Uma pequena homenagem a uma senhora que morreu numa fábrica de cerâmicas.
A fábrica parece credível em termos de organização e segurança e tem bons resultados na exportação.
Poderá ter sido lapso de atenção, doença súbita ou suicídio (são as hipóteses que se põem quando se faz uma análise de risco).
O facto é que a senhora morreu entalada numa máquina.
Para além da análise de risco que deverá ser feita (há-de sempre ser possível, por projecto e manutenção, que uma máquina não mate quem tem um lapso de atenção ou uma doença subita, por mais dinheiro que isso custe; e se há materiais importados mais baratos, que se peçam os certificados de segurança na produção).
Por isso, a homenagem a quem trabalhava e morreu no seu trabalho é o voto de que essa análise seja feita.
domingo, 31 de maio de 2009
Homenagem a uma trabalhadora morta
Etiquetas:
segurança no trabalho; exportação;
sábado, 30 de maio de 2009
O Eurostat e as estatístcas
Uma pequena notícia hoje sobre o Eurostat.
O crime violento aumentou 4% em Portugal de 1998 a 2007.
No mesmo período aumentou na UE 3%.
As estatísticas devem ser utilizadas com cuidado e só as pessoas com conhecimentos da realidade a que dizem respeito devem poder tomar decisões sobre os assuntos tratados.
Há pouco tempo noticiou-se que em Portugal os jovens contribuiam com 70% para o crime violento.
Falta ainda relacionar e definir bem, junto da opinião pública, a correlação entre o crime juvenil e o deficiente acompanhamento dos jovens durante o seu período escolar.
Conclusão, estamos mal, porque de momento os decisores (como dizem os professores Carvalho Rodrigues e António Câmara) não conhecem as razões das coisas e continuam a manipular deficientemente as estatísticas.
É uma pena, abramos o debate, estimulemos a opinião pública.
O crime violento aumentou 4% em Portugal de 1998 a 2007.
No mesmo período aumentou na UE 3%.
As estatísticas devem ser utilizadas com cuidado e só as pessoas com conhecimentos da realidade a que dizem respeito devem poder tomar decisões sobre os assuntos tratados.
Há pouco tempo noticiou-se que em Portugal os jovens contribuiam com 70% para o crime violento.
Falta ainda relacionar e definir bem, junto da opinião pública, a correlação entre o crime juvenil e o deficiente acompanhamento dos jovens durante o seu período escolar.
Conclusão, estamos mal, porque de momento os decisores (como dizem os professores Carvalho Rodrigues e António Câmara) não conhecem as razões das coisas e continuam a manipular deficientemente as estatísticas.
É uma pena, abramos o debate, estimulemos a opinião pública.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Gestionarium III - A metáfora da técnica ferroviária
A metáfora da técnica ferroviária
A técnica ferroviária podia ser uma jovem colega elegantemente vestida como uma executiva.
Mas neste textozinho não é.
É mesmo o conjunto de práticas e teorias que permitem mover pessoas e bens de um lado para o outro, para ajudar à geração de mais-valias.
É portanto um assunto desinteressante para um leitor não dado às questões técnicas, que terá de me desculpar tratar este tema, por ter passado a vida numa empresa ferroviária.
Que eu desculparei o leitor por me achar desinteressante.
É que é normal. Imaginem que há uns tempos, havendo uma questão importante para resolver na empresa, dignou-se a alta direcção convocar uma reunião para tomar a grande decisão. E comoçou a dita reunião dizendo: “Vamos lá resolver isto, mas não me venham com descrições técnicas porque não temos tempo”.
E assim se resolvem as coisas neste país, como dizia o professor Carvalho Rodrigues, sem que a Ciência entre na equação.
Voltando à metáfora, foi o caso de, ao vasculhar uns papeis antigos, do tempo em que os computadores ainda mal falavam entre eles e não deixavam os seus ficheiros nos arquivos da rede da empresa, ter dado com o relatório de um talonamento em 1999.
O que é um talonamento de um aparelho de mudança de via (ou “agulhas”)?
Chama-se talão à vara podada da videira que fica agarrada ao tronco (deixem pelo menos 4 olhos) .
Diz-se talonar um aparelho de via quando o rodado do comboio vindo do ramo principal (por analogia com as plantas: vindo da parte superior do tronco) força os carris móveis do ramo desviado e deforma-os.
Pois aconteceu no Metropolitano em 1999, na estação da Pontinha , que na altura era terminal, depois de sairem os passageiros. O maquinista não esperou o sinal permissivo, avançou com os carris móveis do aparelho de via ainda em movimento, e os rodados do primeiro bogie foram em frente, enquanto os do segundo bogie foram para a via desviada, ficando a carruagem da frente atravessada. Quando se fez marcha à rectaguarda para”endireitar” a carruagem, o rodado do primeiro bogie forçou, talonou e deformou os carris móveis do aparelho de via, inutilizando-o.
Ver desenhos em :
http://en.wikipedia.org/wiki/Railroad_switch
O que é a metáfora?
A metáfora é nós, comunidade, precisarmos de mudar de direcção, o que parece ser consensual.
E parte de nós vamos em frente como se não quiséssemos mudar, e parte de nós mudamos, mas como estamos agarrados uns aos outros por sermos uma comunidade, ficamos atravessados.
E isso acontece porque não se respeitaram as regras de mudança de direcção (aguardar pelo sinal permissivo que resume que todas as condições necessárias ao avanço seguro do comboio estão reunidas), ou porque os sistemas instalados permitem erros de tomada de decisão.
Voltamos assim ao professor Carvalho Rodrigues: é preciso meter a Ciência na equação.
Por mais dinheiro que custe, é preciso instalar sistemas que evitem os erros (ou pelo menos atenuem a probabilidade da sua ocorrência).
Seja em que modo de transporte for.
Os princípios físicos e matemáticos que enformam a concepção, construção e instalação desses sistemas fazem parte dos programas das escolas e universidades.
Mas temos a tendência para os esquecermos, para não os aplicarmos; e os erros sucedem-se, e as consequências dos erros agravam-se.
E quando as consequências dos erros aparecem nos jornais, todos têm opinião, mesmo sem se lembrarem dos tais princípios físicos e matemáticos…
Até quando? como diziam os clássicos…
A técnica ferroviária podia ser uma jovem colega elegantemente vestida como uma executiva.
Mas neste textozinho não é.
É mesmo o conjunto de práticas e teorias que permitem mover pessoas e bens de um lado para o outro, para ajudar à geração de mais-valias.
É portanto um assunto desinteressante para um leitor não dado às questões técnicas, que terá de me desculpar tratar este tema, por ter passado a vida numa empresa ferroviária.
Que eu desculparei o leitor por me achar desinteressante.
É que é normal. Imaginem que há uns tempos, havendo uma questão importante para resolver na empresa, dignou-se a alta direcção convocar uma reunião para tomar a grande decisão. E comoçou a dita reunião dizendo: “Vamos lá resolver isto, mas não me venham com descrições técnicas porque não temos tempo”.
E assim se resolvem as coisas neste país, como dizia o professor Carvalho Rodrigues, sem que a Ciência entre na equação.
Voltando à metáfora, foi o caso de, ao vasculhar uns papeis antigos, do tempo em que os computadores ainda mal falavam entre eles e não deixavam os seus ficheiros nos arquivos da rede da empresa, ter dado com o relatório de um talonamento em 1999.
O que é um talonamento de um aparelho de mudança de via (ou “agulhas”)?
Chama-se talão à vara podada da videira que fica agarrada ao tronco (deixem pelo menos 4 olhos) .
Diz-se talonar um aparelho de via quando o rodado do comboio vindo do ramo principal (por analogia com as plantas: vindo da parte superior do tronco) força os carris móveis do ramo desviado e deforma-os.
Pois aconteceu no Metropolitano em 1999, na estação da Pontinha , que na altura era terminal, depois de sairem os passageiros. O maquinista não esperou o sinal permissivo, avançou com os carris móveis do aparelho de via ainda em movimento, e os rodados do primeiro bogie foram em frente, enquanto os do segundo bogie foram para a via desviada, ficando a carruagem da frente atravessada. Quando se fez marcha à rectaguarda para”endireitar” a carruagem, o rodado do primeiro bogie forçou, talonou e deformou os carris móveis do aparelho de via, inutilizando-o.
Ver desenhos em :
http://en.wikipedia.org/wiki/Railroad_switch
O que é a metáfora?
A metáfora é nós, comunidade, precisarmos de mudar de direcção, o que parece ser consensual.
E parte de nós vamos em frente como se não quiséssemos mudar, e parte de nós mudamos, mas como estamos agarrados uns aos outros por sermos uma comunidade, ficamos atravessados.
E isso acontece porque não se respeitaram as regras de mudança de direcção (aguardar pelo sinal permissivo que resume que todas as condições necessárias ao avanço seguro do comboio estão reunidas), ou porque os sistemas instalados permitem erros de tomada de decisão.
Voltamos assim ao professor Carvalho Rodrigues: é preciso meter a Ciência na equação.
Por mais dinheiro que custe, é preciso instalar sistemas que evitem os erros (ou pelo menos atenuem a probabilidade da sua ocorrência).
Seja em que modo de transporte for.
Os princípios físicos e matemáticos que enformam a concepção, construção e instalação desses sistemas fazem parte dos programas das escolas e universidades.
Mas temos a tendência para os esquecermos, para não os aplicarmos; e os erros sucedem-se, e as consequências dos erros agravam-se.
E quando as consequências dos erros aparecem nos jornais, todos têm opinião, mesmo sem se lembrarem dos tais princípios físicos e matemáticos…
Até quando? como diziam os clássicos…
Gestionarium II - Os problemas da GM
Os problemas da GM
Os problemas da GM são um escândalo. Não há pachorra. A indignação cresce com o que se está a passar na GM.
Refiro-me em especial à GM alemã.
A da Opel, orgulhosa dos seus 100 anos de engenharia alemã, como diz o anuncio.
Mas nos USA e na Alemanha a engenharia está subordinada aos economistas, que conduzem alegremente as empresas ao fracasso recorrendo às técnicas de optimização dos recursos, executando o que os consultores doutrinaram e aplicando aqueles softwares de gestão que vemos anunciados nos aeroportos.
A GM/USA quer dar a GM/UK e a GM/D como hipoteca dos empréstimos para se salvar, a menos que, do governo alemão, venha um subsídio de 300 M euros.
O governo alemão ficou escandalizado. Coitado, um dos próceres do neo-liberalismo e da globalização desregulada ter de engolir isto. Ter de injectar dinheiro dos contribuintes na “privada”, como a Tatcher fez com a Chrysler/UK e a BP. Como a Alemanha sempre fez com as minas de carvão alemãs, subsidiando escandalosamente o carvão alemão (pois, se não querem energia nuclear donde é que querem que venha a energia? Não estudaram Física durante o ensino obrigatório?).
Talvez agora os economistas neo-liberais queiram que se proponha a expropriação por interesse público, e abertura de concurso internacional para concessão da fábrica, a ganhar provavelmente por um fabricante chinês (aconteceu com a Rover, depois de ter produzido o motor de melhor rendimento)?
Como poderia ser proposto na Auto Europa, se não se chegar a acordo?
Para depois, virgens ultrajadas, rasgarem as vestes e gritarem que a extrema esquerda está a ganhar força?
Talvez não, talvez não se deva propor a expropriação, talvez nos devêssemos ficar por reduzir a margem de lucro e o número de modelos fabricados (a normalização reduz os custos de produção, conforme vem nos livros de economia da era AC, antes dos consultores).
Perdoe-se-me a metáfora que me vem do anuncio de hoje da peça de Arthur Schnitzler, A menina Elsa, que a certa altura diz: “Eu, inocente, tive de me vender para salvar o meu pai, e até acabei por encontrar prazer nisso”.
A menina Elsa seria a GM/D e o pai a GM/USA.
Evoé, como dizem os brasileiros.
Os problemas da GM são um escândalo. Não há pachorra. A indignação cresce com o que se está a passar na GM.
Refiro-me em especial à GM alemã.
A da Opel, orgulhosa dos seus 100 anos de engenharia alemã, como diz o anuncio.
Mas nos USA e na Alemanha a engenharia está subordinada aos economistas, que conduzem alegremente as empresas ao fracasso recorrendo às técnicas de optimização dos recursos, executando o que os consultores doutrinaram e aplicando aqueles softwares de gestão que vemos anunciados nos aeroportos.
A GM/USA quer dar a GM/UK e a GM/D como hipoteca dos empréstimos para se salvar, a menos que, do governo alemão, venha um subsídio de 300 M euros.
O governo alemão ficou escandalizado. Coitado, um dos próceres do neo-liberalismo e da globalização desregulada ter de engolir isto. Ter de injectar dinheiro dos contribuintes na “privada”, como a Tatcher fez com a Chrysler/UK e a BP. Como a Alemanha sempre fez com as minas de carvão alemãs, subsidiando escandalosamente o carvão alemão (pois, se não querem energia nuclear donde é que querem que venha a energia? Não estudaram Física durante o ensino obrigatório?).
Talvez agora os economistas neo-liberais queiram que se proponha a expropriação por interesse público, e abertura de concurso internacional para concessão da fábrica, a ganhar provavelmente por um fabricante chinês (aconteceu com a Rover, depois de ter produzido o motor de melhor rendimento)?
Como poderia ser proposto na Auto Europa, se não se chegar a acordo?
Para depois, virgens ultrajadas, rasgarem as vestes e gritarem que a extrema esquerda está a ganhar força?
Talvez não, talvez não se deva propor a expropriação, talvez nos devêssemos ficar por reduzir a margem de lucro e o número de modelos fabricados (a normalização reduz os custos de produção, conforme vem nos livros de economia da era AC, antes dos consultores).
