Está agendada para 5 de julho de 2019 a
discussão na Assembleia da República de dois projetos de resolução e uma
petição propondo a revisão do plano de expansão do metropolitano de Lisboa:
Projeto de resolução do PEV recomenda investimento no metropolitano
e plano expansão que sirva as populações (contem texto do projeto de
resolução):
Petição do concelho de Loures com 31314 assinaturas
(contem links para o texto da petição e o texto do relatório final) :
Projeto de resolução do PSD:
Espera-se que os representantes do governo
que se apresentarem a defender a linha circular na Assembleia sejam confrontados
com algumas questões que contrariam a sua sobranceria e autoconvencimento de
que a sua solução é a melhor, nomeadamente:
- forneçam um estudo que compare, em  tráfego
     gerado, a linha circular com o prolongamento a Alcântara Mar em estação
     sobreelevada
 - forneçam o estudo em que assenta o EIA com a
     comparação da linha circular com o prolongamento S.Sebastião-Campo de
     Ourique
 - reconheçam que a propagandeada vantagem de maior
     atração de passageiros corresponde mais ou menos ao acréscimo de
     passageiros que o metro vem tendo de há 3 anos para cá, sem ter feito
     obras; é
     irrelevante a estimativa de 9 milhões de novos passageiros: são cerca de
     27 mil passageiros por dia num total de cerca de 500 mil, comparáveis à
     margem de erro da estimativa; ou 5,6% do total de passageiros de 2017,
     porque o crescimento anual sem linha circular de 2016 para 2017 foi de
     5,42% e de 2017 para 2018 de 4,77% ; de 2016 a 2018 o crescimento foi de 10,44%, sem linha circular 
 - reconheçam que o EIA contrariou o PROTAML2002, em
     vigor, que defendia o prolongamento para Alcântara e a linha circular
     externa em LRT Algés-Loures-Sacavém
 - aceitem um raciocínio simples matemático, que a
     fiabilidade de uma linha circular é inferior à do conjunto das 2 linhas
     separadas equivalentes (probabilidade de avarias simultâneas nestas 2
     linhas igual ao produto das probabilidades em cada linha e portanto menor)
 - aceitem que a sua linha circular de Londres tão
     querida deixou de o ser em 2009 por razões de operacionalidade, passando a
     ser em espiral ou laço, como aliás se propõe no caso de o governo
     conseguir impor a construção do troço Rato-Cais Sodré, poupando-se assim a
     agressão dos novos viadutos de Campo Grande
 - reconheçam que não é correto apresentar como
     justificações para a linha circular que a frequência dos comboios será
     maior (porque nas linhas separadas também se pode aumentar a frequência a
     niveis identicos),  e que para ir de Cais Sodré à Av.Republica
     atualmente são precisos 2 transbordos, quando é apenas um (Cais
     Sodré-Alameda e Alameda-Saldanha)
 - aceitem que todo processo de justificação do
     empreendimento da linha circular tem falhas do ponto de vista formal que
     justificam a sua impugnação, nomeadamente:
 - o plano de expansão foi elaborado em
      2009 sem discussão interna no metropolitano, por iniciativa da tutela e
      da administração, sem que os técnicos com experiência na operação e na
      manutenção pudessem corrigir as suas deficiências, responsáveis por
      acréscimo de consumo de energia e de desgaste de material, destacando-se
      o número excessivo de bifurcações, curvas apertadas, declives acentuados,
      previsão de novas estações no intervalo entre as estações existentes
 - a existência de uma linha circular numa
      rede de metropolitano pode ser muito útil devido às possibilidades de
      rebatimento de outras linhas. Mas para isso é necessário que existam
      linhas radiais ou transversais que a alimentem e que constituam caminhos
      alternativos em caso de avaria ou perturbação na linha circular, às quais
      ela é mais sensível. Uma linha circular tem ainda mais dificuldade de
      regulação traduzida na frase: “continuous circulating compounds delays,
      terminating trains absorb delays” .  Esta foi uma das razões para a transformação
