A problemática da ferrovia poderá
decompor-se, com base na experiencia dos técnicos, numa relativa à parte
operacional, incluíndo a gestão da operação e movimento dos comboios e a gestão
da manutenção (infraestrutura s e material circulante), e noutra relativa à
parte de estudos, desenvolvimento e
expansão.
Colocar o problema de optar, num
contexto de contenção financeira, por dotar de verbas apenas uma das partes,
consistirá numa espécie de escolha de Sofia, do filme de Alan Pakula.
Se a parte operacional e de
manutenção não tiver verbas, a degradação dos serviços sobrevirá, mais cedo ou
mais tarde, mas chegará certamente, como se tem visto.
Se a parte de desenvolvimento não
tiver verbas, a degradação dos serviços sobrevirá também, mais cedo ou mais
tarde, por ineficiência devida à não utilização dos progressos das tecnologias
aplicáveis à ferrovia (por exemplo, material circulante de conceção antiga
gastará mais energia por passageiro-km ou por tonelada-km do que material
circulante moderno. E será por isso menos eficiente, podendo até ser ainda
menos eficiente do que o moderno transporte rodoviário).
A posição do XXI governo
sobre as ligações ferroviárias à Europa é um exemplo de desprezo pela
componente de estudos, desenvolvimento e expansão, e opção pela beneficiação,
modernização ou pequenos complementos da rede ferroviária existente, com os
problemas universalmente reconhecidos que ela tem (ver http://webrails.tv/tv/?p=32412 ).
A própria Medway, defensora a
todo o preço da bitola ibérica e da tração diesel, refere os problemas de
ineficiência devidos aos declives superiores a 1,2%, curvas de raio pequeno,
vias únicas sem zonas de cruzamento para comboios de 740 m, estado degradado
das vias e imediações, saturação de linhas (falta de espaço-canal em linhas
utilizadas pelo tráfego rápido, intercidades, regional, suburbano, de
mercadorias e períodos para manutenção), tempos elevados de deslocação entre
portos, dos portos à fronteira com Espanha e interligação com França.
Será portanto uma hipótese
plausível admitir que a política do XXI governo, assente na estratégia da
Medway, da Takargo e da DB/Arriva, embora permita a exploração do nicho de
mercado da rede ibérica remanescente em
Espanha e Portugal, servindo as plataformas logísticas de Vigo, Salamanca,
Badajoz (ligação a Puertollano) e Vitoria/Jundiz (ligação a Irun em bitola UIC
prevista para 2023), estará tamponada em termos de crescimento, por
inviabilizar, por ausência de infraestruturas adequadas, a ligação eficiente à
rede ferroviária europeia (ela própria a necessitar de expansão, nomeadamente,
no que nos diz respeito, o novo troço Bordeus-Dax-Hendaye).
Por outras palavras, será o
tráfego rodoviário a continuar a assegurar a parte de leão do transporte de
mercadorias, nacional e internacional.
O sucesso
do investimento no desenvolvimento de uma ferrovia nacional totalmente
interoperável com a rede europeia, nos termos do white paper de 2010, dos
regulamentos 1315 e 1316, das diretivas 2016/797 e 798, e do próprio tratado de
funcionamento da União Europeia (artigo 171: “ a
União realizará todas as ações que possam revelar-se necessárias para assegurar
a interoperabilidade das redes, em especial no domínio da harmonização das
normas técnicas”), e subsequentemente o sucesso duma ACB justificadora
dependerá :
- da efetiva transferência entre 10 e 30% do
tráfego de mercadorias internacional do modo rodoviário para o modo ferroviário
(os regulamentos citados prevêem 30% até 2030)
- do crescimento das exportações nacionais (volume
do tráfego internacional pelo modo rodoviário em 2015: 22.000 milhões de
toneladas-km; 800 milhões pelo modo ferroviário – os valores do tráfego
nacional são respetivamente 12.000 e 1900 milhões de toneladas-km), sendo que a
exportação de bens transacionáveis tem de crescer mais fortemente que o
crescimento da importação desses bens
- do crescimento da capacidade dos portos nacionais,
pelo menos dos portos de Sines e de Aveiro
- da retirada da definição da
estratégia para a expansão da ferrovia aos agrupamentos europeus de interesse
económico AEIE-AVEP e Atlantic Corridor RFC4 . Ver a sua estratégia em
-
da criação de uma estrutura hierarquicamente independente para o
desenvolvimento dos projetos de investimento na ferrovia interoperável e
submissão a candidaturas de fundos comunitários, com base em técnicos da
CP/REFER e por concurso
-
da adoção de uma ação diplomática que reivindique da UE e de França as medidas
necessárias à interligação das redes ferroviárias interoperáveis nacionais
(ver ponto de situação em 28abr2019 em
1 – Análise expedita comparando uma linha
nova Aveiro-Salamanca (programa TEN-T da UE) com a modernização da linha
existente da Beira Alta Aveiro-Pampilhosa-Vilar Formoso (programa Ferrovia 2020
e PNI2030 do XXI governo). Ver
Na situação atual existe a ameaça da nova
linha Aveiro-Salamanca (corredor atlantico norte) ser substituída no programa
europeu das redes transeuropeias de transporte TEN-T por uma nova linha
Leon-Vigo. Não existem projetos da linha Aveiro-Salamanca credíveis para
submissão a fundos comunitários. Por razões de operacionalidade de linhas de
mercadorias, esta linha terá de ser em via dupla (ver cálculo da capacidade de
uma linha em via única https://1drv.ms/x/s!Al9_rthOlbwenyatrAKijsErb1Xr ) e em traçado completamente novo, incluindo a
parte espanhola (daí o traçado por Almeida e não Vilar Formoso) para evitar as
pendentes e as curvas apertadas, poupando o desvio de Aveiro para Pampilhosa.