Perdoe-se-me a metáfora que me vem do anuncio de hoje da peça de Arthur Schnitzler, A menina Elsa, que a certa altura diz: “Eu, inocente, tive de me vender para salvar o meu pai, e até acabei por encontrar prazer nisso”.
A menina Elsa seria a GM/D e o pai a GM/USA.
Evoé, como dizem os brasileiros.
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terça-feira, 26 de maio de 2009
A menina russa e as meninas portuguesas
O pensamento português XXXVIII – a menina russa e as meninas portuguesas
Os factos seguintes estão ordenados de modo a provocar os meus amigos de formação jurídica.
O que espero seja bom para o debate aberto das questões.
1 – A minha professora de Filosofia, de História e de Organização Política e Administrativa da Nação (chi, aos anos que isso foi) ensinou-me que por força do jus solis, quem nasce num país como o nosso é cidadão desse país;
2 – não parece ter acontecido nada que invalide o ponto 1, que aliás não é incompatível com a dupla nacionalidade;
3 – o cérebro da espécie humana tem características diferentes dos cérebros das outras espécies, e isso revela-se com particular acuidade no período de formação do dito, que na espécie humana chega a atingir 20 anos (ver o fenómeno da “mielinização” ao nível do neo-córtex pré-frontal);
4 – a vivência de situações de contrariedade extrema no período à volta dos 7 anos (antigamente conhecido como “idade da razão”) suscita, no cérebro em desenvolvimento, a produção de cortisona em doses excessivas, o que pode danificar irreversivelmente algumas zonas do cérebro;
5 – a entrega de uma criança aos progenitores, após anos de acolhimento numa família diferente, provoca graves contrariedades na criança;
6 – é provável que os pontos 4 e 5 sejam ignorados (ou os técnicos de serviço social não se fizeram compreender) pelos juízes que tomam as decisões de entrega aos progenitores, de crianças cujas primeiras etapas de crescimento foram asseguradas por famílias de acolhimento;
7 – é também provável que os pontos 4 e 5 tenham sido considerados pelos mesmos juízes menos relevantes do que a forma da lei vigente;
8 – aparentemente, exemplos dos pontos 6 e 7 são as entregas da menina russa à mãe ex-imigrante (atenção que a menina é portuguesa, embora a mãe não o seja) e das meninas portuguesas cuja mãe foi, de acordo com as notícias publicadas nos jornais, morta pelo pai, entretanto liberto da “preventiva” devido à entrada em vigor do novo código penal sem que tenha sido implementado um “vacatio legis” (período de transição antes do vigor pleno da nova lei - as coisas que os meus amigos de formação jurídica ensinam aos ignorantes);
9 – CONCLUSÃO – faço votos para que a opinião pública leve os juízes a considerar mais relevantes os pontos 4 e 5 relativamente à forma da lei.
Os factos seguintes estão ordenados de modo a provocar os meus amigos de formação jurídica.
O que espero seja bom para o debate aberto das questões.
1 – A minha professora de Filosofia, de História e de Organização Política e Administrativa da Nação (chi, aos anos que isso foi) ensinou-me que por força do jus solis, quem nasce num país como o nosso é cidadão desse país;
2 – não parece ter acontecido nada que invalide o ponto 1, que aliás não é incompatível com a dupla nacionalidade;
3 – o cérebro da espécie humana tem características diferentes dos cérebros das outras espécies, e isso revela-se com particular acuidade no período de formação do dito, que na espécie humana chega a atingir 20 anos (ver o fenómeno da “mielinização” ao nível do neo-córtex pré-frontal);
4 – a vivência de situações de contrariedade extrema no período à volta dos 7 anos (antigamente conhecido como “idade da razão”) suscita, no cérebro em desenvolvimento, a produção de cortisona em doses excessivas, o que pode danificar irreversivelmente algumas zonas do cérebro;
5 – a entrega de uma criança aos progenitores, após anos de acolhimento numa família diferente, provoca graves contrariedades na criança;
6 – é provável que os pontos 4 e 5 sejam ignorados (ou os técnicos de serviço social não se fizeram compreender) pelos juízes que tomam as decisões de entrega aos progenitores, de crianças cujas primeiras etapas de crescimento foram asseguradas por famílias de acolhimento;
7 – é também provável que os pontos 4 e 5 tenham sido considerados pelos mesmos juízes menos relevantes do que a forma da lei vigente;
8 – aparentemente, exemplos dos pontos 6 e 7 são as entregas da menina russa à mãe ex-imigrante (atenção que a menina é portuguesa, embora a mãe não o seja) e das meninas portuguesas cuja mãe foi, de acordo com as notícias publicadas nos jornais, morta pelo pai, entretanto liberto da “preventiva” devido à entrada em vigor do novo código penal sem que tenha sido implementado um “vacatio legis” (período de transição antes do vigor pleno da nova lei - as coisas que os meus amigos de formação jurídica ensinam aos ignorantes);
9 – CONCLUSÃO – faço votos para que a opinião pública leve os juízes a considerar mais relevantes os pontos 4 e 5 relativamente à forma da lei.
Gestionarium I - Dôtô honoris causa Belmiro
Belmiro, Belmiro, Doutor Belmiro, Doutor Belmiro
Hoje, dia 22 de Maio de 2009, mais um dia em que não posso dizer que não faliu mais um banco (o maior da Flórida), nem que não subiu o petróleo, nem que não houve nacionalizações de empresas do sector energético (3 empresas de gás nacionalizadas na Venezuela), oiço-te, Belmiro, ou melhor, doutor honoris causa Belmiro, dizeres que a culpa é dos trabalhadores.
Maniqueísta que és, Belmiro.
A culpa é dos trabalhadores.
Disseste isso.
Tu que foste trabalhador por conta de outrem.
Lembras-te? No tempo do patrão Pinto de Magalhães.
Lembras-te de como tu, sempre dentro da legalidade e demonstrando darwinisticamente que eras o mais bem apetrechado para a função “fazer dinheiro” - e como é elegante o sotaque do norte com que dizes esta expressão tão simples – assumiste o controle accionista e deixaste de ser trabalhador por conta de outrem?
Porque não fazem o mesmo os trabalhadores da Auto-Europa?
Porque não estão tão bem apetrechados, darwinisticamente em ambiente economista falando, claro, como tu.
Não foram capazes de deixar de ser trabalhadores por conta de outrem.
Logo, deviam aceitar as propostas de flexibilidade da administração da Auto Europa.
Dizem-me que não são as propostas da casa mãe, será verdade?
Teremos chegado ao ponto da administração ser mais papista do que a casa mãe?
E vens tu, Doutor, dizer que os trabalhadores preferem passar os sábados com os pés na água?
Ora tu, que és doutor, sabes que a remuneração aos sábados é apenas uma apropriação parcial das mais valias geradas ao sábado. Porque produzir ao sábado gera mais valias, que como doutor que és, tendem nessas circunstancias a reproduzirem-se.
É assim tão grave reclamar essa apropriação parcial de uma coisa que, como dizia o outro, já era deles, que a geraram?
Ora tu, Doutor, sabes melhor do que eu porque és um bom gestor e eu não, que ao olhar-se para os trabalhadores devemos ver o peso que eles têm nos custos totais.
E já veio nos jornais: na Auto Europa é 5% (por acaso no Metropolitano de Lisboa é à volta de 55%, mas isso é conversa para outra altura).
O que quer dizer que, se na Eslováquia os salários forem mais baixos 30%, as luminárias que fundamentam a deslocalização da fábrica para a Eslováquia estão a fundamentá-la com um diferencial de 1,5% !
Chega para pagar os custos da deslocalização?
Claro que não, mas tu, doutor Belmiro, jogas com a ileteracia matemática dos eleitores.
Ocultas-lhes que o diferencial para a Eslováquia é de 1,5%.
E quererias talvez que começássemos a falar em expropriações para animar a luta.
Talvez não seja o momento no processo histórico para falar nisso, embora os teus colegas empreendedores do ramo hipotecário nos USA e em alguns bancos privados portugueses se esforcem para isso.
Não receias que a tua atitude possa ser interpretada como um convite à anexação dos sudetas pela Volkswagen?
Mas, Doutor Belmiro, para que não digas que faço críticas destrutivas que tornam menos competitivo o País, deixo-te a mensagem que retirei da ópera-rock do Chico Buarque da Holanda, “A gota d’água”, adaptação da Medea à vida nas favelas do Rio (manda comprar o DVD, dôtô, manda, vais ganhar em ver, até porque Creonte também segue as tuas pisadas):
mantem a divisa “ganhemos dinheiro”, mas acrescenta: “baixemos os lucros”, como diz Chico Buarque. Verás que o País fica mais competitivo.
Hoje, dia 22 de Maio de 2009, mais um dia em que não posso dizer que não faliu mais um banco (o maior da Flórida), nem que não subiu o petróleo, nem que não houve nacionalizações de empresas do sector energético (3 empresas de gás nacionalizadas na Venezuela), oiço-te, Belmiro, ou melhor, doutor honoris causa Belmiro, dizeres que a culpa é dos trabalhadores.
Maniqueísta que és, Belmiro.
A culpa é dos trabalhadores.
Disseste isso.
Tu que foste trabalhador por conta de outrem.
Lembras-te? No tempo do patrão Pinto de Magalhães.
Lembras-te de como tu, sempre dentro da legalidade e demonstrando darwinisticamente que eras o mais bem apetrechado para a função “fazer dinheiro” - e como é elegante o sotaque do norte com que dizes esta expressão tão simples – assumiste o controle accionista e deixaste de ser trabalhador por conta de outrem?
Porque não fazem o mesmo os trabalhadores da Auto-Europa?
Porque não estão tão bem apetrechados, darwinisticamente em ambiente economista falando, claro, como tu.
Não foram capazes de deixar de ser trabalhadores por conta de outrem.
Logo, deviam aceitar as propostas de flexibilidade da administração da Auto Europa.
Dizem-me que não são as propostas da casa mãe, será verdade?
Teremos chegado ao ponto da administração ser mais papista do que a casa mãe?
E vens tu, Doutor, dizer que os trabalhadores preferem passar os sábados com os pés na água?
Ora tu, que és doutor, sabes que a remuneração aos sábados é apenas uma apropriação parcial das mais valias geradas ao sábado. Porque produzir ao sábado gera mais valias, que como doutor que és, tendem nessas circunstancias a reproduzirem-se.
É assim tão grave reclamar essa apropriação parcial de uma coisa que, como dizia o outro, já era deles, que a geraram?
Ora tu, Doutor, sabes melhor do que eu porque és um bom gestor e eu não, que ao olhar-se para os trabalhadores devemos ver o peso que eles têm nos custos totais.
E já veio nos jornais: na Auto Europa é 5% (por acaso no Metropolitano de Lisboa é à volta de 55%, mas isso é conversa para outra altura).
O que quer dizer que, se na Eslováquia os salários forem mais baixos 30%, as luminárias que fundamentam a deslocalização da fábrica para a Eslováquia estão a fundamentá-la com um diferencial de 1,5% !
Chega para pagar os custos da deslocalização?
Claro que não, mas tu, doutor Belmiro, jogas com a ileteracia matemática dos eleitores.
Ocultas-lhes que o diferencial para a Eslováquia é de 1,5%.
E quererias talvez que começássemos a falar em expropriações para animar a luta.
Talvez não seja o momento no processo histórico para falar nisso, embora os teus colegas empreendedores do ramo hipotecário nos USA e em alguns bancos privados portugueses se esforcem para isso.
Não receias que a tua atitude possa ser interpretada como um convite à anexação dos sudetas pela Volkswagen?
Mas, Doutor Belmiro, para que não digas que faço críticas destrutivas que tornam menos competitivo o País, deixo-te a mensagem que retirei da ópera-rock do Chico Buarque da Holanda, “A gota d’água”, adaptação da Medea à vida nas favelas do Rio (manda comprar o DVD, dôtô, manda, vais ganhar em ver, até porque Creonte também segue as tuas pisadas):
mantem a divisa “ganhemos dinheiro”, mas acrescenta: “baixemos os lucros”, como diz Chico Buarque. Verás que o País fica mais competitivo.
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Homenagem à minha sogra
Homenagem à minha sogra
A senhora já não está cá.
Tinha ideias muito diferentes das minhas sobre como se educam crianças.
O que deu em conflitos.
Sempre achou que a filha merecia uma pessoa mais animada do que eu.
O que contribuiu para mais conflitos, embora nisso ela tivesse razão, porque eu sou razoavelmente maçador.
Nasceu em Montachique, na região saloia, que é a maior região saloia da Europa.
Saloia no sentido da preservação de muitos elementos árabes e islâmicos. Desde provérbios, à entoação semelhante à do Algarve e de Palmela, aos nomes árabes (Montachique significa monte dos amantes, ou se quiserem, monte gracioso). E tudo isso aqui junto de Lis-buna, mais perto do que a aldeia da roupa branca.
Bom, talvez na Andaluzia a região assim caracterizada seja maior, mas a nossa região saloia tem a superioridade de ter sido a terra da minha sogra.
A senhora veio trabalhar para Lisboa com 11 anos como aprendiza de modista.
Trabalho infantil.
Pai morto muito cedo.
Sapateiro na pequena terra, que por ser local de vilegiatura, lhe proporcionou o convívio republicano com senhores importantes do movimento republicano que aí tinham as suas casas de férias.
Alta burguesia florescente, Grandella e amigos, de inconcebível aceitação da ideia de um rei por delegação divina, com hábitos de cultura e de prazer sofisticado. Ainda lá estão, junto ao Cabeço, em Tocadelos, as ruínas do casino fora de portas, com muitos gabinetesinhos, que a sociedade dos Macavencos quase concluiu.
