Leio no DN: Portugal vai enviar mais uma companhia de comandos para o Afeganistão. 118 mortos em mais um atentado em Bagdad.
Há dias, vinha um testemunho de um coronel do exército inglês sobre a sua experiência no Iraque, reportando que o seu comandante directo americano dava ordens disparatadas, as quais ele, inglês, se via grego para contornar e não piorar as coisas. E que os comandantes americanos tinham muita dificuldade em compreender todas as variáveis em jogo.
E então vamos mandar mais uma companhia de comandos.
Estou farto da guerra, apesar de ser um privilegiado que nunca entrou no teatro de operações.
Aceito que sim, si vis pacem para bellum; que Portugal tenha companhias de comandos. Pode ser preciso um dia pô-las a combater o vandalismo nas ruas, mas que sejam as nossas ruas, não as ruas do Afeganistão.
Se os moços querem ir ganhar dinheiro para a guerra e sublimar as suas tendencias agressivas, que vão; mas porque não contrata o exército português uma cedencia de mão de obra aos outros exércitos em lugar de assumir toda a logística?
E porque não faz como no Líbano, em que as companhias de engenharia portuguesas têm sido um exemplo para a ONU? (é, ainda não devem ter percebido, nesta altura do processo histórico, que os exércitos servem para reconstruir, ou, como ensinam os economistas quando não estão cegos pela deriva adam smithista, que os exércitos participam na internalização das externalidades).
Já dizia aos senhores oficiais do exército colonial pré-Abril de 74 que se tinha de fechar a guerra, andei na manifestação contra o Iraque que foi tão ultrajada pela comunicação social barrosista da altura, oiço religiosamente o Requiem da guerra de Benjamim Britten (Churchill achava que era um traidor), prego a quem me quer ouvir que a metodologia contra a guerra só pode ser a de Gandhi; e a tudo a História veio dar razão.
É agora com o Afeganistão que estou enganado?
Já que o presidente Obama parece não o querer ouvir, oiçam Greg Mortenson, que tem um programa de escolas no Afeganistão, é co-autor de "Three Cups of Tea" e dirigiu a Obama a seguinte recomendação, na esperança de que retirasse, em vez de reforçar: "Open your ears more to the locals, or risk shooting yourselves in the boots; there were nine meetings held behind closed doors, in secrecy, between Obama and military leaders but Afghanistan’s provincial elders were not considered in any of those meetings — even though they are the real power in the country."
O homem está lá no Afeganistão, fala com os chefes locais, mas os senhores de Washington é que sabem.
Que continuam esquecidos do que os imperadores romanos já sabiam. Quanto mais guerra faziam maiores as pressões inflacionistas. Nenhuma economia pode sustentar uma guerra destas. Nem a americana nem a europeia. As pressões inflacionistas aumentam, embora as paredes ainda vão resistindo. O problema será quando não resistirem.
É também por isso que estou farto da guerra.
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