“Para propósitos sociológicos, uma cidade pode ser definida
como um estabelecimento relativamente grande, denso e permanente de indivíduos
socialmente heterogéneos”.
Louis Wirth, “Urbanism as a way of life”,1938,
citado por
cartaestrategica.cm-lisboa.pt
Lisboa, “um lugar de muitas e variegadas gentes”
Fernão Lopes, Crónica de D.João I
São 16:30 de um dia normal de segunda feira.
Se normal poderemos chamar a um dia em que grande parte da população
ativa, como definem os manuais de estatística, não precisou de viajar de
metropolitano porque está desempregada.
Mas a cidade pulsa, apesar de tudo, apenas a um ritmo mais modesto,
dir-se-ia que abaixo das suas potencialidades, e o comboio de 3 carruagens na
linha verde do metro segue quase cheio.
Indiferente à polémica que os comentadores bem falantes e os
comentadores dos comentadores nas suas caixas de comentários da internet vão
alimentando sobre os problemas da empresa, rasgando as vestes sempre que,
perante a ameaça da subconcessão a privados, são decretadas greves.
Serão fechados os rostos de quem entra na carruagem, atormentados pelos
parcos ganhos de um dia de trabalho, compensada a tristeza pelo bulício dos
jovens estudantes.
Mas repare-se melhor.
Os sons eslavos da senhora loura com o cabelo apanhado atrás que não se
cansa de falar no telemóvel batalhando os seus com os sons que se cruzam com
ela da conversa entre dois indianos que a ladeiam. Mais atrás, um turbante sik,
mesmo ao lado de um cidadão talvez angolano que poderia ser um basquetebolista
da NBA com os seus dois metros de altura. O rapazinho negro que está sentado ao
lado não deixa o jogo do seu telemóvel.
Entram de rompante em Martim Moniz duas chinesinhas e um senhor chinês
mais velho.
E há tambem a italiana de brinco na narina que responde ao seu acompanhante
com a sua voz musical.
E a mulatinha brasileira, as duas turistas inglesas, a suave cabo-verdiana
e a senhora de traços de uma qualquer ilha do Pacífico.
O senhor já de idade, japonês, que ar tão sereno, sentado entre dois
caucasianos, comigo são três, ao todo, que a italiana e o acompanhante já saíram,
neste bocado da carruagem.
Que eu não tenho a certeza de ser caucasiano, a avaliar pelo cabelo
frisado, de caracóis de período curto, da minha tia e do meu tio. Dizia-se que
um africano do norte de África tinha vindo dos campos do Alentejo até à aldeia
da Beira da minha bisavó e nela deixara os seus genes.
Da diversidade pode ser que retiremos a recuperação futura, deste “melting
pot”.
Chegamos a Arroios e é aqui que deixo a sugestão.
Arroios é a única estação em cujos cais não cabem comboios de 6
carruagens.
A sugestão é simples, a de chamar a atenção para a necessidade da obra
de ampliação.
Eu sei que o colega arquiteto já tem o projeto pronto, mas faltará
vontade dos decisores da empresa de submetê-lo a candidatura dos fundos
comunitários de coesão.
Se a linha verde é uma linha da globalização, do paquistanês das lojas
de telemóveis do Intendente, da chinesinha bonita da loja chinesa de frutas da
praça do Chile, aos turistas dos hotéis da Almirante Reis, há que disponibilizar
alguns excedentes dos países ditos desenvolvidos da União Europeia para reduzir o défice nacional.
É que a fórmula do saldo orçamental é dada pelo investimento privado
mais investimento com fundos comunitários, mais exportações, menos importações
e menos poupanças.
Eu sei que os portugueses não gostam de matemática, mas esta é uma
fórmula simples.
Voltando à sugestão, vamos tentar juntar o útil ao agradável,
aproveitando as características paradoxais, ou a dualidade, do que quer que
seja.
A próxima greve poderá ser declarada como parcial, com o fecho da estação
Arroios. Como serviços mínimos poderemos definir 4/5 dos comboios do serviço
normal. Só que os comboios do dia da greve serão de 6 carruagens.
Isto é, a capacidade horária da linha, em dia de greve, porque está
fechada a estação Arroios, subirá 60% apesar de haver menos comboios e menos
maquinistas, por ser dia de greve. Assim se conquistaria a simpatia dos
passageiros para com os objetivos da greve.
Poderá até pensar-se numa navette com dois autocarros elétricos cedidos pela
EFACEC (um deles de reserva) para circulação entre as estações de Anjos, Arroios e Alameda.
E passada a greve, poderá pensar-se em fazer a obra, dando prioridade ao
acréscimo dos cais, para o serviço da estação não estar interrompido muito
tempo.
PS em 20 de novembro - poderá parecer ligeiro o modo de abordagem, possivelmente para quem possa levar-se a si próprio a sério demais. Mas há um assunto que parece estar a transformar-se num pesadelo para o país. Termina em fevereiro de 2015 o prazo de apresentação de candidaturas á comissão europeia para fundos comunitários. Grassa entre os decisores a ideia de que as verbas devem ser transferidas das infraestruturas para os apoios às empresas. Não vão ser apresentados projetos de infraestruturas, apesar do trabalho do grupo dos IEVA e apesar da orientação europeia de melhorar a eficiencia energética dos transportes. O periodo de aplicação dos fundos vai ser mais um tempo de imobilismo, que nos tempos que correm equivale a uma regressão. É doloroso.
PS em 20 de novembro - poderá parecer ligeiro o modo de abordagem, possivelmente para quem possa levar-se a si próprio a sério demais. Mas há um assunto que parece estar a transformar-se num pesadelo para o país. Termina em fevereiro de 2015 o prazo de apresentação de candidaturas á comissão europeia para fundos comunitários. Grassa entre os decisores a ideia de que as verbas devem ser transferidas das infraestruturas para os apoios às empresas. Não vão ser apresentados projetos de infraestruturas, apesar do trabalho do grupo dos IEVA e apesar da orientação europeia de melhorar a eficiencia energética dos transportes. O periodo de aplicação dos fundos vai ser mais um tempo de imobilismo, que nos tempos que correm equivale a uma regressão. É doloroso.
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