      da Circle Line de Londres de circular em espiral ou laço, ironicamente no
      mesmo ano, 2009, em que era apresentado o plano em Lisboa. No caso de
      Lisboa, apenas existem 2 linhas transversais e as linhas suburbanas
      rebatem-se já sobre as linhas de metro existentes (linha da
      Azambuja-Sintra sobre Oriente da linha vermelha, Areeiro da linha verde, Entrecampos
      da linha amarela, Jardim Zoológico e Restauradores da linha azul; linha
      de Setubal sobre Jardim Zoológico da linha azul, Entrecampos da linha amarela
      e Areeiro da linha verde; linha de Cascais sobre Cais do Sodré da linha
      verde). A possibilidade da linha circular permitir o rebatimento da linha
      de Cascais e dos barcos sobre Cais do Sodré, apresentada como geradora de
      mais tráfego e decisiva pelo governo e o metropolitano, tem o
      inconveniente de sobrecarregar a estação de Cais Sodré, atualmente já com
      limitações. Tal como propunha o PROTAML de 2002, o rebatimento da linha
      de Cascais sobre o metropolitano far-se-ia com vantagem em Alcântara Mar,
      em estação sobreelevada, assim possam ultrapassar-se os constrangimentos
      que a política do imobiliário nesta zona suscite. Contraporá o governo e
      a câmara de Lisboa que querem a linha de Cascais ligada à linha de
      cintura. Os nós ferroviários não têm capacidade infinita. A estação de Campolide
      é um nó já sobrecarregado atualmente, atravessado pelo serviço suburbano
      de Setúbal, de Sintra-Azambuja-Alcântara-Rossio, pelo serviço
      intercidades, por mercadorias e com necessidades de manutenção, apesar da
      quadruplicação de alguns troços. Mais uma vez teriam de se utilizar
      bifurcações, com as inerentes limitações temporais por razões de segurança
      e suscetibilidade a perturbações, com alguns comboios a fazer Cascais-Cais
      do Sodré (é sabido o apetite imobiliário pelo troço Alcântara-Cais do
      Sodré, mas deverá prevalecer o interesse dos passageiros) e outros
      (poucos, da ordem de 3 por hora no máximo) a fazer Cascais-Alcântara-linha
      da cintura)
 - o plano de 2009 surgiu nas vésperas das
      eleições de 2009 e foi aprovado por uma assembleia intermunicipal, dado
      que incluía o serviço de várias zonas periféricas, mas não definia o
      calendário de execução nem o financiamento. Sublinha-se que o plano não
      foi sujeito a consulta pública.
 - A definição da execução da linha
      circular como prioritária dentre todo o plano de 2009 foi feita pelo
      próprio metropolitano, e, mais uma vez, não foi sujeita a consulta
      pública, como aliás o não foi a decisão de finais de 2016 de construir a
      linha circular
 -  A
      justificação dada pelo governo e pelo metropolitano para optar pela linha
      circular foi a de que “estudos” realizados por um consultor, comparando o
      tráfego gerado pela linha circular com o tráfego gerado pelo
      prolongamento S.Sebastião-Campo de Ourique, tinham demonstrado que seria
      superior o da linha circular. Não se contesta (embora outro “estudo” estime
      que os cerca de 2 km de construção para implementação da linha circular originem
      um custo financeiro por passageiro-km induzido da ordem de 35,4 centimos,
      e os cerca de 10 km dos prolongamentos de S.Sebastião e Rato para Algés e
      Alcântara Mar originariam 22,9 centimos), mas apesar de ter sido publicamente
      pedido ao metropolitano, em sessão na Ordem dos Engenheiros em abril de
      2018, esse estudo nunca foi fornecido, como mandariam as elementares
      regras do “referendum” entre pares do método científico, que se opõem ao “magíster
      dixit”.  Isto é, uma comparação consistente seria com o
      prolongamento a Alcântara, com a capacidade de rebatimento da linha de
      Cascais reduzindo o tempo de percurso entre Cascais e a avenida da Republica
      em Lisboa,  ou com outros prolongamentos incluídos no plano de 2009.