De modo que em casa do pai da minha sogra havia livros. Que a filha não leu porque os deixou na terra e passou os anos seguintes a fazer costura.
Mas a neta leu quando criança, dispensada da obrigação de aprender um ofício fora da escola, o que lhe aumentou os encantos.
Por isso eu insisto tanto que é o acompanhamento educacional e financeiro das crianças que garante o sucesso escolar, não é a avaliação dos professores nem ministras convencidas das suas estatísticas…
Eu a querer embirrar com a senhora, porque genro deve embirrar com a sogra, e eu a embirrar mesmo nesta frase que ela dizia: “Já encabei a enxada às minhas filhas”, querendo dizer que as obrigou a seguir o percurso escolar até ao fim (é no que eu acredito de mais importante, a educação das crianças) e exprimindo a longa tradição da sua região saloia, historicamente ligada à cultura árabe e helenística do Mediterrâneo.
Ficou assim na memória de criança da minha sogra o ideal republicano da educação e da cultura popular.
Por isso dizia, quando via uma procissão na rua: “Nem parece um país republicano”.
Pois, não parece.
No dia 16 de Maio de 2009 é fechada a estação de Terreiro do Paço porque à superfície se reza uma missa, no meio de uma procissão.
Perde o Metropolitano alguma receita, mas isso não importa.
Importa que não parece um país republicano, laico como estatui a Constituição.
Vejamos.
Uma imagem religiosa é transportada numa corveta da Marinha Nacional.
Eu contribuinte ignoro se a Marinha cobrou ao Cardeal a despesa de combustível, da quota da manutenção da corveta, da ocupação dos marinheiros.
Eu contribuinte admito que a corveta cobre os seus serviços. À igreja católica, ou à igreja ortodoxa, ou à igreja de Jeová, ou ao íman da Mesquita, ou ao templo hindu, ou à comunidade de Ismael.
Eu contribuinte tenho de admitir isso, pese embora no meu íntimo estar convencido de que as manifestações religiosas são um comportamento desviante intimamente ligado à capacidade do cérebro para criar imagens de entidades virtuais – o papão do escuro, o homem do saco, o deus dos oceanos, o espírito do ecstasy…
Mas não posso afirmá-lo com certezas absolutas. Só posso dizer que a probabilidade de isso acontecer é grande, como resultado dos estudos do cérebro, das sociedades ao longo dos séculos e da comparação das características dessas entidades virtuais.
Por isso tenho de aceitar a possibilidade de alugar a corveta de todos os contribuintes a quem quer que se apresente de boa vontade.
Por isso não posso deixar que nenhuma comunidade religiosa se sobreponha a qualquer outra em privilégios. Até porque sabemos da história como elas se matam umas às outras. Ui, que ainda no tempo do bisavô do avô do pai da minha sogra a fogueira aqui neste local (ali mais ao lado, ao pátio do Arsenal) queimou o último condenado da Inquisição…
Por isso o estado tem de ser laico.
Se a mulher do primeiro ministro quer usar lenço, use, mas não obrigue ninguém a usar.
Pela Paz.
Para que não se possa dizer como a minha sogra dizia, contrariada, “Nem parece um país republicano…”
Tradições?
Então vamos aos dados históricos.
A imagem religiosa que foi transportada era de N.S.Fátima.
Antes da recristianização do território a sul do Mondego, a mão de Fátima era o amuleto que mais crentes agregava, para dar saúde e afastar o mau-olhado dos invejosos. Está intimamente ligado às figas e à “cambulhada” que se põe ao pescoço dos bebés. Figas de azeviche estão representadas no espólio museológico do convento de Santa Clara de Coimbra, recentemente resgatado do estado de abandono em que vegetava (como foi possível?).
Esta a verdade histórica da tradição, demonstrando que o cérebro é capaz de criar entidades virtuais com capacidades imaginadas.
Mas devemos manter algumas tradições.
Como ficou contente, a minha sogra, quando viu as netas casarem-se com uma coroa de flores na testa, como as noivas pagãs antes da cristianização. Bem não queria o sacerdote que elas usassem a coroa…mas foi a tradição pagã, afinal, a prevalecer. Não deviam ter perseguido os pagãos…
“Este país nem parece um país republicano”
Saravá, sô Dona Lucília.
A senhora já não está cá.
Tinha ideias muito diferentes das minhas sobre como se educam crianças.
O que deu em conflitos.
Sempre achou que a filha merecia uma pessoa mais animada do que eu.
O que contribuiu para mais conflitos, embora nisso ela tivesse razão, porque eu sou razoavelmente maçador.
Nasceu em Montachique, na região saloia, que é a maior região saloia da Europa.
Saloia no sentido da preservação de muitos elementos árabes e islâmicos. Desde provérbios, à entoação semelhante à do Algarve e de Palmela, aos nomes árabes (Montachique significa monte dos amantes, ou se quiserem, monte gracioso). E tudo isso aqui junto de Lis-buna, mais perto do que a aldeia da roupa branca.
Bom, talvez na Andaluzia a região assim caracterizada seja maior, mas a nossa região saloia tem a superioridade de ter sido a terra da minha sogra.
A senhora veio trabalhar para Lisboa com 11 anos como aprendiza de modista.
Trabalho infantil.
Pai morto muito cedo.
Sapateiro na pequena terra, que por ser local de vilegiatura, lhe proporcionou o convívio republicano com senhores importantes do movimento republicano que aí tinham as suas casas de férias.
Alta burguesia florescente, Grandella e amigos, de inconcebível aceitação da ideia de um rei por delegação divina, com hábitos de cultura e de prazer sofisticado. Ainda lá estão, junto ao Cabeço, em Tocadelos, as ruínas do casino fora de portas, com muitos gabinetesinhos, que a sociedade dos Macavencos quase concluiu.
De modo que em casa do pai da minha sogra havia livros. Que a filha não leu porque os deixou na terra e passou os anos seguintes a fazer costura.
Mas a neta leu quando criança, dispensada da obrigação de aprender um ofício fora da escola, o que lhe aumentou os encantos.
Por isso eu insisto tanto que é o acompanhamento educacional e financeiro das crianças que garante o sucesso escolar, não é a avaliação dos professores nem ministras convencidas das suas estatísticas…
Eu a querer embirrar com a senhora, porque genro deve embirrar com a sogra, e eu a embirrar mesmo nesta frase que ela dizia: “Já encabei a enxada às minhas filhas”, querendo dizer que as obrigou a seguir o percurso escolar até ao fim (é no que eu acredito de mais importante, a educação das crianças) e exprimindo a longa tradição da sua região saloia, historicamente ligada à cultura árabe e helenística do Mediterrâneo.
Ficou assim na memória de criança da minha sogra o ideal republicano da educação e da cultura popular.
Por isso dizia, quando via uma procissão na rua: “Nem parece um país republicano”.
Pois, não parece.
No dia 16 de Maio de 2009 é fechada a estação de Terreiro do Paço porque à superfície se reza uma missa, no meio de uma procissão.
Perde o Metropolitano alguma receita, mas isso não importa.
Importa que não parece um país republicano, laico como estatui a Constituição.
Vejamos.
Uma imagem religiosa é transportada numa corveta da Marinha Nacional.
Eu contribuinte ignoro se a Marinha cobrou ao Cardeal a despesa de combustível, da quota da manutenção da corveta, da ocupação dos marinheiros.
Eu contribuinte admito que a corveta cobre os seus serviços. À igreja católica, ou à igreja ortodoxa, ou à igreja de Jeová, ou ao íman da Mesquita, ou ao templo hindu, ou à comunidade de Ismael.
Eu contribuinte tenho de admitir isso, pese embora no meu íntimo estar convencido de que as manifestações religiosas são um comportamento desviante intimamente ligado à capacidade do cérebro para criar imagens de entidades virtuais – o papão do escuro, o homem do saco, o deus dos oceanos, o espírito do ecstasy…
Mas não posso afirmá-lo com certezas absolutas. Só posso dizer que a probabilidade de isso acontecer é grande, como resultado dos estudos do cérebro, das sociedades ao longo dos séculos e da comparação das características dessas entidades virtuais.
Por isso tenho de aceitar a possibilidade de alugar a corveta de todos os contribuintes a quem quer que se apresente de boa vontade.
Por isso não posso deixar que nenhuma comunidade religiosa se sobreponha a qualquer outra em privilégios. Até porque sabemos da história como elas se matam umas às outras. Ui, que ainda no tempo do bisavô do avô do pai da minha sogra a fogueira aqui neste local (ali mais ao lado, ao pátio do Arsenal) queimou o último condenado da Inquisição…
Por isso o estado tem de ser laico.
Se a mulher do primeiro ministro quer usar lenço, use, mas não obrigue ninguém a usar.
Pela Paz.
Para que não se possa dizer como a minha sogra dizia, contrariada, “Nem parece um país republicano…”
Tradições?
Então vamos aos dados históricos.
A imagem religiosa que foi transportada era de N.S.Fátima.
Antes da recristianização do território a sul do Mondego, a mão de Fátima era o amuleto que mais crentes agregava, para dar saúde e afastar o mau-olhado dos invejosos. Está intimamente ligado às figas e à “cambulhada” que se põe ao pescoço dos bebés. Figas de azeviche estão representadas no espólio museológico do convento de Santa Clara de Coimbra, recentemente resgatado do estado de abandono em que vegetava (como foi possível?).
Esta a verdade histórica da tradição, demonstrando que o cérebro é capaz de criar entidades virtuais com capacidades imaginadas.
Mas devemos manter algumas tradições.
Como ficou contente, a minha sogra, quando viu as netas casarem-se com uma coroa de flores na testa, como as noivas pagãs antes da cristianização. Bem não queria o sacerdote que elas usassem a coroa…mas foi a tradição pagã, afinal, a prevalecer. Não deviam ter perseguido os pagãos…
“Este país nem parece um país republicano”
Saravá, sô Dona Lucília.
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domingo, 24 de maio de 2009
O Magalhães, o insigne professor e a queixa na Ordem dos Engenheiros
O Magalhães, o insigne professor e a queixa na Ordem do Engenheiros
Azar.
No meio do êxito, o azar da escola da minha mulher. É uma escola do 2º e 3º ciclo, escondida no bairro, atrás de umas ruas pacatas e da “Queen’s School”.
Tem menino(a)s da Musgueira e de Chelas (a escola da minha mulher, não a “Queen’s School”), já não tem da Quinta da Montanha (umas barracas ao pé do Areeiro) nem do Bairro do Relógio (foram realojados em bairros “sociais” projectados por arquitectos premiados), mas também tem menino(a)s de Alvalade e da Avenida de Roma.
Não tem é Magalhães. Nem um. Estão à espera.
Não me choca.
O que me choca é a propaganda que fazem quando o distribuem.
O que me choca é o “e-escolinhas” não ter sido alvo de concurso público (parece que no “e-escolas” o ónus da selecção dos fornecedores ficou para as operadoras…dispensando os requisitos do novo código de contratação pública - CCP ).
O que choca é que eu não consegui vencer as dificuldades do código de contratação pública e não consegui fazer os concursos para a adaptação da estação de Colégio Militar do Metro para os cidadãos e cidadãs com deficiências motoras.
Se a elevação do objectivo do “e-escolinhas” justifica a dispensa dos requisitos do CCP, a elevação do objectivo de não discriminação daqueles cidadãos e cidadãs também justificava. Por que sou eu menos do que os decisores do “e-escolinhas”?
Lógico que isso me indigne, não acham?
E se pensarmos que o CCP também foi dispensado na contratação de um insigne professor de Direito Administrativo para redigir o projecto de lei do novo regime de fundações?
E se analisarmos bem as razões dadas pelo ilustre adjudicatário por ajuste directo sem consulta plural para assegurar as regras da concorrência? (não devia ser a entidade adjudicante a justificar-se?)
Vejam as razões: “Os quadros da administração central são de qualidade intermédia, por isso mal pagos, e não tinham capacidade para uma empreitada destas”.
Eu pasmo e recordo o que se passou comigo há muitos anos: fiz um caderno de encargos e uma proposta de adjudicação, o concurso foi anulado e contratado um consultor para fazer o caderno de encargos; o caderno de encargos que saiu era muito parecido com o original. Pudera, consegui convencer os consultores que aquele artigo que eles queriam tirar, não podiam, porque a tecnologia tinha evoluído naquele sentido e já ninguém fabricava como eles queriam. A coisa acabou com uma queixa minha na Ordem dos Engenheiros por me alterarem um trabalho meu sem a minha concordância. A Ordem mandou arquivar a queixa e alterou a redacção do artigo do código deontológico em que eu me tinha baseado. Histórias de quando eu era jovem.
Agora que sou velho, continuo a ver consultores a serem chamados por não acreditarem em mim.
Deficiência minha, certamente.
Azar.
No meio do êxito, o azar da escola da minha mulher. É uma escola do 2º e 3º ciclo, escondida no bairro, atrás de umas ruas pacatas e da “Queen’s School”.
Tem menino(a)s da Musgueira e de Chelas (a escola da minha mulher, não a “Queen’s School”), já não tem da Quinta da Montanha (umas barracas ao pé do Areeiro) nem do Bairro do Relógio (foram realojados em bairros “sociais” projectados por arquitectos premiados), mas também tem menino(a)s de Alvalade e da Avenida de Roma.
Não tem é Magalhães. Nem um. Estão à espera.
Não me choca.
O que me choca é a propaganda que fazem quando o distribuem.