Notar que uma ACB anteriormente submetida a candidatura a fundos europeus
limitada ao troço Aveiro-Mangualde foi considerada insuficiente, precisamente
porque o traçado de Mangualde à fronteira era o existente, essencialmente
ineficiente.
O facto de não existirem atualmente
projetos credíveis para a linha Aveiro-Salamanca nem se vislumbrar a sua
encomenda pode recomendar atribuir a prioridade na realização de uma ACB ao
troço do corredor atlantico sul, Caia-Poceirão, o qual já dispõe de projeto de
execução realizado pelo grupo Elos cujo contrato foi anulado por falta de visto
do Tribunal de Contas (notar que o Estado foi condenado a pagar ao grupo Elos
150 milhões de euros de indemnização para suporte dos encargos com o projeto e
que a não aposição do visto do Tribunal de Contas teve por base a resposta
insuficiente aos quesitos postos à RAVE e à REFER). No entanto, será
conveniente proceder à realização da ACB da linha Aveiro-Salamanca para
competir na UE com a linha Leon-Vigo para o financiamento.
A análise expedita estima para uma
linha nova Aveiro-Almeida em via dupla e bitola UIC, com as pendentes e curvas
controladas, cerca de 4.000 milhões de euros, e para a modernização da linha
atual, com construção de estações técnicas de cruzamento de comboios de 740m,
estabilização de taludes e viadutos, e beneficiação geral incluindo o percurso
adicional Aveiro-Pampilhosa, cerca de 1500 milhões. A diferença seria muito
inferior ao valor das importações e exportações transportadas pela nova
ferrovia num prazo de 50 anos, assumindo que metade do tráfego seria por
ferrovia.
2
– Esboço de estudo comparativo do transporte de mercadorias (powerpoint
apresentado em 28fev2018 na Ordem dos
Engenheiros). Ver
O
objetivo deste pequeno estudo foi, para além de uma tentativa de integração na
evolução histórica, recolher informação sobre análises de custos benefícios já
realizados, como o estudo do Atlantic Corridor RFC4 quantificando a economia no
transporte ferroviário de mercadorias com a criação de zonas de cruzamento para
comboios de 740m (economia de 13% em percursos em Espanha com a bitola ibérica;
economia de 6% em percursos até Paris com a adoção da bitola UIC) e o estudo do
instituto Fraunhofer sobre os custos do não completamento das redes
transeuropeias (estimativa de perda anual do PIB de 294 mil milhões de euros na
UE, ou de 7 mil milhões no caso português. Ver
O
objetivo foi ainda de tentar calcular os custos por toneladas-km dos vários
modos de transporte, partindo das equações da
resistência ao movimento e cálculo da energia necessária para a vencer,
e comparar dois cenários, um com adoção da bitola UIC, construção de linha nova
e transferência de 30% do tráfego rodoviário para o ferroviário (ca 7400
milhões de ton-km). Cheguei a um valor de 0,4 centimos por ton-km para a
diferença de custos do transporte ferroviário em bitola ibérica na rede
existente (mesmo com construção de estações técnicas de cruzamento de comboios
de 740m) e em bitola UIC com linha nova, devido neste último à menor resistência
ao movimento com menores declives (custo adicional por necessidade de segunda
locomotiva nas rampas mais inclinadas) e raios de curva maiores. Ou 35 milhões
de euros de custos de produção a mais por ano no caso da rede de bitola
ibérica.
