domingo, 27 de dezembro de 2009

Economicómio XXXV – A Ford, a Volvo e a Gelly

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A Ford passou por um mau período nos fins dos anos 70. Más escolhas dos modelos, impostos, os modelos, por um número restrito de pessoas, detentoras da maioria do capital ou de sua confiança. Na Ford compreenderam o erro na tomada das opções, corrigiram as estratégias e não chegaram a passar pela crise da GM e da Chrysler.
De modo que, tendo a Ford, no contexto actual, de “deslastrar”, desfez-se primeiro da Jaguar, que vendeu à Tata indiana, e vendeu agora a Volvo à Gelly chinesa.
Comparando com a GM, que se recusou a vender a Opel a um consórcio russo, e se recusou a vender a SAAB a outro fabricante chinês, dá ideia de que na Ford prezam mais as técnicas de boa gestão do que na GM.
Talvez se possa mesmo dizer que temos provavelmente aqui uma forma de racismo.
Para quem achar a hipótese de racismo muito forte, conto a história da minha sobrinha-neta, de 8 anos, que foi convidada, assim como toda a turma, para o lanche de aniversário da colega chinesinha. Correu tudo muito bem e ela gostou muito de ir à festa da chinesinha, cujos pais gerem um restaurante chinês muito frequentado, ao pé da Portugália de Arroios. Mas a triste verdade é que foi a única menina da turma que foi à festa. Talvez fosse bom alguém na Assembleia da República tomar a iniciativa de alterar o jus sanguini para o jus soli (quem nasce em Portugal é português), para ver se a discriminação se atenua.
É uma pena se for assim, porque a China já é detentora de grande volume da dívida pública dos USA e, nos tempos que correm, é inútil estar a fazer “segredinhos” com o “know-how”. Aliás, as especificações ambientais dos fabricantes chineses já são mais rigorosas do que as dos USA.
Há muitos anos que se assistiu nas lojas de Hong Kong e em Macau à invasão maciça das grandes marcas ocidentais de moda. Desde os porta-moedas da Salvatore Ferragano, aos óculos da Gucci. A China criou “mercado” para todas essas marcas, que tinham atingido o ponto de falência no mercado restrito ocidental.
Por outro lado, consumindo os USA 20 milhões de barris de petróleo por dia e a China 5 milhões (cito de cor), é de esperar que a expansão económica da China venha permitir relançar a economia ocidental, repondo-a num estágio de crescimento mais saudável em que se encontrava há uns anos.
Como é sabido, um dos dogmas da religião económica dominante é o de que o PIB tem de estar sempre a crescer.
A China permitirá esse crescimento à indústria automóvel. O problema será depois quando for atingido o novo ponto de saturação.
Donde, parecerá que, sem esquecer, claro, as directivas ambientais, vender fábricas à China ou à Índia será boa política (não poderá aplicar-se à Quimonda, Investstar/Aerosoles e às fábricas que vão fechando?).
Mas será preocupante não ver nada escrito por esse mundo fora sobre um plano de contingência, perdão, um plano de transição da economia crescente para a economia estabilizada, para quando não for sustentável continuar a fabricar tantos automóveis.
A Ford, a GM e a Chrysler fizeram isso, nos anos 50 e 60: suprimiram e fundiram marcas…
Aguardemos.



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