O que me choca é o “e-escolinhas” não ter sido alvo de concurso público (parece que no “e-escolas” o ónus da selecção dos fornecedores ficou para as operadoras…dispensando os requisitos do novo código de contratação pública - CCP ).
O que choca é que eu não consegui vencer as dificuldades do código de contratação pública e não consegui fazer os concursos para a adaptação da estação de Colégio Militar do Metro para os cidadãos e cidadãs com deficiências motoras.
Se a elevação do objectivo do “e-escolinhas” justifica a dispensa dos requisitos do CCP, a elevação do objectivo de não discriminação daqueles cidadãos e cidadãs também justificava. Por que sou eu menos do que os decisores do “e-escolinhas”?
Lógico que isso me indigne, não acham?
E se pensarmos que o CCP também foi dispensado na contratação de um insigne professor de Direito Administrativo para redigir o projecto de lei do novo regime de fundações?
E se analisarmos bem as razões dadas pelo ilustre adjudicatário por ajuste directo sem consulta plural para assegurar as regras da concorrência? (não devia ser a entidade adjudicante a justificar-se?)
Vejam as razões: “Os quadros da administração central são de qualidade intermédia, por isso mal pagos, e não tinham capacidade para uma empreitada destas”.
Eu pasmo e recordo o que se passou comigo há muitos anos: fiz um caderno de encargos e uma proposta de adjudicação, o concurso foi anulado e contratado um consultor para fazer o caderno de encargos; o caderno de encargos que saiu era muito parecido com o original. Pudera, consegui convencer os consultores que aquele artigo que eles queriam tirar, não podiam, porque a tecnologia tinha evoluído naquele sentido e já ninguém fabricava como eles queriam. A coisa acabou com uma queixa minha na Ordem dos Engenheiros por me alterarem um trabalho meu sem a minha concordância. A Ordem mandou arquivar a queixa e alterou a redacção do artigo do código deontológico em que eu me tinha baseado. Histórias de quando eu era jovem.
Agora que sou velho, continuo a ver consultores a serem chamados por não acreditarem em mim.
Deficiência minha, certamente.
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Educação II - A professora II
Continuando o tema tão do gosto dos moralistas ofendidos, gostaria de tranquilizar quem possa estar mais preocupado (uma senhora directora de um jornal diário chegou a perguntar no seu jornal – seu dela por força de quem a nomeou - “que monstros estamos a criar nas nossas escolas com estes professores?”) que é possível distribuir preservativos nas escolas públicas há já 10 anos. Isso, o governo e os moralistas estavam desatentos. O que, segundo uma hipótese que devia ser aprofundada, será talvez positivo.
Recordam-se de ter contado a experiencia da minha mulher como professora com uma aluna de 12 anos (“eu sou melhor na cama do que a setôra” – bom, as palavras utilizadas não foram estas, como hão-de calcular, mas o sentido era)?
Como a história se passou há mais de 20 anos, a mocinha já deve ser avó. E como a segurança social e a assistência social estão como estão, será fácil imaginar o trajecto. Até aos moralistas deve ser fácil.
Mas eu queria contar a experiencia da minha cunhada (mania das irmãs de irem para professoras…), também passada há muito tempo. Mais precisamente em 1971.
Pediu-lhe o professor Calvet de Magalhães (sim, esteve ligado ao anterior regime mas era um humanista e um pedagogo) para organizar umas sessões de educação sexual. Tinha a minha cunhada 24 anos. Como os seniores da altura gostavam de dar trabalhos complicados aos juniores (a primeira coisa que me mandaram fazer no Metropolitano foi um esquema de avaliação, corria o mês de Fevereiro de 1974…). E foi assim que a Isabelinha preparou cuidadosamente, em colaboração com a professora de Ciências da Natureza, um programa de Educação sexual.
A sessão decorreu com os miúdos interessadíssimos. No fim, a Isabelinha perguntou quem tinha duvidas. Silencio. A Isabelinha a sentir-se perdida porque quando não há duvidas é porque a mensagem não passou e ninguém entendeu ou aderiu ao tema. Até que um rapazinho mais afoito, perante a insistência, explicou: “Sabe setôra, a gente percebeu tudo e até temos dúvidas, mas como a setôra só usou nomes difíceis, a gente não sabe como há-de dizer. É que nós só conhecemos essas coisas pelo nome-palavrão”.
C…, leitor, não é giro? Não era melhor falarmos destas coisas com mais naturalidade?
É que na escola da minha mulher (lá estou eu outra vez), a professora de ciências da natureza segue o programa (por favor, reparem, segue o programa) e mesmo assim já tem havido encarregados de educação que fazem saber o seu descontentamento.
E os moralistas rasgam as vestes com o caso da professora de Espinho? Eu só gostava de saber se ela disse “tu não sabes onde te metestes” (aqui, sim, eu acho que a conduta seria reprovável) ou se terá dito “tu não sabes onde vos metestes” (não faz concordância mas é um regionalismo tolerável). No resto, parece-me que as pessoas andam demasiadamente vestidas de branco por fora, parafraseando a metáfora.
E, já agora, não querem que vos reproduza a conversa que ouvi, en passant, entre a minha neta e a prima, de 8 anos? Vá lá, abram as mentes, que as crianças não se importam de abrir as delas. E se não fordes como as criancinhas…
Recordam-se de ter contado a experiencia da minha mulher como professora com uma aluna de 12 anos (“eu sou melhor na cama do que a setôra” – bom, as palavras utilizadas não foram estas, como hão-de calcular, mas o sentido era)?
Como a história se passou há mais de 20 anos, a mocinha já deve ser avó. E como a segurança social e a assistência social estão como estão, será fácil imaginar o trajecto. Até aos moralistas deve ser fácil.
Mas eu queria contar a experiencia da minha cunhada (mania das irmãs de irem para professoras…), também passada há muito tempo. Mais precisamente em 1971.
Pediu-lhe o professor Calvet de Magalhães (sim, esteve ligado ao anterior regime mas era um humanista e um pedagogo) para organizar umas sessões de educação sexual. Tinha a minha cunhada 24 anos. Como os seniores da altura gostavam de dar trabalhos complicados aos juniores (a primeira coisa que me mandaram fazer no Metropolitano foi um esquema de avaliação, corria o mês de Fevereiro de 1974…). E foi assim que a Isabelinha preparou cuidadosamente, em colaboração com a professora de Ciências da Natureza, um programa de Educação sexual.
A sessão decorreu com os miúdos interessadíssimos. No fim, a Isabelinha perguntou quem tinha duvidas. Silencio. A Isabelinha a sentir-se perdida porque quando não há duvidas é porque a mensagem não passou e ninguém entendeu ou aderiu ao tema. Até que um rapazinho mais afoito, perante a insistência, explicou: “Sabe setôra, a gente percebeu tudo e até temos dúvidas, mas como a setôra só usou nomes difíceis, a gente não sabe como há-de dizer. É que nós só conhecemos essas coisas pelo nome-palavrão”.
C…, leitor, não é giro? Não era melhor falarmos destas coisas com mais naturalidade?
É que na escola da minha mulher (lá estou eu outra vez), a professora de ciências da natureza segue o programa (por favor, reparem, segue o programa) e mesmo assim já tem havido encarregados de educação que fazem saber o seu descontentamento.
E os moralistas rasgam as vestes com o caso da professora de Espinho? Eu só gostava de saber se ela disse “tu não sabes onde te metestes” (aqui, sim, eu acho que a conduta seria reprovável) ou se terá dito “tu não sabes onde vos metestes” (não faz concordância mas é um regionalismo tolerável). No resto, parece-me que as pessoas andam demasiadamente vestidas de branco por fora, parafraseando a metáfora.
E, já agora, não querem que vos reproduza a conversa que ouvi, en passant, entre a minha neta e a prima, de 8 anos? Vá lá, abram as mentes, que as crianças não se importam de abrir as delas. E se não fordes como as criancinhas…
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Educação I - A professora
Gizas e os seus assistentes tinham ido à inauguração de um grande centro comercial em Nablus, ou melhor, Sichem, longe do Jordão, mas com um vale que se mostrava em panorâmica impressionante através das grandes paredes de vidro do edifício.
Enquanto não chegava a hora das conferências que aprazara, Gizas comentava, no meio de um grupo de reformados, as variações dos indicadores das bolsas das principais capitais, que passavam nos televisores na zona dos bancos.
E não era meigo nos adjectivos que dedicava aos financeiros.
De repente, um reboliço, vindo do outro lado do grande átrio central, atraiu a atenção de todos.
Um sacerdote de longas barbas brancas ralhava em alta grita a uma jovem mulher palestina. Rodeava-os uma chusma de mulheres iradas que também verbalizavam o seu escândalo.
Gizas e os seus assistentes aproximaram-se. A mulher estava vestida com uma túnica curta, cintada e justa; tinha os cabelos soltos e um ar menineiro que talvez contribuísse para a ira das mulheres escandalizadas.
Um publicano, quase rasgando as vestes como se fora um sepulcro caiado por fora, esclareceu: É esta a professora de História que fala de sexo.
Gizas comentou serenamente: Pois, coitada, se Zeus passava o tempo a fazer sexo - e como o fazia, até parecia que não pensava noutra coisa - como poderia um professor de história não falar de sexo?
- E acusou as alunas de 12 anos de não serem virgens – vociferou uma das megeras
- Seriam Escorpião, talvez? – aventou Gizas
- E acusou os rapazes de 12 anos de esporularem e de se molharem
- Mas é natural, é assim que reagem os jovens machos à presença do óxido nítrico nas cavernazinhas periféricas e da serotonina no cérebro … foi aí que chegaram os mecanismos da evolução pela selecção natural, sem que Yavé tivesse nada contra…
- Blasfemou - gritou o sacerdote
- Não, acalma-te – continuou o doce rabi, que era como lhe chamava Eça de Queirós – o coração das gentes ainda está duro e insensível como no Antigo Testamento do Senhor Deus dos Exércitos. Eu vim para lhes falar do Novo, para lhes dar flexibilidade, vou ser o colagénio dos corações, vim abrir as portas da compreensão e da tolerância. Vim para abrir as mentes e os corações. Então tereis Paz.
A propósito de professores, deixai-me falar-vos dum email que recebi já há uns anos de uma professora das Colunas de Hércules, aquela terra na ponta do Mediterrâneo, um bocadinho desorganizada.
Contou-me ela que estavam a discutir na turma os problemas da escola e da terra, e de repente, uma aluna de 12 anos, que não gostara de ser repreendida, virou-se para a professora e disse-lhe: Eu sou melhor na cama do que a setôra. E a setôra, coitada, tendo de responder rapidamente, saiu-se com esta: Sabes lá tu se és melhor; até podes ser pior, essas coisas não se medem com régua. Vamos lá resolver o problema do comprimento da hipotenusa.
E aproximando-se da palestina, virou-se para a turba dizendo:
- Aquele dentre vós que se sentir livre de culpa e senhor da verdade, que atire a primeira pedra.
Mas tende cuidado, porque se a vossa avaliação for a de que estais isentos de culpa ou que sois infalíveis, então é porque sofreis duma psicopatologia, de um autismo isolador da realidade, que necessitará de tratamento.
E segredando ao ouvido da palestina:
- Vai em Paz, mantem-te jovem, mas tem cuidado com a maneira como falas.
E a multidão acalmou, dispersando-se pacificamente pelas montras e pelos restaurantes do centro comercial.
Enquanto não chegava a hora das conferências que aprazara, Gizas comentava, no meio de um grupo de reformados, as variações dos indicadores das bolsas das principais capitais, que passavam nos televisores na zona dos bancos.
E não era meigo nos adjectivos que dedicava aos financeiros.
De repente, um reboliço, vindo do outro lado do grande átrio central, atraiu a atenção de todos.
Um sacerdote de longas barbas brancas ralhava em alta grita a uma jovem mulher palestina. Rodeava-os uma chusma de mulheres iradas que também verbalizavam o seu escândalo.
Gizas e os seus assistentes aproximaram-se. A mulher estava vestida com uma túnica curta, cintada e justa; tinha os cabelos soltos e um ar menineiro que talvez contribuísse para a ira das mulheres escandalizadas.
Um publicano, quase rasgando as vestes como se fora um sepulcro caiado por fora, esclareceu: É esta a professora de História que fala de sexo.
Gizas comentou serenamente: Pois, coitada, se Zeus passava o tempo a fazer sexo - e como o fazia, até parecia que não pensava noutra coisa - como poderia um professor de história não falar de sexo?
- E acusou as alunas de 12 anos de não serem virgens – vociferou uma das megeras
- Seriam Escorpião, talvez? – aventou Gizas
- E acusou os rapazes de 12 anos de esporularem e de se molharem
- Mas é natural, é assim que reagem os jovens machos à presença do óxido nítrico nas cavernazinhas periféricas e da serotonina no cérebro … foi aí que chegaram os mecanismos da evolução pela selecção natural, sem que Yavé tivesse nada contra…
- Blasfemou - gritou o sacerdote
- Não, acalma-te – continuou o doce rabi, que era como lhe chamava Eça de Queirós – o coração das gentes ainda está duro e insensível como no Antigo Testamento do Senhor Deus dos Exércitos. Eu vim para lhes falar do Novo, para lhes dar flexibilidade, vou ser o colagénio dos corações, vim abrir as portas da compreensão e da tolerância. Vim para abrir as mentes e os corações. Então tereis Paz.
A propósito de professores, deixai-me falar-vos dum email que recebi já há uns anos de uma professora das Colunas de Hércules, aquela terra na ponta do Mediterrâneo, um bocadinho desorganizada.