      Por outras palavras, mais uma vez o processo se furtou à aplicação
      correta da consulta pública.     
 - O Estudo de Impacto ambiental – EIA ,
      que exibe um bom nível técnico nas especialidades ambientais, de geo e
      hidrologia, de património, de socioeconomia, de mobilidade geral, mas que
      revela algumas insuficiências ao nível da exploração e manutenção de
      redes de metropolitano, limitou-se a estudar o prolongamento Rato-Cais do
      Sodré e novos viadutos de Campo Grande, escusando-se pois a comparar a
      linha circular com outros prolongamentos. Daqui se infere que a consulta
      pública a que foi sujeito omitiu, e refere-o expressamente,  o processo de validação do próprio plano
      de 2009 e a escolha da linha circular como prioritária. Isto é, submeteu
      a consulta pública o seguimento de uma decisão prévia que não fora objeto
      de consulta pública. O que juridicamente será provavelmente suficiente
      para impugnar o processo.
 - O relatório da Agencia Portuguesa do
      Ambiente – APA refere claramente que a maioria dos participantes da
      consulta pública apresentou argumentos contra esta linha circular, mas
      que o parecer favorável era dado definindo como relevantes os fatores “ Património
      e a Socioeconomia , a
      Geomorfologia e a Geologia, os Recursos Hídricos, o Ruído, as Vibrações a
      Qualidade do Ar, o Uso do Solo e a Paisagem” .  Isto é, foram considerados irrelevantes
      os fatores técnicos na perspetiva da operação e da manutenção. Para além
      do que parece ser uma incorreção por menorizar factos como futuros consumos
      adicionais de energia, custos adicionais de manutenção, dificuldades
      adicionais de operação . Conclui-se assim que os validadores do EIA
      assumem a responsabilidade por esses custos e dificuldades adicionais 
 - Razões técnicas recomendariam que fosse
      publicamente apresentada uma análise das razões de escolha do método NATM,
      quando o método da tuneladora TBM parece mais recomendável para terrenos
      como os da colina da Estrela, e que fossem dadas garantias de que no
      contrato de construção ficará claramente consignada a obrigatoriedade de
      monitorização permanente dos terrenos e habitações próximas e
      disponibilidade imediata, também permanente, de equipas e equipamentos de
      injeção de cimento e pregagens de estabilização de solos, de modo a
      tranquilizar os moradores afetados. Essa análise e essas garantias
      deveriam ser prestadas.
 - Igualmente parece uma incorreção do EIA a
      contradição frontal entre a linha circular aprovada pelo EIA e a
      expansão da rede proposta pelo PROTAML de 2002 (não estava prevista
      nenhuma linha circular) – reconhecem-se os constrangimentos urbanísticos
      em Alcântara que podem dificultar o prolongamento da rede de metro a
      Alcântara em viaduto, mas é urgente rever o PUA – plano de urbanização de
      Alcântara  . Essa contradição
      deveria ser corrigida
 - Sobre o facto do PROTAML em vigor datar
      de 2002, assinala-se que a revisão proposta em 2008, que aliás não entrou
      em vigor, não continha nenhuma linha circular e que o REOTLVT – relatório
      do estado do ordenamento do território de Lisboa e Vale do Tejo, sujeito
      a discreta consulta pública em 2018, é omisso sobre propostas concretas
      de linhas de transporte, limitando-se no domínio da mobilidade a
      apresentar estatísticas e orientações gerais. Poderá pois colocar-se a
      hipótese que, em questões de política de planeamento de organização do
      território como a dos transportes, impera, literalmente, a prática “top-down”
      
 - Para reduzir
     os inconvenientes da linha circular existe uma proposta de cidadãos para
     construção de uma linha em laço em vez de circular, a exemplo do que
     aconteceu em 2009 em Londres à sua linha circular – manter-se-ia a ligação