Comparando
com o transporte rodoviário, obtive uma diferença de 3 centimos por ton-km (mesmo com tração elétrica dos camiões, que
exige investimento avultado, o atrito roda-pavimento continua a impor maior
consumo específico de energia, além de se manter a questão do
congestionamento). Isto é, a solução para o futuro do transporte de longa
distancia por camião parece ser as autoestradas ferroviárias, ou transporte dos
camiões ou dos semirreboques em vagões apropriados. Isso já se verifica em
Espanha, mas continua a fazer falta percursos em bitola UIC para economizar no
tempo dos trajetos. Ver
3 – caso do
transporte de passageiros – comparação entre as ligações aéreas Lisboa-Madrid e
uma nova ligação de alta velocidade ferroviária Lisboa -Madrid
Segundo os anúncios de viagens aéreas, podemos estimar
um tráfego de passageiros da ordem de
1500 por dia por sentido Lisboa-Madrid. Numa ligação aérea de cerca de 550 km o
consumo de energia específico, por passageiro-km, é muito superior ao de
distancias de médio e longo curso, uma vez que a maior parte do combustível é
consumida na descolagem e não se beneficia da menor resistência ao deslocamento
nas camadas mais levadas da atmosfera. Esta circunstancia induz ainda uma
situação de risco quando as companhias low cost tentam reduzir o consumo através
da prática de descolagens com potencia reduzida. Por maioria de razão, o
consumo específico na ligação aérea Lisboa-Madrid é muito superior ao consumo
específico para um comboio de alta velocidade. Estimei uma diferença anual de
cerca de 71 GWh de consumo adicional
para o modo aéreo se o tráfego fosse repartido a 50% com o comboio de alta
velocidade (33,5 GWh para o comboio,
104,5 GWh para o avião). Ou uma economia de 3,5 milhões de euros por ano, para
além da redução de importação de combustíveis fósseis e emissões poluentes. Ver
Finalmente
gostaria de destacar os seguintes documentos da União Europeia relativos á
problemática das análises de custos benefícios:
guia para análise de custos
benefícios dez 2014:
transporte sustentável dez2018
Handbook de estimativa do custo
externo no s transportes, incluindo medidas de internalização, universidade de
Delft fev 2008
Apresentação em powerpoint “esboço de estudo…” :
Texto completo
Quadros Excel
com cálculos justificativos em :
Regulamento 1315/2013 :
Regulamento
1316/2013 :
Plano estratégico de infraestruturas e transporte de Espanha :
Texto de
Daniel Gros :
Atrasos do
Portugal 2020 :
Política
contra a “ilha energética” :
Comboio
DB Schenker para a Alemanha :
Parecer de
Alfredo Marvão Pereira :
Cimeira franco-espanhola de
2017-09-04 :
Penalização
do transporte rodoviário em França:
Linha de
alta velocidade Madrid-fronteira portuguesa :
Protestos da
Extremadura por melhores ligações ferroviárias :
Comboios holandeses movidos por energia sustentável:
Projeto do
tunel do Báltico Helsinquia-Talin :
Compromisso
do governo português em outubro de 2013 :
Posição
oficial da Infraestruturas de Portugal :
Posição
oficial do governo :
Estudo do
Instituto Fraunhofer sobre a rede transeuropeia de
transportes :
Auditoria do
Tribunal de Contas Europeu sobre o transporte ferroviário de
mercadorias:
Siim Kallas,
ex vice-presidente da Comissão Europeia : discurso Building a competitive
future for Europe’s ports, outubro de 2013 – “ports must be seen in a
pan-European context not a national one” :
discurso na
European Rail Freight Association, abril de 2014 – O futuro do transporte de
mercadorias na UE – “better connections with
ports and better service quality through the entire logistical chain” :
Entrevista
de Violeta Bulc ao Cinco Dias/El Pais e ao Expresso :
INE.Estatística dos
transportes em 2015 :
Equação do
movimento dos comboios, resistência ao movimento:
Custos
externos do transporte de mercadorias :
Repartição
de custos no transporte de mercadorias :
Cálculo da
capacidade de uma linha de via única :
Cálculo de
juros e financiamento :
Críticas à
rede ferroviária existente pelo Atlantic Rail Freight Corridor Observatory de
Novembro de 2017 :
“Perdemos a capacidade
de ver o mundo grande...ficamos fechados no nosso mercado pequeno” – António
Pedroso :
“O que é
hoje determinante é ... audácia, ousadia, a capacidade de associar conhecimento
à política industrial e ao sistema financeiro... Ou queremos aguardar que
outros surfem esta onda e nós vamos atrás?” – Jorge Moreira da Silva :
mudança bitola
Auto pistas
ferroviárias
email para C
Secchi
documento
técnico LCSilva/M.Ribeiro
Comentário a
artigo salgado matos 28nov2018
posição da CIP e dos principais
exportadores reclamando a ligação Aveiro-Salamanca, incluindo a análise
expedita de custos benefícios para um plano de crescimento do tráfego
ferroviário prof Mario
Lopes e cálculo capacidade linha de via unica:
Mapa linhas
AV atuais em Espanha e lista de linhas AV em construção (tráfego misto):
Corredor Atlantico (mapas e objetivos através de AEIE não
conformes com as redes transeuropeias TEN-T)
comparativo avião-comboio AV para Lisboa-Madrid
ponto de situação em 28abr2019
guia para análise de custos benefícios dez 2014:
transporte sustentável
dez2018
Handbook de estimativa do custo externo no s transportes,
incluindo medidas de internalização, universidade de Delft fev 2008
diretivas
2016/797 e 798
tratado de
funcionamento da União Europeia (TFUE) ver arts 170 e 171
redução de custos com a
bitola UIC
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