Contou-me ela que estavam a discutir na turma os problemas da escola e da terra, e de repente, uma aluna de 12 anos, que não gostara de ser repreendida, virou-se para a professora e disse-lhe: Eu sou melhor na cama do que a setôra. E a setôra, coitada, tendo de responder rapidamente, saiu-se com esta: Sabes lá tu se és melhor; até podes ser pior, essas coisas não se medem com régua. Vamos lá resolver o problema do comprimento da hipotenusa.
E aproximando-se da palestina, virou-se para a turba dizendo:
- Aquele dentre vós que se sentir livre de culpa e senhor da verdade, que atire a primeira pedra.
Mas tende cuidado, porque se a vossa avaliação for a de que estais isentos de culpa ou que sois infalíveis, então é porque sofreis duma psicopatologia, de um autismo isolador da realidade, que necessitará de tratamento.
E segredando ao ouvido da palestina:
- Vai em Paz, mantem-te jovem, mas tem cuidado com a maneira como falas.
E a multidão acalmou, dispersando-se pacificamente pelas montras e pelos restaurantes do centro comercial.
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sexta-feira, 22 de maio de 2009
Arquitectorium 1 _ O Paço de Avis
O Paço de Avis
No meu país 3 crianças morreram há dias no incêndio de uma barraca.
Bolas para os laudatórios das virtudes e dos resultados do partido no poder e do seu secretário geral.
Não porque a culpa do incêndio seja do partido ou do seu secretário geral.
Não é isso que eu digo, embora seja com isso que os cérebros dos seus laudatórios os estarão a enganar, a eles, laudatórios, para poderem vestir a pele da inocente vítima acusada.
O que eu quero dizer, sem querer acusar ninguém, é que nós reagimos mal a estas notícias porque manifestamos o nosso desgosto e viramos a página.
Há incêndios em barracas com morte de crianças porque nós portugueses não nos sabemos organizar em trabalho colectivo nem sabemos organizar-nos de modo a tomar as decisões certas.
Basta olhar à nossa volta.
E, no fundo, são os casos de sucesso/insucesso de que o ministro Rui Pereira é o paradigma: sabemos mostrar resultados (graças a estatísticas e a softwares importados – já funcionará, o sistema de contagem electrónica do Parlamento?), não sabemos tratar os factos.
O facto é que ardem barracas em Portugal e morrem crianças (se me pedirem soluções de observador exterior ao contexto, portanto parecer não técnico - mas também onde estão os pareceres dos técnicos para os podermos estudar? – respondo já: façam como nos USA: atribuam verbas a organismos federais de assistência social, que empregam aqueles moços e moças recem licenciados em Assistencia social, dêem-lhes verbas e eles vão resolvendo os assuntos e propondo soluções; soluções de reurbanização e de reemprego das pessoas sem a lógica do lucro e do nível de vida competitivo e elevado que governa a nossa economia).
Não é um resultado, é um facto.
E para mim sucesso é factos, não é resultados (2 homens na avenida da Liberdade, um comeu um frango, o outro viu do outro lado do vidro; cada homem jantou meio frango – este é o resultado, o facto é que há um homem com fome o que, de acordo com a carta dos direitos humanos tem um nome: desumanidade).
Ardem barracas em Portugal.
Em Avis.
Até pode fazer-se um programa de prós e contras.
Vêm os bonzos do costume, vêm outros que não são bonzos.
E depois fica tudo na mesma.
No prós e contras do ano seguinte a excelsa apresentadora confirma que está tudo na mesma, não serviu de nada o seu lindo programa.
Eu não detenho a chave das soluções, mas faço aquilo que me mandaram na escola: ponho hipóteses e dedico tempo a pensar nelas, coisa que não vejo nos meus colegas em muitos assuntos em que deviam fazê-lo.
Passei o tempo a tentar incutir isso nos meus “subordinados”, e é uma pena eles não aproveitarem os conhecimentos técnicos mais profundos que os meus e as suas – deles– capacidade de trabalho e rapidez de percepção, maiores do que as minhas, para porem hipóteses, as analisarem , proporem soluções, testá-las, aplicá-las e concluir a obra.
Querem um retrato do país e da sua cultura?
Vão a Avis.
Um edifício do século XV, monumental, em ruína.
Deixa os turistas estupefactos a olhar para ele.
Não há direito.
Mas vamos ter o ensino obrigatório até ao 12º ano .
Se tivessem mais respeito por quem viveu a profissão de professor , o que só lhes ficava bem, falavam de outro modo.
Mas são os métodos de quem pode, desacreditar o opositor, desacreditar quem defende um sistema que não agrada, desacreditar uma acção com a parte da verdade necessária e suficiente para convencer incautos.
Eu sei que não há dinheiro, mas também não há capacidade politica nem organizacional para resolver o assunto (ainda há dias chamei a atenção para a resolução do problema de Santa Clara a Velha em Coimbra: sucessivos governos estiveram desatentos e a obra fez-se: os ministros só chegaram a tempo de cortar a fita, não tiveram tempo para suspender as obras; aleluia pela sua incompetência – sua deles– não souberam identificar nos orçamentos, onde sabiamente os técnicos da obra diluíram ao longo de vários anos o seu trabalho – seu deles-, o que se estava a fazer anónima e silenciosamente em Coimbra) .
Mas deixar morrer um edifício como o de Avis é um crime, como é um crime deixar arder barracas com crianças dentro.
E vem o sítio oficial dizer: “Essa família já estava referenciada”.
Se eu fosse cristão diria: “A minha ira sobe aos céus”.
No meu país 3 crianças morreram há dias no incêndio de uma barraca.
Bolas para os laudatórios das virtudes e dos resultados do partido no poder e do seu secretário geral.
Não porque a culpa do incêndio seja do partido ou do seu secretário geral.
Não é isso que eu digo, embora seja com isso que os cérebros dos seus laudatórios os estarão a enganar, a eles, laudatórios, para poderem vestir a pele da inocente vítima acusada.
O que eu quero dizer, sem querer acusar ninguém, é que nós reagimos mal a estas notícias porque manifestamos o nosso desgosto e viramos a página.
Há incêndios em barracas com morte de crianças porque nós portugueses não nos sabemos organizar em trabalho colectivo nem sabemos organizar-nos de modo a tomar as decisões certas.
Basta olhar à nossa volta.
E, no fundo, são os casos de sucesso/insucesso de que o ministro Rui Pereira é o paradigma: sabemos mostrar resultados (graças a estatísticas e a softwares importados – já funcionará, o sistema de contagem electrónica do Parlamento?), não sabemos tratar os factos.
O facto é que ardem barracas em Portugal e morrem crianças (se me pedirem soluções de observador exterior ao contexto, portanto parecer não técnico - mas também onde estão os pareceres dos técnicos para os podermos estudar? – respondo já: façam como nos USA: atribuam verbas a organismos federais de assistência social, que empregam aqueles moços e moças recem licenciados em Assistencia social, dêem-lhes verbas e eles vão resolvendo os assuntos e propondo soluções; soluções de reurbanização e de reemprego das pessoas sem a lógica do lucro e do nível de vida competitivo e elevado que governa a nossa economia).
Não é um resultado, é um facto.
E para mim sucesso é factos, não é resultados (2 homens na avenida da Liberdade, um comeu um frango, o outro viu do outro lado do vidro; cada homem jantou meio frango – este é o resultado, o facto é que há um homem com fome o que, de acordo com a carta dos direitos humanos tem um nome: desumanidade).
Ardem barracas em Portugal.
Em Avis.
Até pode fazer-se um programa de prós e contras.
Vêm os bonzos do costume, vêm outros que não são bonzos.
E depois fica tudo na mesma.
No prós e contras do ano seguinte a excelsa apresentadora confirma que está tudo na mesma, não serviu de nada o seu lindo programa.
Eu não detenho a chave das soluções, mas faço aquilo que me mandaram na escola: ponho hipóteses e dedico tempo a pensar nelas, coisa que não vejo nos meus colegas em muitos assuntos em que deviam fazê-lo.
Passei o tempo a tentar incutir isso nos meus “subordinados”, e é uma pena eles não aproveitarem os conhecimentos técnicos mais profundos que os meus e as suas – deles– capacidade de trabalho e rapidez de percepção, maiores do que as minhas, para porem hipóteses, as analisarem , proporem soluções, testá-las, aplicá-las e concluir a obra.
Querem um retrato do país e da sua cultura?
Vão a Avis.
Um edifício do século XV, monumental, em ruína.
Deixa os turistas estupefactos a olhar para ele.
Não há direito.
Mas vamos ter o ensino obrigatório até ao 12º ano .
Se tivessem mais respeito por quem viveu a profissão de professor , o que só lhes ficava bem, falavam de outro modo.
Mas são os métodos de quem pode, desacreditar o opositor, desacreditar quem defende um sistema que não agrada, desacreditar uma acção com a parte da verdade necessária e suficiente para convencer incautos.
Eu sei que não há dinheiro, mas também não há capacidade politica nem organizacional para resolver o assunto (ainda há dias chamei a atenção para a resolução do problema de Santa Clara a Velha em Coimbra: sucessivos governos estiveram desatentos e a obra fez-se: os ministros só chegaram a tempo de cortar a fita, não tiveram tempo para suspender as obras; aleluia pela sua incompetência – sua deles– não souberam identificar nos orçamentos, onde sabiamente os técnicos da obra diluíram ao longo de vários anos o seu trabalho – seu deles-, o que se estava a fazer anónima e silenciosamente em Coimbra) .
Mas deixar morrer um edifício como o de Avis é um crime, como é um crime deixar arder barracas com crianças dentro.
E vem o sítio oficial dizer: “Essa família já estava referenciada”.
Se eu fosse cristão diria: “A minha ira sobe aos céus”.
As meninas afegãs
Não sei se a notícia se confirma. Mas há indícios de ser muito elevada a sua probabilidade.
Há zonas no Afeganistão em que as raparigas que frequentam a escola são envenenadas. Algumas apareceram com sintomas de intoxicação alimentar dificilmente explicáveis por outras razões.
São já conhecidos os casos de assassínio de professoras e de uso da violência para demover as raparigas de frequentar as escolas, nalguns casos em zonas urbanas.
Nenhuma tradição nem nenhum princípio religioso pode justificar isto (só para citar um exemplo, a mulher e a filha de Maomé eram mulheres instruídas que não viviam fechadas em casa).
Vejo-me forçado a recordar George Marchais, antigo secretário geral do Partido Comunista Francês. Era um homem honesto, adversário explícito da posições estalinistas, mas que perante a gravidade do estado da sociedade afegã afirmou em 1979 que não podia só condenar-se a invasão do país pelo exército soviético, tinha de se ajudar toda a sociedade afegã a libertar-se do feudalismo. Viu-se o que os USA e os rambos fizeram então: apoiaram os talibans.
Deu no que deu, semearam-se ventos e ainda andamos (há portugueses no Afeganistão) a colher tempestades.
A opinião publica apoiou na altura os USA, e até hoje Obama acha que as coisas se resolvem pela força militar (os imperadores romanos sabiam que o esforço de guerra para além de certos limites traduz-se pelo fracasso da economia).
E se a opinião publica desse ouvidos a George Marchais?
Quero eu dizer, se a opinião pública desse menos ouvido às versões oficiais?
Às versões que nos querem fazer crer?
O leitor faz parte da opinião publica…
Pode escolher...
Não sei se a notícia se confirma. Mas há indícios de ser muito elevada a sua probabilidade.
Há zonas no Afeganistão em que as raparigas que frequentam a escola são envenenadas. Algumas apareceram com sintomas de intoxicação alimentar dificilmente explicáveis por outras razões.
São já conhecidos os casos de assassínio de professoras e de uso da violência para demover as raparigas de frequentar as escolas, nalguns casos em zonas urbanas.
Nenhuma tradição nem nenhum princípio religioso pode justificar isto (só para citar um exemplo, a mulher e a filha de Maomé eram mulheres instruídas que não viviam fechadas em casa).
Vejo-me forçado a recordar George Marchais, antigo secretário geral do Partido Comunista Francês. Era um homem honesto, adversário explícito da posições estalinistas, mas que perante a gravidade do estado da sociedade afegã afirmou em 1979 que não podia só condenar-se a invasão do país pelo exército soviético, tinha de se ajudar toda a sociedade afegã a libertar-se do feudalismo. Viu-se o que os USA e os rambos fizeram então: apoiaram os talibans.
Deu no que deu, semearam-se ventos e ainda andamos (há portugueses no Afeganistão) a colher tempestades.
A opinião publica apoiou na altura os USA, e até hoje Obama acha que as coisas se resolvem pela força militar (os imperadores romanos sabiam que o esforço de guerra para além de certos limites traduz-se pelo fracasso da economia).
E se a opinião publica desse ouvidos a George Marchais?
Quero eu dizer, se a opinião pública desse menos ouvido às versões oficiais?
Às versões que nos querem fazer crer?
O leitor faz parte da opinião publica…
Pode escolher...
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Nó de Alcantara (OUT08)
Da Ota para a RAVE no Oriente, e da RAVE no Oriente, para o nó de Alcantara
Tentei sempre ter, e levar os meus colaboradores a ter uma visão integrada do trabalho de cada um no contexto do Metropolitano e deste no contexto dos transportes na área Metropolitana e no País.
Sempre discordei da teoria “cada um no seu compartimento estanque”, à espera que as coisas aconteçam e culpando os outros por não acontecerem.
Por isso acompanhei com entusiasmo a “novela” do novo aeroporto e aplaudi ter-se conseguido evitar o erro da Ota.