     Rato-Cais do Sodré, mas evitar-se-ia a construção dos dois novos viadutos
     de Campo Grande ; não é uma boa solução, dado perder-se a independencia
     das linhas amarela e verde e reduzindo assim a fiabilidade, mas minimiza
     os danos, evitando a redução do serviço de Odivelas, a agressão
     arquitetónica dos novos viadutos de Campo Grande e a complexa obra de
     adaptação dos viadutos existentes, que aliás obrigam à deslocação dos cais
     da estação com os graves inconvenientes inerentes
 - do lado oficial, foi também falada, a nível ministerial,
     uma ligeira alteração ao plano mas que não está prevista no caderno de
     encargos, a exploração “partilhada” da linha circular e da linha de
     Odivelas, o que irá aumentar as dificuldades de regulação das linhas,
     reduzir a sua fiabilidade e diminuir a frequência dos comboios, isto é,
     aumentar os intervalos (evocam-se aqui as dificuldades de operação da
     muito referida Circle Line de Londres, a qual também sofre da “partilha”
     com outras linhas, sem que seja aprovado financiamento para uma desejada
     separação)
 - Estimativa do intervalo entre comboios nesse caso:
 
o   
4 minutos
entre Campo Grande e Rato (15 comboios por hora e sentido)
o   
5 a 6,7
minutos de Rato por Cais Sodré a Campo Grande (12 a 9 comboios por hora e
sentido) 
o   
20 a 10
minutos entre Odivelas e Rato (3 a 6 
comboios por hora e sentido)
o   
12 a 10
minutos em Telheiras (5 a 6 comboios por hora e sentido)
o   
7,5 a 5
minutos entre Odivelas e Campo Grande (8 a 12 comboios por hora e sentido)
- Se for recusada a proposta de suspensão da obra da
     linha circular e de revisão do plano de expansão conforme os projetos de
     resolução e a petição em discussão, estaremos perante  um 
     facto  consumado depois de
     adjudicada a obra. Persistindo 
     a  recusa  oficial de aceitar a argumentação  técnica 
     que  lhe  é 
     contrária, decorrendo já  o
     concurso público para  a construção
     de 1956 metros do túnel Rato-Cais do Sodré, numa estimativa otimista de 120
     milhões de euros (o montante autorizado pelo governo para toda a
     construção incluindo expropriações, viadutos e equipamentos,  material circulante e CBTC é de 210
     milhões e a estimativa otimista do metropolitano é de 266 milhões), e  esperando-se  que 
     a  lei  da 
     contratação  pública  e o seu conceito de “proposta mais
     vantajosa”  não  venha 
     a prejudicar o curso do processo:
 - resta-nos exercer a cidadania para que
      as novas expansões das redes de transportes coletivos, não apenas do
      metro, decorram de forma diferente do que foi esta fase, 
 - que não sejam impostas, mas debatidas
      com transparência, com argumentos técnicos e sem factos consumados, e
      submetidas aos pareceres identificados dos membros do CSOP (conselho
      superior de obras públicas), LNEC  e Ordem dos Engenheiros – que se deseja
      se pronunciem também sobre as ameaçadoras propostas do BRT –bus rapid
      transit – na A5 e no Jamor-Restelo, e do enterramento da linha de Cascais
      em ligação à linha da cintura)
 
o   
e  exigir   
rigorosas    e    permanentes fiscalização, monitorização da
obra  e capacidade de intervenção em caso de acidentes geológicos 
 
          
mais informação:
A petição (https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalhePeticao.aspx?BID=13045), cuja discussão foi agendada é sobre a expansão a Loures e não sobre a linha circular.
ResponderEliminarÉ verdade, propõe a extensão do metro a Loures e a Sacavém sem prejuízo de outras extensões. No entanto, a atitude do governo tem sido a de dar prioridade à linha circular e ficar-se por aí, pelo menos nesta fase. A minha argumentação é contra esse carater prioritário, pelo que me parece coerente a discussão conjunta dos projetos de resolução com a petição.
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