quinta-feira, 3 de março de 2016

Je vous salue, Marie, The last temptation, o crime da aldeia velha, o evangelho segundo Saramago, os dois dads da igreja metodista, a manifestação em Luton, o meu país prometido, a dança dos demónios

1 - Je vous salue, Marie, filme de Godard
https://fr.wikipedia.org/wiki/Je_vous_salue,_Marie

João Paulo II afirmou que o filme feria gravemente os sentimentos religiosos dos crentes, um cinema foi incendiado em Tours, e em Lisboa fizeram-se amargas manifestações e declarações de desagravo e de protesto, com o então presidente da câmara de Lisboa rasgando as vestes como no evangelho. O filme enternece... e o enternecimento é bom para o espírito

2 - A última tentação de Cristo,filme de Scorsese, sobre o livro de Nikos Kazantzakis. Um cinema incendiado em Paris, mais manifestações de ofendidos em Lisboa.
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Last_Temptation_of_Christ_(film)

3 - o crime da aldeia velha, peça de teatro de Bernardo Santareno. Trata a vontade sádica dos rituais de castigo da diferença, de imolação da minoria que não se comporta como a tradição dominante
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4 - o evangelho segundo Saramago - deu origem ao episódio caricato de um senhor secretário de Estado da cultura se queixar de que o livro não retratava os sentimentos dos portugueses

5 - o cartaz à porta do templo da igreja metodista é claro: Jesus também teve dois papás, e saiu-se muito bem. O cartaz francês  é esteticamente muito bonito. A montagem do BE saiu "kitsch". Fez-me lembrar a montra de uma loja na Almirante Reis, uma pessoa passava e olhava para a imagem de Cristo, e dois passos depois via-o a piscar o olho, graças às lamelas pintadas com orientações diferentes, mas como pouca gente reparava, não deu protestos

reproduzido do DN

6 - a manifestação em Luton  - este video circulou pela internet há uns tempos, com mensagens sugerindo grande preocupação. De facto existe intolerancia, mais ou menos religiosa, mais ou menos tribal e sociológica, dos dois lados. Penso que associada a deficientes desempenhos do sistema de educação, a muito elevadas taxas de desemprego e ao predomínio de correntes de pensamento que estimulam a desigualdade. Recordo o primeiro presidente do Paquistão: "antes de muçulmanos, devemos ser cidadãos" e a necessidade de contextualizar no tempo os ensinamentos bíblicos e corânicos. Até Lutero ordenou contra os anabatistas "Matem os camponeses onde os encontrarem".  A verdade é que, como a reporter Stacey Dooley (https://en.wikipedia.org/wiki/Stacey_Dooley ) testemunhou, assim é dificil dialogar; contextualizemos então o versiculo 33-1 na guerra que o profeta conduzia ("pondera as ordens dadas pelos hipócritas e por quem não é de confiança") :



7 - Alentejo prometido - sou um admirador das edições da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Por não gostar de comprar nos supermercados Pingo Doce laranjas de Espanha, camarões do Equador e pevides da China (incrível, não é? isentar o transporte das mercadorias de uma taxa de carbono moralizadora, como até Vitor Gaspar já reconheceu). No seio da sociedade Jerónimo Martins, com sede fiscal na Holanda porque os acionistas americanos o querem (Soares dos Santos o disse na TV, que eu vi e ouvi), existe afinal a semente do progresso na diversidade de opiniões e a liberdade de expressão. Por isso é inaceitável o clima de ameaças e de insultos a Henrique Raposo pelo seu livro Alentejo prometido. Eu realçaria outros aspetos do Alentejo, os aspetos positivos da reforma agrária, porque chamámos Catarina à nossa filha, por exemplo, mas cada qual pensa como pensa. E até diria que sou parecido com os alentejanos, também me é dificil exprimir por gestos o carinho pelos meus netos. Agora ameaças não, não é aceitável. Só se sente ofendido quem se sente inseguro. Valha-nos Freud.

8 - E para fechar a lista de intolerancias (ou de denúncias de intolerancias) que o sistema educacional deveria combater, cito o livro coordenado por António Marujo e José Eduardo Franco, "Dança dos demónios, intolerancia em Portugal", edição Círculo dos Leitores. Tentemos um esforço de entendimento, mesmo que o português não seja uma língua fácil para nos entendermos, e mesmo que as nossas mentes ainda estejam demasiado fechadas e não gostem de se abrir ao pensamento dos outros, ou mesmo que estejamos sempre de pé atrás, à espera que perturbem a nossa insegurança.

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