Embora reconheça que a terceira travessia do Tejo e as novas linhas da RAVE são uma solução francamente acima da nota 10 (em 20) , sinto uma certa pena por ver que o trabalho se desenvolve de uma forma olímpica e sobranceira, com imposição de soluções específicas não trabalhadas em debate alargado (ver localização e critérios construtivos da estação de Oriente, com graves inconvenientes para a nossa estação, e sem que ninguém, ao nível decisório, dê razão a Santiago Calatrava, quando reconheceu que da primeira vez cometeu erros; ora, tendo ele cometido esses erros por não ter ouvido outros, a probabilidade de vir a cometer novos erros, por continuar a não ouvir outros, será muito elevada).
Considero um erro não se estar discutindo a nível das empresas que operam na área de Lisboa, a nova rede suburbana que utilizará a nova ponte, nem os pontos de correspondência intermodal.
Porém, grave é o que o nosso ministro dos Transportes, nos veio dizer na entrevista na televisão de dia 18, quando justificou o prolongamento da concessão do terminal de contentores de Alcântara com as beneficiações que a Mota-Engil vai custear na zona.
A gravidade para mim não está em qualquer aspecto legal, uma vez que concordo com ele, ministro, que não houve ilegalidade.
A gravidade está em que é apresentado como benefício a demolição dos edifícios da Doca do Espanhol e a transformação de toda a área em parque de contentores.
Benefício? Vedar aos cidadãos o acesso ao rio? A troco de aumento do PIB, é certo, mas não há outro sítio para ir aumentar o PIB?
Passou a ser prática corrente atribuir pedaços da margem a honoráveis entidades, que são honoráveis mas que impedem a fruição do rio pelos cidadãos? Enquanto a margem sul, a Poente de Cacilhas, jaz podre e abandonada, também sem fruição e sem planos do conhecimento público.
Foi o observatório da droga e a sede do controle marítimo (perguntaram aos cidadãos se aqueles pastelões arquitectónicos podiam ali pôr-se?), foi a fundação com o nome do sobrinho mais competente de Henrique Sommer em Pedrouços (era o único terreno disponível?). Foi a deslocação dos contentores e dos depósitos de combustível da zona da Expo para Santa Iria da Azóia e para Alverca (podemos falar em êxito no Parque das Nações quando as populações destas localidades se viram privadas do acesso ao rio?
Ameaçam-nos com a ocupação da margem em Santa Apolónia com um terminal de cruzeiros (se tiver de ser, arranjem por favor um arquitecto que ouça as opiniões das pessoas, para não repetir o desastre da Ribeira das Naus).
É portanto um benefício a demolição dos edifícios da Doca do Espanhol? Segundo as regras dos economistas, o benefício é diminuído do valor da reinstalação em condições equivalentes dos serviços aí residentes. A entrevista foi omissa nessa contabilização (é possível que já tenha sido publicitado, porém ignoro se o concessionário irá suportar a 100% o custo das infra-estruturas ferroviárias que não colidam com o tráfego rodoviário; caso contrário, teríamos outra parcela dedutível ao benefício). Além do mais, pode ser que seja benefício se deixarem o argumento de que o Metro não pode ir em viaduto a Alcântara por razões estéticas.
As mesmas regras pedem ainda a comparação do benefício assim obtido gratuitamente até 2042 em Alcântara com o diferencial benefícios-custos de outras localizações.
E aqui surgem as campainhas de alarme, tocando com a sua máxima força.
Havia alternativa.
Havia alternativa com benefícios muito superiores. Claro que com custos muito superiores. Por isso falo em diferencial.
Essa alternativa já estava estudada. Há muito, e era a etapa seguinte ao fim da concessão de Alcântara.
Alguém terá feito o mesmo que na Ota.
Decretou que o nó de Alcântara estava indissociavelmente ligado aos contentores e pronto. Não se fala mais nisso.
Mas fala. Os técnicos da especialidade tinham o plano preparado há muito para instalar o principal terminal de contentores do porto de Lisboa no fecho da Golada, entre a Cova do Vapor e o Farol do Bugio.
Estava tudo estudado.
Alguém achou que era mais barato afundar o nó de Alcântara com as mais valias do terminal de contentores de Alcântara.
Será.
Porém eu não subscrevo. Quem o fez terá compreendido as razões técnicas da proposta na Golada?
Terá compreendido que “despejar” sobre a linha de cintura da CP tráfego de passageiros vindos da linha de Cascais e tráfego de mercadorias vindo do terminal de contentores de Alcântara será incomportável para a linha, por mais quadruplicada que esteja, sobrecarregada que está ou estará com serviço de suburbanos de Sintra, da Azambuja, da margem sul pela 25 de Abril , da margem sul pela 3ª travessia, e naturalmente com necessidades de manutenção?
Se compete aos técnicos esclarecer quem toma decisões, porque não esclareceram?
E quem decidiu prolongar o período de concessão do terminal de Alcântara terá decidido proscrever o projecto da Golada? A entrevista é omissa.
É que se decidiu e depois acontece o mesmo que na novela Ota-Alcochete, e o projecto da Golada fôr mesmo para a frente, quanto mais não seja para responder ao desafio da competitividade de que falou o ministro na entrevista, o tal benefício deixa de ser benefício, passa a ser apenas dinheiro deitado à rua, isto é, afundado juntamente com o nó de Alcântara.
Em resumo: temos no nó de Alcântara erros graves de planeamento de transportes urbanos; temos no terminal de contentores de Alcântara erros graves de planeamento de transportes marítimos. Se pouco podemos fazer porque não há debate participado, ao menos tenhamos opinião , e quando for caso disso, “Express it”.
Tentei sempre ter, e levar os meus colaboradores a ter uma visão integrada do trabalho de cada um no contexto do Metropolitano e deste no contexto dos transportes na área Metropolitana e no País.
Sempre discordei da teoria “cada um no seu compartimento estanque”, à espera que as coisas aconteçam e culpando os outros por não acontecerem.
Por isso acompanhei com entusiasmo a “novela” do novo aeroporto e aplaudi ter-se conseguido evitar o erro da Ota.
Embora reconheça que a terceira travessia do Tejo e as novas linhas da RAVE são uma solução francamente acima da nota 10 (em 20) , sinto uma certa pena por ver que o trabalho se desenvolve de uma forma olímpica e sobranceira, com imposição de soluções específicas não trabalhadas em debate alargado (ver localização e critérios construtivos da estação de Oriente, com graves inconvenientes para a nossa estação, e sem que ninguém, ao nível decisório, dê razão a Santiago Calatrava, quando reconheceu que da primeira vez cometeu erros; ora, tendo ele cometido esses erros por não ter ouvido outros, a probabilidade de vir a cometer novos erros, por continuar a não ouvir outros, será muito elevada).
Considero um erro não se estar discutindo a nível das empresas que operam na área de Lisboa, a nova rede suburbana que utilizará a nova ponte, nem os pontos de correspondência intermodal.
Porém, grave é o que o nosso ministro dos Transportes, nos veio dizer na entrevista na televisão de dia 18, quando justificou o prolongamento da concessão do terminal de contentores de Alcântara com as beneficiações que a Mota-Engil vai custear na zona.
A gravidade para mim não está em qualquer aspecto legal, uma vez que concordo com ele, ministro, que não houve ilegalidade.
A gravidade está em que é apresentado como benefício a demolição dos edifícios da Doca do Espanhol e a transformação de toda a área em parque de contentores.
Benefício? Vedar aos cidadãos o acesso ao rio? A troco de aumento do PIB, é certo, mas não há outro sítio para ir aumentar o PIB?
Passou a ser prática corrente atribuir pedaços da margem a honoráveis entidades, que são honoráveis mas que impedem a fruição do rio pelos cidadãos? Enquanto a margem sul, a Poente de Cacilhas, jaz podre e abandonada, também sem fruição e sem planos do conhecimento público.
Foi o observatório da droga e a sede do controle marítimo (perguntaram aos cidadãos se aqueles pastelões arquitectónicos podiam ali pôr-se?), foi a fundação com o nome do sobrinho mais competente de Henrique Sommer em Pedrouços (era o único terreno disponível?). Foi a deslocação dos contentores e dos depósitos de combustível da zona da Expo para Santa Iria da Azóia e para Alverca (podemos falar em êxito no Parque das Nações quando as populações destas localidades se viram privadas do acesso ao rio?
Ameaçam-nos com a ocupação da margem em Santa Apolónia com um terminal de cruzeiros (se tiver de ser, arranjem por favor um arquitecto que ouça as opiniões das pessoas, para não repetir o desastre da Ribeira das Naus).
É portanto um benefício a demolição dos edifícios da Doca do Espanhol? Segundo as regras dos economistas, o benefício é diminuído do valor da reinstalação em condições equivalentes dos serviços aí residentes. A entrevista foi omissa nessa contabilização (é possível que já tenha sido publicitado, porém ignoro se o concessionário irá suportar a 100% o custo das infra-estruturas ferroviárias que não colidam com o tráfego rodoviário; caso contrário, teríamos outra parcela dedutível ao benefício). Além do mais, pode ser que seja benefício se deixarem o argumento de que o Metro não pode ir em viaduto a Alcântara por razões estéticas.
As mesmas regras pedem ainda a comparação do benefício assim obtido gratuitamente até 2042 em Alcântara com o diferencial benefícios-custos de outras localizações.
E aqui surgem as campainhas de alarme, tocando com a sua máxima força.
Havia alternativa.
Havia alternativa com benefícios muito superiores. Claro que com custos muito superiores. Por isso falo em diferencial.
Essa alternativa já estava estudada. Há muito, e era a etapa seguinte ao fim da concessão de Alcântara.
Alguém terá feito o mesmo que na Ota.
Decretou que o nó de Alcântara estava indissociavelmente ligado aos contentores e pronto. Não se fala mais nisso.
Mas fala. Os técnicos da especialidade tinham o plano preparado há muito para instalar o principal terminal de contentores do porto de Lisboa no fecho da Golada, entre a Cova do Vapor e o Farol do Bugio.
Estava tudo estudado.
Alguém achou que era mais barato afundar o nó de Alcântara com as mais valias do terminal de contentores de Alcântara.
Será.
Porém eu não subscrevo. Quem o fez terá compreendido as razões técnicas da proposta na Golada?
Terá compreendido que “despejar” sobre a linha de cintura da CP tráfego de passageiros vindos da linha de Cascais e tráfego de mercadorias vindo do terminal de contentores de Alcântara será incomportável para a linha, por mais quadruplicada que esteja, sobrecarregada que está ou estará com serviço de suburbanos de Sintra, da Azambuja, da margem sul pela 25 de Abril , da margem sul pela 3ª travessia, e naturalmente com necessidades de manutenção?
Se compete aos técnicos esclarecer quem toma decisões, porque não esclareceram?
E quem decidiu prolongar o período de concessão do terminal de Alcântara terá decidido proscrever o projecto da Golada? A entrevista é omissa.
É que se decidiu e depois acontece o mesmo que na novela Ota-Alcochete, e o projecto da Golada fôr mesmo para a frente, quanto mais não seja para responder ao desafio da competitividade de que falou o ministro na entrevista, o tal benefício deixa de ser benefício, passa a ser apenas dinheiro deitado à rua, isto é, afundado juntamente com o nó de Alcântara.
Em resumo: temos no nó de Alcântara erros graves de planeamento de transportes urbanos; temos no terminal de contentores de Alcântara erros graves de planeamento de transportes marítimos. Se pouco podemos fazer porque não há debate participado, ao menos tenhamos opinião , e quando for caso disso, “Express it”.
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Os fetiches, a RAVE e o Nó de Alcantara (JUN08)
A castração do povo e os fetiches
Entre a vasta contribuição que o pensamento português ofereceu à cultura mundial encontra-se a palavra feitiço.
Durante o esforço expansionista das relações comerciais europeias com os mercados asiáticos, em que as principais casas comerciais portuguesas (família Lencastre, família Albuquerque, etc.) estiveram envolvidas, verificaram os marinheiros portugueses que em África os povos dedicavam muita fé a amuletos, figuras ou rituais para conseguir objectivos por via indirecta.
O que testemunharam foi um esforço de abstracção e de construção de modelos simuladores da realidade desejada.
Os marinheiros portugueses vinham de uma cultura que, entre outros meios para o triunfo emergente da religião que se afirmava na altura como dominante (o papismo de Roma), tinha recorrido à bruxaria pagã como alvo a abater.
Pobre deusa celta Brixta com os seus delicados ademanes e procedimentos intimamente ligados à Natureza (o que a religião dominante não suportava, lembram-se do que o Sean Connery sofreu no nome da rosa?, com os dominicanos a apertá-lo e os franciscanos do santo antónio de Pádua, que o de Lisboa não ia ser tão intolerante, a assobiar para o lado?), deu talvez origem ao nome Bruxa, ela, que nada tinha de bruxa, feia e má.
Faltava a este ambiente de perseguição (que efectivamente não agradava à ideia geral da cultura portuguesa, insensíveis sim, mas não exageremos com o sangue) um elemento que ajudasse a acabar com as perseguições maníacas da Inquisição às bruxas (a ideia está retratada no Crime da Aldeia Velha, peça de Bernardo Santareno, e nas Bruxas de Salem, filme com a Winona Ryder - acontece uma desgraça, foi aquela mulher solteira ou viuva que atraiu o mal e a desgraça), sem extinguir o sentimento do extra-natural (é impossível, a religião ou a crendice religiosa podem ser um desvio, mas são um desvio de algo que está agarrado aos genes e aos neurónios).
E a observação dos feitiços africanos resolveu o assunto. Rapidamente os portugueses exportaram a nova ciência esotérica para o Brasil e agora é ver as telenovelas brasileiras cheias de vudu e outras coisas.
