segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Eu criminoso me confesso

Esta é dedicada aos meus amigos advogados.

O casalinho que foi apanhado pelas autoridades que acorreram a uma denúncia pública de prática de felação no interior de um automóvel, em Paredes, arriscam uma pena de prisão de 4 anos.
Segundo explicou um senhor advogado, não é crime de atentado ao pudor, que essa figura desapareceu. Chama-se agora importunação sexual.
E mais explicou que é crime, apesar do automóvel ser um espaço privado, porém não impede a visibilidade do que se passa lá dentro.
Acresce que esta criminalização foi definida na última reforma penal (aquela que, por um vacatio legis, permitiu a soltura, por questões processuais, de criminosos efectivamente condenados em tribunal) coordenada pelo actual senhor ministro da administração interna.
Venho então eu, agora, confessar-me criminoso, porque desde que passei uns tempos na Holanda das janelas sem cortinas, não tenho cortinas, e durmo com as persianas levantadas.
Pode o senhor ministro enviar os seus polícias. Bastar-lhe-á subir às varandas do vizinho, ao nível das minhas, que é o do primeiro andar, e daí será muito fácil acusarem-nos de importunação sexual e obterem a nossa condenação.
Infelizmente, devido ao adiantado da idade, não será todas as noites que o poderão fazer, mas ainda assim vão podendo fazê-lo.
Já a minha avó contava que se fartava de ralhar com o meu avô porque a vizinha podia vê-lo nu dentro de casa. Ao que ele respondia que se a vizinha não quisesse ver, que não olhasse.
E ainda não tinha eu 6 anos e já os meus pais me tinham ensinado que era crime espreitar para dentro das barracas da praia em que as senhoras se bronzeavam por inteiro.
É por isso que agora digo, senhor ministro e senhores legisladores, que crime, crime, é o voyeurismo, como o daquele senhor de Paredes, junto do local do “crime”, que disse para o jornalista: “Da minha janela via-se tudo o que eles estavam a fazer dentro do carro. Até fui chamar a minha mulher para vir ver”.
Importunação, isto?
Deve haver uma deficiência cognitiva à solta ou um erro de interpretação da realidade, generalizados, claro, não serão só para mim.
Ou então é a realidade que é surrealista.


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