Agora, que vivemos sob o ímpeto desmantelador do conceito do metropolitano como serviço público prestado por um operador público, e menosprezador dos seus ativos humanos, físicos e intangíveis, faço esta reflexão a propósito da saída de dois diretores/supervisores/reguladores do Banco de Portugal para a Price Waterhouse Coopers.
Este blogue, correndo o risco de dizer disparates mas no uso do direito de expressão, tem defendido sistematicamente que a regulação só poderá ser exercida com eficácia, isto é, garantindo que as forças do mercado atuem no interesse coletivo, se a entidade pública detiver "know-how", experiencia e conhecimento rigoroso do negócio. E que isso só se consegue se exercer a mesma atividade que os regulados.
Que o mesmo é dizer, só se pode regular aquilo que se conhece (não é aceitável que um governador de um banco central de um país se pronuncie sobre um grupo económico que está a afetar toda a economia desse país com base no relatório desse grupo do trimestre anterior, nem que sejam prestadas informações a Bruxelas quando já estava decidido fechar o banco desse grupo 4 dias depois mantendo as ações em bolsa) e se se tiver informação sobre os off-shores envolvidos (o que se consegue com legislação internacional sobre transmissões automáticas de informação, vulgo fim do sigilo bancário).
Nem tão pouco é aceitável que um banco central nacional se demita das suas funções, por perda de informação, a pretexto do BCE assumir a supervisão dos bancos de primeira linha.
Assim, ao que se assiste é apenas a uma transferencia de funções da esfera pública para a esfera privada (neste caso a PriceWC).
As declarações desta, disfarçando tratar-se de uma promiscuidade inaceitável entre o setor público e o setor privado, sem o mais pequeno período de nojo, constituem assim um verdadeiro Mein Kampf, anunciando o que se pretende, o controle da supervisão pelos supervisionados.
Como diria António Aleixo a propósito desta enorme inovação, calai-vos, que pode o povo querer um mundo novo a sério.
PS em 8 de novembro de 2014 - A propósito das declarações do senhor primeiro ministro também sobre a prosmicuidade entre o poder politico e o poder financeiro e empresarial (esquecendo a promiscuidade do anterior secretário de Estado do seu partido Oliveira e Costa e do seu banco BPN/Sociedade Lusa de Negócios com a esfera politica, e as suas ligações ao que seria presidente da República para obtenção de mais valias, e esquecendo as tentativas de angariação pelo secretário de Estado Relvas de contratos de formação de operadores de aeródromos com fundos comunitários para a sua própria empresa), eu sei que as técnicas de marketing partidário são assim, atirar poeira para os olhos dos eleitores lançando as acusações que se recebem dos adversários politicos sobre esses mesmos adversários. Ouve-se assim o senhor primeiro ministro assegurar virginalmente que é contra a prosmicuidade entre o poder politico e o poder empresarial e financeiro. Ouve-se, e pensa-se na resposta torta de Millor Fernandes, já sei o que é e o que faz, só quero discutir o preço.
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