terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A manutenção e o estádio do Benfica

Verificou-se em Portugal um movimento de apoio popular à construção de estádios para o campeonato de futebol de 2004.
Grandes empresários de construção civil convenceram a opinião pública que ficava  mais barato construir estádios novos do que reparar os velhos. 
Essa afirmação devia-se às lacunas na formação técnica dos senhores empresários, ignorando o "saber como" da manutenção e conservação dos estádios antigos e aos interesses imobiliários que permitiriam construir a preços mais baixos habitação cara nos terrenos dos antigos estádios.
O facto de voarem chapas de cobertura em dia de ventos fortes não é em si grave.
Grave foi o reconhecimento por um senhor ligado às obras do novo estádio que a manutenção que tem sido feita terá lacunas.
Há aqui outra doença. As técnicas construtivas usadas nos estádios de 2004 foram atrás das modas da época, utilizando massivamente componentes metálicos que exigem mais manutenção do que o clássico betão armado. Muito pouco tempo depois da inauguração do estádio foi necessário proceder à repintura de toda a estrutura da cobertura (numa construção clássica, como os pórticos da ponte Vasco da Gam, tambem foi necessário recobrir as armaduras com betão por deficiencia na construção, só que a partir do momento que a reparação seja bem feita o intervalo de manutenção é maior do que no caso dos elementos metálicos). E o tempo está passando sem que se renove a pintura. Não admira que a corrosão ataque os elementos de fixação, se é que foi por isso que as chapas voaram (podem ter voado simplesmente por a espessura não suportar os esforços do temporal nos elementos de fixação). 
Em qualquer caso, parece que o processo construtivo escolhido, isto é , o projeto, corresponde a custo mais elevados de manutenção e a intervalos mais curtos de manutenção.
Isto é, não foi observado o principio Life Cycle Cost . Mas na altura, andámos todos (quase todos, há sempre quem seja do contra) muito contentinhos com os estádios que foram construidos em tempo recorde. 
Tambem no metropolitano fomos vítimas da moda dos compnentes metálicos na construção. Todo o pavimento intermédio da nave da estação Baixa Chiado está "aparafusado" às paredes resistentes por centenas de pernos roscados em buchas metálicas. Na estação Cais do Sodré é o passadiço longitudinal da nave que é suportado por elementos metálicos. O construtor forneceu os manuais de manutenção (não foi preciso o Tribunal de Contas lembrar que isso é necessário) e espera-se que os cortes dos senhores governantes não acabem com a capacidade das equipas de engenharia de manutenção para  manter a situação sob controle. 
A propósito deste tema, teremos de lamentar as mortes por pressas na construção e por recurso a componentes metálicos pré-fabricados nos estádios de futebol brasileiros ( a técnica é interessante, foi utilzada com sucesso na construção do estádio olimpico de Londres, com a particularidade de ser desmontável, mas eu insisto que tem custos mais elevados de manutenção e de prevenção de tempestades). E de compreender os protestos da população: "Não queremos a copa, queremos saúde, educação e transporte". Isto é, não querem o que o pensamento globalizante deseja, o entretenimento, e querem o que esse pensamento já se revelou incapaz de proporcionar na medida em que aumenta as desigualdades através do próprio crescimento económico.
Será que a atração coletiva pelo futebol vai fazer esquecer a grande falha deste pensamento globalizante?
Isto é, depois da tempestade passar todos esquecerão a necessidade de se fazer manutenção?
Também podemos pensar que saúde, educação e transportes faz parte dos princípios de uma saudável manutenção de uma sociedade.
É isso, manutenção tem custos.
É compará-los com os benefícios.

Sem comentários:

Enviar um comentário