A duquesa de Mantua tentou acalmar os conjurados de 1640 e apelou à sua compreensão, que era difícil aos portugueses organizarem-se e atingirem em grupo objetivos de utilidade coletiva. Que rea melhor juntar forças com Espanha (teria sido, na verdade, se a condução da política espanhola não fosse na altura suicidária, de que os gastos militares e o corte das relações comerciais com a Holanda eram os melhores exemplos).
Ignoro se lhes recordou o dito do embaixador de Filipe II ao regressar a Madrid a dar-lhe conta das suas diligencias para apresentação da candidatura ao trono de Portugal: que os portugueses são gente estranha.
Isto a propósito da polémica dos receios da espanholização da banca nacional. Até há um manifesto de que, por sinal, um dos principais subscritores é administrador do El corte ingles.
E mais seriamente, para deixar aqui registado que uma das tragédias da gestão da coisa pública portuguesa é a sistemática incapacidade, porque não é dada aos técnicos a possibilidade de tomada de decisões, de coordenar com Espanha a gestão satisfatória para o interesse nacional:
- das águas dos rios internacionais, incluindo os transvases dos excessos do Douro para as faltas do Guadiana, e os riscos da radioatividade no Tejo de Almaraz
- dos portos, quando Sines está quase isolado por ausencia de ligação ferroviária em bitola europeia e tem um volume de movimentos menor quando comparado individualmente com Algeciras, Cadiz , Valencia e Tanger
-das interligações elétricas que permitiriam exportar para a Europa o excesso de capacidade instalada
- das ligações ferroviárias de alta velocidade e de mercadorias em bitola europeia
A triste realidade é esta, o poder político tem sido incompetente e ignorante nestas questões e os técnicos com conhecimentos não estão organizados nem aproveitados.
O plano tecnológico de 1970 foi um exemplo de bom planeamento, tal como a sua confirmação pelo V governo provisório (Sines, a que na altura os imobilistas chamavam elefante branco, a regularização do Baixo Mondego, o Alqueva, a que os imobilistas votavam à falta de água, à extinção de espécies aquáticas e a desastres sísmicos, o novo aeroporto, que os imobilistas conseguiram parar).
E assim vamos agora, sem projetos concretos a apresentar nas candidaturas aos fundos comunitários, Europa 2020, CEF energia e transportes, plano Juncker...
... nesta apagada e vil tristeza, como escreveu Camões.
PS em 25 de março - não posso evitar pensar novamente na duquesa de Mantua, ao ler que o Santander-Espanha enviou instruções ao Santander Totta para apoiar os clientes dos swaps quando a baixa exagerada das taxas de juro de referência os ameaçou. O Santander de Lisboa achou que não valia a pena. Pode ser o argumento mais forte no tribunal de Londres... não ter havido espanholização...
PS em 28 de março - segundo o DN, o XXI governo anunciou que vai candidatar a novas sinalização e a eletrificação da linha de Cascais aos fundos do plano Juncker por 126 milhões de euros (parece correta esta estimativa, mas só para sinalização e eletrificação). Mas duvido que o procedimento esteja a ser correto (oxalá me engane), porque o dinheiro dos fundos só vem contra projetos já feitos, e credíveis. A CP ou a REFER estarão a fazê-los? E o novo material circulante, estará alguém a estudá-lo? e a reabilitação da via férrea, também? E vai tudo ser em bitola ibérica? (claro, claro, para permitir a interligação; é mesmo necessário interligar com a rede de bitola ibérica? não se aproveita para ir mudando? ou vamos continuar orgulhosamente sós na ilha ferroviária?). O XXI governo também anunciou que vai submeter o plano de investimentos ferroviários a candidatura de fundos comunitários. Já estão feitos os projetos? E falou em Pampilhosa-Vilar Formoso? quando se faz uma auto-estrada, por razões de curvas horizontais e verticais não se aproveita a estrada antiga; na ferrovia acham que se pode; não aprenderam com o desperdício da linha do norte, paciência; depois não se admirem que se suspire pela "espanholização".
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