Feitiço foi o nome que os portugueses foram buscar ao latim (o jeito que o Priberam dá para estas coisas) para designar algo que não existe, que é fictício (pena o “c” ir caindo com o novo acordo), que não existe, que é artificial, ou que é imaginário, que em latim se diz ficticiu.
Assim mesmo, fictício, bons meninos os marinheiros portugueses, muito amigos do latim, como dizia Camões (claro que entre os marinheiros iam jovenzinhos saidos dos Estudos Gerais com nota máxima e que não conseguiam arranjar emprego nas empresas públicas da altura porque as grandes casas comerciais portuguesas andavam já a cortar nos encargos de pessoal – não admira que a bordo duma caravela com 60 tripulantes houvesse quem soubesse latim).
Era então o feitiço algo que não existia mas que existia. Pronto, a Inquisição teve de engolir, pois que se era fictício faltava o corpo do delito para incriminar o “feiticeiro”. E de feitiço saiu não só o feiticeiro mas também o fetiche (tradução do português para o francês, que os franceses andaram muito interessados nas terras do Brasil, pleno de fetiches, tanto assim que ainda hoje o navio escola francês se chama Belem e até sobrou a Guiana Francesa, ainda colónia).
Fetiche como objecto que não existe mas que existe, porque representa o que não é, mas se associa ao que é, e com ele se podem conseguir objectivos (escuso de ser explícito, não é assim?).
Isto é, fetiche é a realidade virtual.
500 anos à frente do pensamento universal, o pensamento português, a criar o fetiche, que só tem existencia virtual mas em torno do que tudo gira, como a informática veio agora querer impôr...
E o pensamento científico universal aceitou de bom grado a inovação teórica do século XV.
Passados três séculos, quando o pensamento universal começou a sedimentar no século das luzes, vem o conceito científico de fetiche, através de Charles de Brosses, um enciclopédico que desenvolveu uma teoria materialista das origens da religião, com base nos fetiches “descobertos” pelos portugueses.
Curiosamente, Karl Marx tornou-se devedor do pensamento português quando extrapolou a teoria de Brosses para o valor fictício ou ilusório da mercadoria (desactualizado Marx? o que é o mecanismo de fixação do valor em bolsa? um mecanisno real ou fetiche? as equações da mecânica newtoniana também estão desactualizadas? queremos ver ou queremos não ver?).
E o pensamento português contemporâneo , mesmo contemporâneo porque está a acontecer sempre, cria a ilusão de que a gazolina e o gasóleo são o grande fetiche da nossa sociedade, são o desvio das necessidades essenciais (o pão, a saúde, a educação, a justiça, a paz e a solidariedade) criado pela castração destas necessidades (vem tudo nos manuais da psicologia, só mudei os nomes a algumas naturezas). São a ilusão de que o transporte individual (TI) pode dispensar o colectivo.
Fetichista, o povo português, muito fetichista.
Pobre iconoclastas, não vão conseguir convencer ninguém em Portugal com tantos fetichistas.
Como os pobres adoradores do transporte ferroviário não vão conseguir convencer ninguém.
Os burocratas de Bruxelas já expediram as suas recomendações. O tráfego de mercadorias nas auto-estradas da Europa atingiu níveis incomportáveis para a capacidade das vias de comunicação e para os limites das emissões de CO2.
As recomendações falam claramente em investir nas infraestruturas ferroviárias. A “contre coeur” o governo deixou a RAVE fazer os seus projectos.
Claro que à portuguesa, sem os contrastar com outras opiniões e sem os benefícios de um debate aberto.
Claro, em Portugal ainda se depende do messianismo bacoco e dos esquemas institucionais rígidos; ainda se pratica o fetiche de criar uma imagem pública do que é o correcto (para que servem os programas de televisão e os “opinion makers”?), mas como fetiche que é, a probabilidade de coincidir com a realidade é expressa pela assíntota zero.
Calma porém, que os projectos até nem estão muito mal feitos. Estão claramente acima da positiva, coisa que não acontecia com o aeroporto da Ota.
E chegados aqui, quem teve a paciência de me seguir pergunta: e que tem tudo isto a ver connosco?
Resposta: tudo, porque o nosso governo tem instruções para investir na estrutura ferroviária de transportes metropolitanos (espera-se aumento da procura com o aumento dos combustíveis).
E sendo assim, temos a equipa organizada para responder à solicitação? sendo certo que não devemos competir com a RAVE, a REFER, a CARRIS ou as Rodoviárias. Se querem competir compitam com o TI.
Temos a equipa organizada? Pelo exemplo do nó de Alcantara parece que não.
O problema é que os vencimentos, um dia destes, serão função dos passageiros.Km transportados...
Não percamos os próximos episódios.
Entre a vasta contribuição que o pensamento português ofereceu à cultura mundial encontra-se a palavra feitiço.
Durante o esforço expansionista das relações comerciais europeias com os mercados asiáticos, em que as principais casas comerciais portuguesas (família Lencastre, família Albuquerque, etc.) estiveram envolvidas, verificaram os marinheiros portugueses que em África os povos dedicavam muita fé a amuletos, figuras ou rituais para conseguir objectivos por via indirecta.
O que testemunharam foi um esforço de abstracção e de construção de modelos simuladores da realidade desejada.
Os marinheiros portugueses vinham de uma cultura que, entre outros meios para o triunfo emergente da religião que se afirmava na altura como dominante (o papismo de Roma), tinha recorrido à bruxaria pagã como alvo a abater.
Pobre deusa celta Brixta com os seus delicados ademanes e procedimentos intimamente ligados à Natureza (o que a religião dominante não suportava, lembram-se do que o Sean Connery sofreu no nome da rosa?, com os dominicanos a apertá-lo e os franciscanos do santo antónio de Pádua, que o de Lisboa não ia ser tão intolerante, a assobiar para o lado?), deu talvez origem ao nome Bruxa, ela, que nada tinha de bruxa, feia e má.
Faltava a este ambiente de perseguição (que efectivamente não agradava à ideia geral da cultura portuguesa, insensíveis sim, mas não exageremos com o sangue) um elemento que ajudasse a acabar com as perseguições maníacas da Inquisição às bruxas (a ideia está retratada no Crime da Aldeia Velha, peça de Bernardo Santareno, e nas Bruxas de Salem, filme com a Winona Ryder - acontece uma desgraça, foi aquela mulher solteira ou viuva que atraiu o mal e a desgraça), sem extinguir o sentimento do extra-natural (é impossível, a religião ou a crendice religiosa podem ser um desvio, mas são um desvio de algo que está agarrado aos genes e aos neurónios).
E a observação dos feitiços africanos resolveu o assunto. Rapidamente os portugueses exportaram a nova ciência esotérica para o Brasil e agora é ver as telenovelas brasileiras cheias de vudu e outras coisas.
Feitiço foi o nome que os portugueses foram buscar ao latim (o jeito que o Priberam dá para estas coisas) para designar algo que não existe, que é fictício (pena o “c” ir caindo com o novo acordo), que não existe, que é artificial, ou que é imaginário, que em latim se diz ficticiu.
Assim mesmo, fictício, bons meninos os marinheiros portugueses, muito amigos do latim, como dizia Camões (claro que entre os marinheiros iam jovenzinhos saidos dos Estudos Gerais com nota máxima e que não conseguiam arranjar emprego nas empresas públicas da altura porque as grandes casas comerciais portuguesas andavam já a cortar nos encargos de pessoal – não admira que a bordo duma caravela com 60 tripulantes houvesse quem soubesse latim).
Era então o feitiço algo que não existia mas que existia. Pronto, a Inquisição teve de engolir, pois que se era fictício faltava o corpo do delito para incriminar o “feiticeiro”. E de feitiço saiu não só o feiticeiro mas também o fetiche (tradução do português para o francês, que os franceses andaram muito interessados nas terras do Brasil, pleno de fetiches, tanto assim que ainda hoje o navio escola francês se chama Belem e até sobrou a Guiana Francesa, ainda colónia).
Fetiche como objecto que não existe mas que existe, porque representa o que não é, mas se associa ao que é, e com ele se podem conseguir objectivos (escuso de ser explícito, não é assim?).
Isto é, fetiche é a realidade virtual.
500 anos à frente do pensamento universal, o pensamento português, a criar o fetiche, que só tem existencia virtual mas em torno do que tudo gira, como a informática veio agora querer impôr...
E o pensamento científico universal aceitou de bom grado a inovação teórica do século XV.
Passados três séculos, quando o pensamento universal começou a sedimentar no século das luzes, vem o conceito científico de fetiche, através de Charles de Brosses, um enciclopédico que desenvolveu uma teoria materialista das origens da religião, com base nos fetiches “descobertos” pelos portugueses.
Curiosamente, Karl Marx tornou-se devedor do pensamento português quando extrapolou a teoria de Brosses para o valor fictício ou ilusório da mercadoria (desactualizado Marx? o que é o mecanismo de fixação do valor em bolsa? um mecanisno real ou fetiche? as equações da mecânica newtoniana também estão desactualizadas? queremos ver ou queremos não ver?).
E o pensamento português contemporâneo , mesmo contemporâneo porque está a acontecer sempre, cria a ilusão de que a gazolina e o gasóleo são o grande fetiche da nossa sociedade, são o desvio das necessidades essenciais (o pão, a saúde, a educação, a justiça, a paz e a solidariedade) criado pela castração destas necessidades (vem tudo nos manuais da psicologia, só mudei os nomes a algumas naturezas). São a ilusão de que o transporte individual (TI) pode dispensar o colectivo.
Fetichista, o povo português, muito fetichista.
Pobre iconoclastas, não vão conseguir convencer ninguém em Portugal com tantos fetichistas.
Como os pobres adoradores do transporte ferroviário não vão conseguir convencer ninguém.
Os burocratas de Bruxelas já expediram as suas recomendações. O tráfego de mercadorias nas auto-estradas da Europa atingiu níveis incomportáveis para a capacidade das vias de comunicação e para os limites das emissões de CO2.
As recomendações falam claramente em investir nas infraestruturas ferroviárias. A “contre coeur” o governo deixou a RAVE fazer os seus projectos.
Claro que à portuguesa, sem os contrastar com outras opiniões e sem os benefícios de um debate aberto.
Claro, em Portugal ainda se depende do messianismo bacoco e dos esquemas institucionais rígidos; ainda se pratica o fetiche de criar uma imagem pública do que é o correcto (para que servem os programas de televisão e os “opinion makers”?), mas como fetiche que é, a probabilidade de coincidir com a realidade é expressa pela assíntota zero.
Calma porém, que os projectos até nem estão muito mal feitos. Estão claramente acima da positiva, coisa que não acontecia com o aeroporto da Ota.
E chegados aqui, quem teve a paciência de me seguir pergunta: e que tem tudo isto a ver connosco?
Resposta: tudo, porque o nosso governo tem instruções para investir na estrutura ferroviária de transportes metropolitanos (espera-se aumento da procura com o aumento dos combustíveis).
E sendo assim, temos a equipa organizada para responder à solicitação? sendo certo que não devemos competir com a RAVE, a REFER, a CARRIS ou as Rodoviárias. Se querem competir compitam com o TI.
Temos a equipa organizada? Pelo exemplo do nó de Alcantara parece que não.
O problema é que os vencimentos, um dia destes, serão função dos passageiros.Km transportados...
Não percamos os próximos episódios.
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Nó de Alcantara (MAI08)
Durante muito tempo esteve suspensa a espada de Damocles.
E agora caiu, com estrondo.
Seguidamente se abaterá sobre as nossas cabeças o cortejo de infelicidades.
O pensamento português contemporaneo saiu recentemente das tormentas da escolha do local do novo aeroporto (eu podia tentar uma análise mais dentro da economia política clássica e dizer que a escolha foi entre as propostas de 2 grupos económicos, de constituição espúria, mas comportando-se como grupos de interesse económico; mas isso são analises fora de moda, por isso me refiro ao "pensamento português" enquanto "motor" da tomada de decisões a nível de governo) .
Passou rapidamente para as tormentas da escolha da terceira travessia do Tejo.
Aqui inovou e conseguiu apresentar um projecto mais avançado, beneficiando do “know how” da RAVE. O modelo gerado pelo pensamento português seguiu duas linhas de orientação fundamentais para escolher o local da travessia que servirá a ligação ferroviária TGV com Madrid:
1 – deverá ser a ligação mais curta entre a estação Oriente e o Barreiro, porque se pretende instalar as oficinas do TGV no Barreiro (o facto da ligação a Madrid ter mais 5 km é irrelevante, e para justificar o local com argumentos do tipo “ordenamento do território”, expressão que fica bem em qualquer curriculo de mestrado, obtem-se o apoio dos presidentes de câmara da margem sul acenando com a utilização rodoviária da ponte: Barreiro-Lisboa num ápice);
2 – deverá ser a ligação mais fácil entre a ponte e o eixo da linha do Norte, a caminho de Oriente (os projectistas de traçados de caminho de ferro têm alguma razão em escolher as soluções mais simples; o problema é que por vezes a melhor solução para um modo de transporte não é a solução mais simples para um traçado ferroviário).
Se aceitarmos os 2 pressupostos anteriores, a escolha da RAVE (Chelas-Barreiro) está correcta; se aceitarmos outros pressupostos, não. A vantagem do pensamento português é satisfazer-se com os 2 pressupostos e assim encontra a solução.
Vencidas as etapas novo aeroporto e terceira travessia enfrenta agora o pensamento português novo desafio: o nó ferroviário de Alcantara. Este é a espada de Damocles acima referida.
O nó ferroviário de Alcantara é, objectivamente, emtermos de engenharia de transportes, um disparate. É o resultado de decisões políticas tomadas por decisores que ignoram as regras da arte.
