Não é importante, mas o observador entretem-se por vezes a comentar casos sem importancia. Talvez seja mais um exemplo da estranheza que os portugueses suscitam em estrangeiros.
Estar a discutir coisas sem importancia, quando tanta coisa grave nos acontece.
Também pode ser que seja mais um exemplo de que a lingua portuguesa não é muito clara e de que nós portugueses temos dificuldade em exprimir as ideias de modo a serem bem compreendidas, complicando-se a coisa quando pensamos que há uma relação intima entre os mecanismos cerebrais e a formação da linguagem.
Terá sido por uma ou por todas estas razões que o embaixador de Espanha depois de vir a Lisboa apresentar a candidatura de Filipe II de Espanha ao trono português (apresentar a candidatura também é uma forma de expressão; o castelhano também manifesta dificuldades de expressão) regressou a Madrid e começou o seu reatório ao rei dizendo que "los portugueses, pero son gente mui estraña". Querendo possivelmente dizer o mesmo que o cronista romano: "não se entendem sobre o seu governo nem deixam que ninguem os governe" (e contudo, se pedissemos aos paises escandinavos que nos fornecessem um grupo de técnicos para administrar a coisa pública por uns tempos talvez não fosse mau; desde que não se demorassem muito por cá, que estas coisas pegam-se).
Já foi dado neste blogue o exemplo do telemóvel. No Brasil diz-se celular (exprimindo a natureza da rede de emissores GSM), em França portable, que é o que ele é, em Inglaterra celular phone. Mas alguém em Portugal juntou telefone e radio móvel.
Outro exemplo, em qualquer país do mundo temos a meteorologia. Em Portugal temos o instituto do mar e da atmosfera.
Nas comunicações em congresso fala-se muito em "case studies".
Uns traduzem por "estudos de caso", e outros por "casos de (para) estudo".
Realmente os anglo-saxónicos têm uma gramática diferente: quando dizem "case", não é certo que seja um "caso" o substantivo. O seu cérebro fica à espera que o fim da frase lhe diga qual é o substantivo, o que é que vai aplicar-se ao "caso". O caso ficou em "stand-by". E só depois se conclui que é o "caso" que é o objeto de um "estudo".
Precipitadamente os portugueses acham que é o "caso" o substantivo, e que se o "estudo" vem depois só pode ser para servir o "caso", isto é, é um "caso de ou para estudo".
Linguagens precipitadas (e contudo, em inglês consegue-se normalmente exprimir a mesma ideia com menos palavras, missing you e saudade é uma das exceções), utilizadores de linguagens que não esperam pelo fim das frases, ou dos raciocinios, para tirar conclusões ou responder, facilmente se afastam da realidade, e em cada troca de frases mais se afastam dela.
Não admira assim que seja dificil aos portugueses entenderem-se.
Não acham que isto dava um caso de estudo, perdão, um estudo de caso?
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