Contam as más-línguas, como se costuma
dizer, que o processo de nomeação por D.José do marquês de Pombal para secretário
de Estado se deveu ao conselho da mãe do rei, viúva de D.João V e filha de um imperador austríaco. Perguntando à sua aia, Dona Leonor Ernestina de Daun, da
alta nobreza da imperial Viena, mulher do marquês de Pombal, quem deveria
recomendar ao filho, a senhora com a maior das franquezas respondeu que devia
ser o marido.
Lembrei-me
do episódio ao ver a noticia do livro de Maria João Avillez sobre o ex-ministro
Vítor Gaspar, escrito sob a forma de entrevista.
O
senhor ex-ministro conta que, no período em que Catroga negociava
o memorando com o governo de Sócrates, antes das eleições que este perdeu,
tomou a iniciativa de falar com Catroga para lhe explicar “como funcionavam as
negociações financeiras internacionais e como se podia consolidar a
credibilidade junto dos mercados de obrigações”. Depois das eleições, o convite
para ministro das finanças veio através de António Borges, tendo aceite depois
de falar com a esposa.
São
assim os mecanismos de escolha em Portugal. Na câmara da mãe de um decisor
ignorante como um rei, ou no círculo de oriundos de juventudes partidárias em
torno do gestor não menos ignorante de empresas de formação, embevecido com os
seus professores da escola de Chicago.
Maria
João Avillez terá tido neste livro o mérito dos psiquiatras, de, perante um
caso difícil de narcisismo e de subordinação da perceção da realidade a crenças
ou manias (anteriormente, neste blogue, foi
apresentada a argumentação para o diagnóstico de hipomania para o senhor
ex-ministro das finanças) ter conquistado a confiança do paciente, deixando-o
falar com franqueza e sem a noção, como é típico dos que têm dificuldade de
perceção da realidade, da gravidade dos sintomas do seu comportamento, como, por exemplo, quando diz,
para justificar o contacto com Catroga: “Vi qualquer coisa na televisão que me
pareceu errado, e pensei: o melhor é tentar corrigir isto depressa, porque este
erro de perceção pode ser custoso para o país”.
Nenhum
psiquiatra pensará convencer por palavras, sem terapia de grupo e sem
fluoxetina, o seu paciente a deixar de ser imodesto, mitómano na sua obsessão
de proximidade com os grandes financeiros que têm conduzido as finanças da
Europa à ruína (para eles ao sucesso da deflação, da desindustrialização, do
desemprego e da redução das prestações sociais) e a convencer-se de que errou
no seu Excel.
A
própria carta de renuncia não é o reconhecimento de um cientista que errou e
aprendeu com o erro, mas sim que não aplicou a sua receita como deveria.
É
típico, é a realidade que tem de se submeter aos dogmas em que acredita, e não
a teoria económica que deve refletir a realidade.
E
segundo as más línguas, também, o senhor ex ministro escreveu a carta depois de
falar com a mulher sobre a célebre ida ao supermercado, quando a perceção da
realidade esteve muito próximo da realidade impactante do contacto físico com
concidadãos discordantes da sua politica económica.
É
agora o senhor ex ministro consultor do Banco de Portugal. Estará descansado.
Quando se reformar a sua reforma virá por inteiro, sempre, como ele repetiu à
entrevistadora, “no interesse nacional”.
Transcrevo
uma conclusão do livro de um professor de Harvard, "Economia para todos"
de David Moss, ed. Academia do livro:
"... alguns estudiosos de Macroeconomia ... preferem acreditar que as relações económicas definidas nos seus manuais são regras invioláveis.
"... alguns estudiosos de Macroeconomia ... preferem acreditar que as relações económicas definidas nos seus manuais são regras invioláveis.
Este tipo de arrogancia, ou estreiteza de
pensamento, torna-se um verdadeiro perigo para a sociedade quando afeta os
responsáveis politicos pela macroeconomia.
O responsável pela politica que acredita que
sabe exatamente como a economia irá responder a um estímulo específico é, na
verdade, um responsável politico muito perigoso".
Muito perigoso, de facto, o senhor professor
Vítor Gaspar.
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