A ideia de correspondencia entre as linhas de Sintra e de Cascais está correcta, mas o modo não.
Recordo que em 1974 o estudo da Deconsult apontava como primeira prioridade o prolongamento do metro da Rotunda para Alcantara. E continuaa ser prioritário. Infelizmente houve um ministro em 1993 que achou que Salomão atribuiria o serviço da Baixa-Santa Apolónia ao ML e o serviço Alcantara-Campolide à CP. E assim fez, enquanto preparava o futuro da travessias rodoviárias do Tejo.
Mais tarde um presidente de Câmara rendido às urbanizações de luxo insistiu que o troço da linha de Cascais entre Alcantara e o Cais do Sodré devia ser desactivado (a mania que os presidentes de câmara têm de desactivar) para Renzo Piano fazer umas urbanizações de luxo (que maçada, temos de aturar provincianos em lugares decisivos?).
E os nossos colegas da CP/REFER tomaram posse do seu território e fizeram um projecto que não levou em conta a experiencia adquirida pelo ML com os próprios erros (é muito mau não aprender com os erros, quer sejam do próprio, quer sejam de outros):
Ligação enterrada da linha de Cascais à linha de Sintra e uma estação enterrada em Alcantara, obrigando alguns colegas nossos do metro (sendo chefe dessa missão o arq Brito da Silva que teve de me ouvir na altura)a projectar uma estação enterrada.
Vem finalmente outro ex-ministro que aparece a chefiar uma empresa ligada à concessão do terminal de contentores de Alcantara e que atira com decisão a espada de Damocles ao chão, anunciando para já um investimento de 200 milhões de euros (chamo a atenção que esta estimativa é para a remodelação do terminal de contentores, não é para o nó de Alcantara, cujos custos de construção são proibitivos). Eu não digo que não deva haver um porto marítimo em Lisboa (tem de ser tudo na margem norte? já viram bem o abandono em que está a margem sul? não podiamos ser informados sobre as hipoteses de aproveitamento das frentes ribeirinhas e da repartição dos seus usos, incluindo zonas de lazer e náutica de recreio?), mas é uma pena que não se assuma uma coisa muito simples: o porto de Sines não é um elefante branco, é um planeamento correcto dos anos 70 do século anterior (o senhor eng.Guterres havia de gostar de ler isto), incluindo o alívio do Porto de Lisboa; eu sei que o pensamento português gosta muito do argumento de que não se deve gastar dinheiro, mas a engenharia de transportes tem de dimensionar as infraestruturas em função dos volumes de transporte, e esses volumes excedem a capacidade do porto de Lisboa (faz-me lembrar a Portela; se estagnarmos o país para não transportarmos mais passageiros e desertificarmos à volta da Portela para não fazer ruido para os moradores, já podemos conservar lá o aeroporto - o pensamento português tolhe muito os movimentos...).
Parece-me que estas decisões não deviam ser factos consumados comunicados ao "povo ignorante e impotente" com pompa e circunstancia.
Numa altura em que por esse mundo fora as decisões são partilhadas e submetidas a apreciação pública (lá vou eu citar outra vez a Sabedora das multidões, mas para variar podem ver tambem o "Wikinomics", leia só as primeiras páginas na FNAC que já é elucidativo), graças à força do pensamento português estamos nisto.
Eu gostaria de não ser mal interpretado e mostrar por que estamos perante um disparate:
1 - a estação do metro não deve ser enterrada porque o desnivel relativamente a Estrela implica maior consumo de energia relativametne à solução viaduto (por sobre a linha de Cascais)
2 - a estação de metro e a estação da CP não devem ser enterradas porque os terrenos de Alcantara são aterro (2ª metade do século XIX) e aluviões; tecnicamente pode construir-se (relembro os custos das estações enterradas de Terreiro do Paço e de Santa Apolónia) mas é mais económico recorrer a estacas e viadutos
3 - a ligação entre Alcantara e a linha de cintura não deve ser enterrada ao longo do caneiro de Alcantara (lembram-se da recente intervenção no caneiro, que estava a abater?) pelas mesmas razões geo-técnicas;
4 - a linha de cintura da CP já está saturada em termos de tráfego suburbano, interregional , de mercadorias e necessidades de manutenção, pelo que a ligação entre as linhas de Sintra e Cascais será feita com vantagem pelos prolongamentos das linhas do metro Rato -Alcantara e Alameda-S.Sebastião-Alvito (correspondencia com a linha da ponte 25 de Abril); é uma pena outra característica do pensamento português: querer aproveitar uma unica infraestrutura para tudo, neste caso a linha da cintura; e é uma pena porque os decisores não são aqueles que depois vão explorar e manter em regime de sobrecarga
5 - seguindo a velha técnica shakespeariana de avançar com 2 ou 3 árvores a esconder a floresta, os promotores do nó de Alcantara vão conquistar o apoio popular com o desnivelamento rodoviário relativamente à ligação ferroviária ao terminal de contentores, prometendo construir as estações enterradas e a ligação enterrada à linha da cintura para melhores dias (lembram-se que os melhores dias nunca mais chegaram para o pobre túnel rodoviário do Terreiro do Paço, por causa do qual a nossa estação TP está a 18m de profundidade? isto é, foram mais uns dinheiritos de volume de escavação).
Quer isto dizer que vão dar prioridade ao secundário (a cidade para os cidadãos parece ser a primeira prioridade, e não o terminal de contentores e o TI para Cascais, ou estou enganado?) e o que vão construir já vai condicionar inapelavelmente as estações do metro e da CP.
É pena, mas é muito português.
É também muita pena, porque Alcantara significa em árabe "ponte", e não túnel, e os engenheiros árabes, dignos herdeiros de Vitrúvio, já sabiam que o terreno ali era ingrato, e havia que fazer lá uma ponte para unir.
E agora caiu, com estrondo.
Seguidamente se abaterá sobre as nossas cabeças o cortejo de infelicidades.
O pensamento português contemporaneo saiu recentemente das tormentas da escolha do local do novo aeroporto (eu podia tentar uma análise mais dentro da economia política clássica e dizer que a escolha foi entre as propostas de 2 grupos económicos, de constituição espúria, mas comportando-se como grupos de interesse económico; mas isso são analises fora de moda, por isso me refiro ao "pensamento português" enquanto "motor" da tomada de decisões a nível de governo) .
Passou rapidamente para as tormentas da escolha da terceira travessia do Tejo.
Aqui inovou e conseguiu apresentar um projecto mais avançado, beneficiando do “know how” da RAVE. O modelo gerado pelo pensamento português seguiu duas linhas de orientação fundamentais para escolher o local da travessia que servirá a ligação ferroviária TGV com Madrid:
1 – deverá ser a ligação mais curta entre a estação Oriente e o Barreiro, porque se pretende instalar as oficinas do TGV no Barreiro (o facto da ligação a Madrid ter mais 5 km é irrelevante, e para justificar o local com argumentos do tipo “ordenamento do território”, expressão que fica bem em qualquer curriculo de mestrado, obtem-se o apoio dos presidentes de câmara da margem sul acenando com a utilização rodoviária da ponte: Barreiro-Lisboa num ápice);
2 – deverá ser a ligação mais fácil entre a ponte e o eixo da linha do Norte, a caminho de Oriente (os projectistas de traçados de caminho de ferro têm alguma razão em escolher as soluções mais simples; o problema é que por vezes a melhor solução para um modo de transporte não é a solução mais simples para um traçado ferroviário).
Se aceitarmos os 2 pressupostos anteriores, a escolha da RAVE (Chelas-Barreiro) está correcta; se aceitarmos outros pressupostos, não. A vantagem do pensamento português é satisfazer-se com os 2 pressupostos e assim encontra a solução.
Vencidas as etapas novo aeroporto e terceira travessia enfrenta agora o pensamento português novo desafio: o nó ferroviário de Alcantara. Este é a espada de Damocles acima referida.
O nó ferroviário de Alcantara é, objectivamente, emtermos de engenharia de transportes, um disparate. É o resultado de decisões políticas tomadas por decisores que ignoram as regras da arte.
A ideia de correspondencia entre as linhas de Sintra e de Cascais está correcta, mas o modo não.
Recordo que em 1974 o estudo da Deconsult apontava como primeira prioridade o prolongamento do metro da Rotunda para Alcantara. E continuaa ser prioritário. Infelizmente houve um ministro em 1993 que achou que Salomão atribuiria o serviço da Baixa-Santa Apolónia ao ML e o serviço Alcantara-Campolide à CP. E assim fez, enquanto preparava o futuro da travessias rodoviárias do Tejo.
Mais tarde um presidente de Câmara rendido às urbanizações de luxo insistiu que o troço da linha de Cascais entre Alcantara e o Cais do Sodré devia ser desactivado (a mania que os presidentes de câmara têm de desactivar) para Renzo Piano fazer umas urbanizações de luxo (que maçada, temos de aturar provincianos em lugares decisivos?).
E os nossos colegas da CP/REFER tomaram posse do seu território e fizeram um projecto que não levou em conta a experiencia adquirida pelo ML com os próprios erros (é muito mau não aprender com os erros, quer sejam do próprio, quer sejam de outros):
Ligação enterrada da linha de Cascais à linha de Sintra e uma estação enterrada em Alcantara, obrigando alguns colegas nossos do metro (sendo chefe dessa missão o arq Brito da Silva que teve de me ouvir na altura)a projectar uma estação enterrada.
Vem finalmente outro ex-ministro que aparece a chefiar uma empresa ligada à concessão do terminal de contentores de Alcantara e que atira com decisão a espada de Damocles ao chão, anunciando para já um investimento de 200 milhões de euros (chamo a atenção que esta estimativa é para a remodelação do terminal de contentores, não é para o nó de Alcantara, cujos custos de construção são proibitivos). Eu não digo que não deva haver um porto marítimo em Lisboa (tem de ser tudo na margem norte? já viram bem o abandono em que está a margem sul? não podiamos ser informados sobre as hipoteses de aproveitamento das frentes ribeirinhas e da repartição dos seus usos, incluindo zonas de lazer e náutica de recreio?), mas é uma pena que não se assuma uma coisa muito simples: o porto de Sines não é um elefante branco, é um planeamento correcto dos anos 70 do século anterior (o senhor eng.Guterres havia de gostar de ler isto), incluindo o alívio do Porto de Lisboa; eu sei que o pensamento português gosta muito do argumento de que não se deve gastar dinheiro, mas a engenharia de transportes tem de dimensionar as infraestruturas em função dos volumes de transporte, e esses volumes excedem a capacidade do porto de Lisboa (faz-me lembrar a Portela; se estagnarmos o país para não transportarmos mais passageiros e desertificarmos à volta da Portela para não fazer ruido para os moradores, já podemos conservar lá o aeroporto - o pensamento português tolhe muito os movimentos...).
Parece-me que estas decisões não deviam ser factos consumados comunicados ao "povo ignorante e impotente" com pompa e circunstancia.
Numa altura em que por esse mundo fora as decisões são partilhadas e submetidas a apreciação pública (lá vou eu citar outra vez a Sabedora das multidões, mas para variar podem ver tambem o "Wikinomics", leia só as primeiras páginas na FNAC que já é elucidativo), graças à força do pensamento português estamos nisto.
Eu gostaria de não ser mal interpretado e mostrar por que estamos perante um disparate:
1 - a estação do metro não deve ser enterrada porque o desnivel relativamente a Estrela implica maior consumo de energia relativametne à solução viaduto (por sobre a linha de Cascais)
2 - a estação de metro e a estação da CP não devem ser enterradas porque os terrenos de Alcantara são aterro (2ª metade do século XIX) e aluviões; tecnicamente pode construir-se (relembro os custos das estações enterradas de Terreiro do Paço e de Santa Apolónia) mas é mais económico recorrer a estacas e viadutos
3 - a ligação entre Alcantara e a linha de cintura não deve ser enterrada ao longo do caneiro de Alcantara (lembram-se da recente intervenção no caneiro, que estava a abater?) pelas mesmas razões geo-técnicas;
4 - a linha de cintura da CP já está saturada em termos de tráfego suburbano, interregional , de mercadorias e necessidades de manutenção, pelo que a ligação entre as linhas de Sintra e Cascais será feita com vantagem pelos prolongamentos das linhas do metro Rato -Alcantara e Alameda-S.Sebastião-Alvito (correspondencia com a linha da ponte 25 de Abril); é uma pena outra característica do pensamento português: querer aproveitar uma unica infraestrutura para tudo, neste caso a linha da cintura; e é uma pena porque os decisores não são aqueles que depois vão explorar e manter em regime de sobrecarga
5 - seguindo a velha técnica shakespeariana de avançar com 2 ou 3 árvores a esconder a floresta, os promotores do nó de Alcantara vão conquistar o apoio popular com o desnivelamento rodoviário relativamente à ligação ferroviária ao terminal de contentores, prometendo construir as estações enterradas e a ligação enterrada à linha da cintura para melhores dias (lembram-se que os melhores dias nunca mais chegaram para o pobre túnel rodoviário do Terreiro do Paço, por causa do qual a nossa estação TP está a 18m de profundidade? isto é, foram mais uns dinheiritos de volume de escavação).
Quer isto dizer que vão dar prioridade ao secundário (a cidade para os cidadãos parece ser a primeira prioridade, e não o terminal de contentores e o TI para Cascais, ou estou enganado?) e o que vão construir já vai condicionar inapelavelmente as estações do metro e da CP.
É pena, mas é muito português.
É também muita pena, porque Alcantara significa em árabe "ponte", e não túnel, e os engenheiros árabes, dignos herdeiros de Vitrúvio, já sabiam que o terreno ali era ingrato, e havia que fazer lá uma ponte para unir.
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