Fotografo o elétrico 28 no Chiado e sou fotografado.
Desço as escadinhas do S.Carlos e vou pela rua Capelo. Penso mais uma vez que podia fazer-se aqui um elevador para acesso à estação do metro por pessoas com mobilidade reduzida. Podia ser daquele modelo em que ao percurso na vertical se sucede, com a mesma cabina, um percurso horizontal, até ao mezannino da estação. Mas já sei, não há dinheiro.
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Viro à esquerda, estou na rua Ivens e novamente observo o estado da obra do numero 34 . Já tem a fachada limpa e mansardas novas.
Mais uma vez deixo o registo. Este prédio era do metropolitano de Lisboa, adquirido para instalar um par de elevadores para acesso da estação por pessoas com mobilidade reduzida. Era um imperativo legal. Ignorado e disfarçada a ignorancia com a aquisição duma plataforma elevatória na entrada da rua do Crucifixo, de utilização extremamente rara.
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Não se fez a obra porque o arquiteto premiado internacionalmente a quem o metro entregou o projeto de remodelação de toda a estação, em 1996, sem concurso (não haveria ópera de Sidney como a conhecemos se os australianos não fizessem concursos), entendeu que só uma obra excessivamente cara para os elevadores (5 milhões de euros) seria digna de si. O prédio foi vendido pelo metro para obras (não se admirem se der em alojamento local ou hotel, embora no letreiro fale em habitação). Ignoro o preço, porque o secretismo impera nos assuntos de interesse público, mas admito que tenha sido por um pouco menos de metade daquele valor. Assim se vê quanto vale para os decisores cumprir a lei das acessibilidades dos edificios públicos.
Desemboco na rua Garret e vejo um turista de meia idade, chapéu e casaco de quadrados, faz-me lembrar o Ben Crosby, agarrado ao guiador da trotineta, descendo a rua talvez a 20 km/h, portanto dentro das autorizações legais relativas à velocidade, qualquer coisa como 5,5 metros/segundo, mas, em contramão. Se o tempo de reação de um peão distraido for de 2 segundos e só der peloa trotineta a 5 metros de distancia, sobra-lhe pouco tempo para fugir.
Sendo que o código da estrada é claro, trata-se de um veículo de 2 rodas motorizado, deve cumprir o código como os outros veículos motorizados. Mas o turista americano não quer saber disso. Está num país apostado em oferecer a felicidade aos turistas a troco de poucos dólares, isso mesmo explicou o senhor secretário de Estado à polícia incrédula, que fechasse os olhos.
O americano cruza-se com um tuktuk que regressa ao seu ponto de repouso trazendo um casal jovem com um bébé. O bébé está ao colo da mãe que tem o cinto de segurança posto e o abraça com força. Inútil dizer à senhora que de nada serve a força muscular do seu abraço maternal e o seu cinto de segurança se o tuktuk bater com um obstáculo a 25 km/h. Algo nos mecanismos cerebrais que controlam o instinto de sobrevivencia é bloqueado quando a espécie humana se desloca a mais de 20 km/h, já dizia o médico do inicio do século XIX assustado com os riscos das locomotivas de Stephenson, antevendo o que Darwin poderia dizer, que a evolução não preparou o cérebro humano para andar a essas velocidades, que terá de cumprir procedimentos e recorrer a equipamentos de segurança
O percurso do americano é ameaçado por um automóvel que dá a volta vindo da rua Nova do Almada. O condutor assusta-se, mas o americano é perito. Deve ter ganho experiencia na California e trava primeiro com o pé direito raspando no chão, e logo a seguir, com o mesmo pé, pressionando o travão da roda de trás, que é apenas o pequeno guarda lamas que encosta à roda e que através de um sensor ligado à unidade central transforma o motor em gerador e assim suaviza a travagem, permitindo ao americano desviar-se do automóvel.
A descida da rua do Carmo é feita com tranquilidade, tem menos movimento. Continuam no Rossio as floristas. Mas continua também a obra parada do quarteirão da Suiça, sem a pastelaria Suiça (númenes, númenes, porque não ajudastes a evitar isto, as leis do arrendamento são mais fortes que vós?).
Praça da Figueira, mais um ponto de repouso de tuktuks, barracão com venda de fumeiros, especialidades regionais e cerveja, turistas encantados, serão os alfas e os betas nas suas excursões exóticas de Aldous Huxley, os skates martelam as pedras da praça.
Meto pela rua João das Regras e cruzo-me com um destacamento de segways. É uma caravana organizada, com um guis seguido por 5 turistas, todos com capacete de segurança, mas vieram do Martim Moniz contrariando um claro sinal de proibição de sentido. São veículos motorizados de 2 rodas, mas ah, é verdade, o senhor secretário de Estado mandou fechar os olhos.
A fila de turistas no Martim Moniz é grande.
Os guias turísticos devem dizer que ir a Lisboa e não apanhar o elétrico 28 para o Castelo é ter depois uma frustração ao responder à pergunta dos amigos "fote ao Castelo de S.Jorge de tramway?", se bem que ela possa ser atenuada respondendo, "não, mas fui de tuktuk, ou de segway, ou de e-scooter", que é como se diz trotineta em países não latinos.
E depara-se-me a escada mecânica para o Castelo, um trunfo eleitoral da câmara de Lisboa, revelando o carinho que sente pelos munícipes moradores e pelos turistas. Avalio com o olhar os 80 degraus da escadinha da senhora da saúde.
Está parada, tem o sinal vermelho de proibição aceso. É pena, há um mês passei pelo Martim Moniz e também estava parada.
As escadas mecânicas à intempérie têm de obedecer a especificações mais apertadas, e isso encarece o investimento e a manutenção. É natural que a sua fiabilidade seja baixa. Os nossos antepassados souberam preferir os funiculares, Neste caso era possivel, apesar das escadinhas terem pouco espaço livre, mas entendeu-se assim, provavelmente sem ouvir os especialistas deste tipo de equipamento, apenas terão ouvido os fornecedores.
Valeu-me que o segundo lanço, mais pequeno, de 40 degraus, estava a funcionar. Fiz o exercício de subir os degraus fixos e depois deliciei-me com a vista enquanto subia no segundo lanço.
Conviria que a câmara revisse o seu plano de acesso ao Castelo. Não digo para encomendar um teleférico, que até seria uma boa solução, para moradores e turistas, mas a solução elevador ou funicular parece melhor.
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