalentes de petróleo) ou 653.000 kWh  (energia primária).
Admitindo o preço do petróleo de 120 dólares/barril (159 l) teremos para os custos de importação diária com os 10% em causa:

((120$/1,3)€ /barril)  x  (62400 l/ 159 l) =  36.220 €

ou, por ano:

36.220 x 300 ~ 10 milhões de euros

Para evitar esta importação, a eletrificação de 10% de automóveis com baterias elétricas, considerando 20% de perdas na rede elétrica de transmissão e distribuição  e 70% de perdas ou de reserva de descarga das baterias, e um consumo na roda do veículo elétrico de 0,25 kWh/km, conduziria ao consumo primário diário de:

 40.000 x 20km x 0,25 kWh/km x 1,2 x 1,7 = 408.000 kWh

e ao custo anual, para o fornecedor de energia primária, considerando 10 centimos/kWh:

408.000 kWh x 300 x 0,1 €/kWh ~ 12 milhões de euros



Voltemo-nos então para o hidrogénio e  conversão da frota de 10% de automóveis em veículos com célula de combustível, o que permitiria evitar a rede de aluguer partilhado (porque a autonomia dos veículos permitiria que eles fossem o “carro da família”) .
Infelizmente, o hidrogénio não é uma energia primária, nem uma panaceia barata, nem uma cornucópia de facilidades.
É apenas um portador de energia (energy carrier)  que, tal como as baterias, tem capacidade de ser armazenado e de armazenar energia (1 kg de H2 <> 10 kWh).
E tem custos elevados de produção por eletrólise (os outros processos exigem o consumo de gás natural ou outros combustíveis de origem fóssil), cerca de 50 Wh por 1 kg produzido.
Considerando 1,2 de perdas este fator 5, teremos para o consumo diário de energia primária para 10% de veículos com célula de combustível e tração por hidrgénio:

40.000 x 20km x 0,25 kWh/km x 1,2 x 5 = 1.200.000 kWh

com os custos anuais de:

1.200.000 kWh x 300 x 0,1 €/kWh ~ 36 milhões de euros

Uma produção diária de 1,2 milhões de kWh poderia ser obtida, em média, com uma produção eólica diária de 25%, por uma potencia instalada de

1.200 MW / 6 h = 200 MW
com custos de investimento da ordem de 200 milhões de euros.


 O que leva a colocar a pergunta, cuja resposta parece muito difícil:

 - quantas vezes poderá o custo de exploração de ativos e      
   consumíveis exclusivamente   nacionais  
   (incluindo  custos  de  investimento),
   ser superior ao custo de ativos e consumíveis importados?




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