Sem querer desculpar os corruptores e os corrompidos, vive-se com exagero a cultura do pelourinho, esquecendo a velha parábola, de quem estiver livre de culpa que atire a primeira pedra.
Foi assim que na imprensa se noticiou como escandalosa a existencia na Odebrecht de um departamento exclusivo para subornos, e que na documentação dos pagamentos se encontram os que neste momento no Brasil propõem o impeachment da presidente, quase todos. O que faz lembrar a interrogação de Jô Soares: este é corrupto, certo, mas cadê os outros?
Não esquecer ainda as condenações nos USA da Siemens, por suborno em adjudicações de concursos, perto do ano 2000, em casos que não foram noticiados em Portugal.
Este é um mundo cão.
Os ténicos da Odebrecht desenvolveram um trabalho de extrema qualidade na obra da estação do marquês de Pombal e das linhas da Baixa.
A Odebrecht fez os toscos da galeria de metro desde os Restauradores e desde o Rossio até Santa Apolónia e o Cais do Sodré.
Resolveu problemas que técnicos ingleses tinham declarado impossíveis.
Ainda bem que, a haver corrupção, ela deixava de fora os seus excelentes técnicos na obra (contrariamente a uma grande construtora portuguesa que tinha o descaramento de levar para as reuniões de coordenação e controle de obra grupos de advogados e não engenheiros, para explorar as fraquezas do clausulado do caderno de encargos e para receberem bonus apesar dos atrasos na obra, sempre justificados com as más condições climatéricas).
Chegados ao fim do contrato das linhas da Baixa havia depois que construir a estação de Terreiro do Paço e a de Santa Apolónia (partindo o túnel e envolvendo-o com a estação).
A Odebrecht não subornou a administração do metro e esta mandou fazer um concurso público que a Teixeira Duarte ganhou. Os técnicos da Odebrecht pediram para termos muito cuidado, mas possivelmente o pedido não chegou ao ganhador.
A Teixeira Duarte foi responsável pelo maior desastre da engenharia portuguesa, o abatimento do túnel do Terreiro do Paço (desculpou-se com o seu subempreiteiro carotador, o responsável direto pelo desastre, que fez os 13 furos-carotes sem fiscalização do metro nem da Teixeira Duarte).
Este é um mundo cão, a Odebrecht teria evitado o desastre, se tivesse subornado a adminstração do metro.
Prefiro corruptos que fazem, do que puros que fazem asneiras.
Recordo o que a Teixeira Duarte fez no túnel do Rossio da CP. Ou não fez, mais precisamente, não foi capaz de cumprir o caderno de encargos do contrato que tinha ganho, executando a obra pelo preço contratado.
Ou por outras palavras, é mais fácil corrigir e evitar a corrupção de bons técnicos do que corrigir as asneiras de maus técnicos. Deu muito trabalho, inclusivamente à própria empresa, corrigir o erro da Teixeira Duarte no Terreiro do Paço, e ainda levaram um bónus por terem construido a estação doTerreiro do Paço em tempo reduzido.
A corrupção é uma doença, e como qualquer doença deve ser tratada como prevenção. A repressão deve fazer-se mas em segundo plano se comparada com a prevenção. Que se faz com o respeito pelos mecanismos de democracia direta e participativa e funcionamento transparente das equipas técnicas e gestoras de constituição por concurso e nunca por delegação de comissários partidários.
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