O cardeal Barragan desempenhou as funções de ministro da saúde do Estado do Vaticano e destacou-se mais uma vez ao declarar recentemente que os “gays” nunca entrarão no reino dos céus.
Posso concordar com ele, desde que não acredite no reino dos céus.
Mas a ideia não seria essa, além de que o cardeal, receoso que os seus colegas teólogos o desancassem por pretensiosismo insuportável de quem imita Jesus Cristo a referir-se aos ricos (é mais fácil o cabo da embarcação passar pelo buraco da agulha – já agora chamo a atenção para mais uma confusão linguística: em grego camelo é muito parecido com a palavra que designa o cabo grosso de uso marítimo) achou por bem apressar-se a esclarecer que não era ele que o dizia, mas S.Paulo.
É possível.
Não retenho todas as epístolas de S.Paulo com essas referências aos pobres “gays” escorraçados para o inferno. S.Paulo é uma figura notabilíssima na historia da gestão. É um precursor dos grandes economistas gestores do nosso tempo. Pegou numa organização discreta e pacífica e, como se fosse um “yupie” cujo sucesso é a recuperação de empresas falidas, dotou-a com todos os elementos que o marketing da época reconhecia como os mais apreciados pelos seguidores das outras religiões (é aqui que entra o culto de Mitra, disseminado em toda a área mediterrânica em avanço relativamente à religião cristã, que com ela partilha muitos mitos). Depois, como gestor internacional, lançou as bases do triunfo a longo prazo da organização sobre todas as concorrentes. Fez como a Austrália, aproveitou os mais humildes até que os mais humildes se tornaram a maioria organizada e a religião cristã passou a religião oficial incompatível com a existência das outras (concílio de Niceia, ano 312).
Mas recordo da Bíblia (o tal acervo de crueldades) a condenação à morte dos “gays” pela sociedade judaica.
E vem agora o cardeal Barragan recordar-nos o anti-humanismo do pensamento oficial da igreja católica. Fechando os portões do paraíso aos “gays”. Como a figura central da religião cristã dizia, “não sabem o que fazem”.
Ou sabem, jogando na intolerância, até que venha a condenação por método democrático do intolerado. Por referendo ou por decisão do governo, apesar da laicidade estar consagrada na Constituição da República. E combatendo, à sa manière, a homosexualidade dos sacerdotes, ameaçando os pobres sacerdotes "gays" com o castigo do senhor deus dos exércitos, como diz a Bíblia; tudo para que as ovelhas não se tresmalhem.
E admiram-se do sacerdote islâmico a explicar que o homem pode bater na esposa desde que não a faça sangrar….
O cardeal Barragan sabe quem entra e quem não entra no reino dos céus, apesar do método científico já ser praticado pela humanidade há mais de 3 séculos.
E a verdade é que dão ouvidos ao cardeal Barragan.
E se calhar até a maioria dá ouvidos ao cardeal Barragan.
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