quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O marquês de Pombal e o senhor professor Vitor Gaspar






Contam as más-línguas, como se costuma dizer, que o processo de nomeação por D.José do marquês de Pombal para secretário de Estado se deveu ao conselho da mãe do rei, viúva de D.João V e filha de um imperador austríaco. Perguntando à sua aia, Dona Leonor Ernestina de Daun, da alta nobreza da imperial Viena, mulher do marquês de Pombal, quem deveria recomendar ao filho, a senhora com a maior das franquezas respondeu que devia ser o marido.
Lembrei-me do episódio ao ver a noticia do livro de Maria João Avillez sobre o ex-ministro Vítor Gaspar, escrito sob a forma de entrevista.
O senhor ex-ministro conta que, no período em que Catroga negociava o memorando com o governo de Sócrates, antes das eleições que este perdeu, tomou a iniciativa de falar com Catroga para lhe explicar “como funcionavam as negociações financeiras internacionais e como se podia consolidar a credibilidade junto dos mercados de obrigações”. Depois das eleições, o convite para ministro das finanças veio através de António Borges, tendo aceite depois de falar com a esposa.
São assim os mecanismos de escolha em Portugal. Na câmara da mãe de um decisor ignorante como um rei, ou no círculo de oriundos de juventudes partidárias em torno do gestor não menos ignorante de empresas de formação, embevecido com os seus professores da escola de Chicago.
Maria João Avillez terá tido neste livro o mérito dos psiquiatras, de, perante um caso difícil de narcisismo e de subordinação da perceção da realidade a crenças ou  manias (anteriormente, neste blogue, foi apresentada a argumentação para o diagnóstico de hipomania para o senhor ex-ministro das finanças) ter conquistado a confiança do paciente, deixando-o falar com franqueza e sem a noção, como é típico dos que têm dificuldade de perceção da realidade, da gravidade dos sintomas do seu  comportamento, como, por exemplo, quando diz, para justificar o contacto com Catroga: “Vi qualquer coisa na televisão que me pareceu errado, e pensei: o melhor é tentar corrigir isto depressa, porque este erro de perceção pode ser custoso para o país”.
Nenhum psiquiatra pensará convencer por palavras, sem terapia de grupo e sem fluoxetina, o seu paciente a deixar de ser imodesto, mitómano na sua obsessão de proximidade com os grandes financeiros que têm conduzido as finanças da Europa à ruína (para eles ao sucesso da deflação, da desindustrialização, do desemprego e da redução das prestações sociais) e a convencer-se de que errou no seu Excel.
A própria carta de renuncia não é o reconhecimento de um cientista que errou e aprendeu com o erro, mas sim que não aplicou a sua receita como deveria.
É típico, é a realidade que tem de se submeter aos dogmas em que acredita, e não a teoria económica que deve refletir a realidade.
E segundo as más línguas, também, o senhor ex ministro escreveu a carta depois de falar com a mulher sobre a célebre ida ao supermercado, quando a perceção da realidade esteve muito próximo da realidade impactante do contacto físico com concidadãos discordantes da sua politica económica.
É agora o senhor ex ministro consultor do Banco de Portugal. Estará descansado. Quando se reformar a sua reforma virá por inteiro, sempre, como ele repetiu à entrevistadora, “no interesse nacional”.
Transcrevo uma conclusão do livro de um professor de Harvard, "Economia para todos" de David Moss, ed. Academia do livro:    
"... alguns estudiosos de Macroeconomia ... preferem acreditar que as relações económicas definidas nos seus manuais são regras invioláveis.
Este tipo de arrogancia, ou estreiteza de pensamento, torna-se um verdadeiro perigo para a sociedade quando afeta os responsáveis politicos pela macroeconomia.
O responsável pela politica que acredita que sabe exatamente como a economia irá responder a um estímulo específico é, na verdade, um responsável politico muito perigoso".
Muito perigoso, de facto, o senhor professor Vítor Gaspar.



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