Continuando a referência ao sociólogo António Barreto, oiço na Antena 2 que ele prefaciou a História de Portugal, de 3 autores, recentemente publicada.
Eu devia saber, porque me ofereceram o livro e até já dei uma pequenina volta pelos tempos da fundação.
Ouvidos os autores na entrevista da Antena 2, tem o livro para nós o grande interesse de, entre outras coisas:
- desmontar o romantismo habitual dos ideais patrióticos, porque não se deve fazer história com conceitos anacrónicos (como o de Pátria, no séc.XIV, em que o que houve foi apenas a substituição da camada poderosa da nobreza por outra camada da mesma nobreza)
-reconhecer que o povo não é ao longo da história o mesmo conceito que hoje temos, e que os povos sempre foram utilizados pelas classes poderosas (podiam ficar com um quinhão da pimenta que trouxessem, mas se morressem antes de desembarcar, a viúva nada recebia) e às vezes até se revoltando contra a atribuição a eles próprios de direitos (como a reacção rural ao liberalismo)
- informar que os indicadores de Portugal comparativamente com o resto da Europa eram, na altura da transição para a república, os mais afastados da história e que após a revolução de 5 de Outubro o poder foi monopolizado pelo partido republicano (curioso haver na actualidade um partido que se reclama herdeiro do partido republicano português…)
- caracterizar o regime saído do 25 de Abril de 1974 como um regime democrático como os dos outros países (António Barreto dixit, no prefácio, e eu concordo), cuja característica principal é estar aberto a todos, sendo por isso livre e plural. Daí decorre a insatisfação de as coisas se fazerem , não como cada um quer, mas como todos, ou pelo menos, a maioria querem, de acordo com uma resultante para a qual esses todos contribuíram (deixemo-nos dessa ideia da ingovernabilidade; claro que não se pode governar só de acordo com o programa de um grupo; deixem o Hondt sossegado; abram as mentes e os ouvidos). Sendo esta uma caracterização da res publica, parece-me que se pode extrapolar para o âmbito das comunidades, por exemplo de trabalho. Donde, uma boa prática de gestão será o não querer impor a solução de um grupo, pequeno ou grande, mas obter a contribuição do maior numero de participantes. É este livro de história que o diz (também já vinha explicado na “Sabedoria das Multidões”…). Se esta é a caracterização fundamental deste país, apesar das nossas dificuldades congénitas de organizar o trabalho em equipas, por que não aplicar nas empresas do país? Deixemo-nos de soluções “top-down” de iluminados, por mais brilhante e bem apresentado que seja o port-folio deles (eu penso que posso falar assim, que não tenho port-folio brilhante e estou habituado a que não façam o que eu proponho).
Estão de acordo?
História de Portugal, Rui Ramos, Bernardo Vasconcelos e Sousa e Nuno Gonçalo Monteiro, 700 páginas, ed.Esfera dos Livros
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