Para alem do desgosto de saber que morreu gente no acidente, lamento a reação oficial do governo chinês, demitindo 3 dirigentes ferroviários antes da conclusão do inquérito.
É certo que determinar as causas com um minimo de segurança exige algum tempo.
Porem, é grande a probabilidade de que as causas estejam relacionadas com a pressa com que na China se constroem linhas de alta velocidade.
De forma pacóvia, costumam ser aplaudidas as noticias da rapidez de construção na China. Sem derrapagens de prazos, como a comunicação social costuma chamar aos atrasos. A rapidez de construção é incompativel com a eficácia dos ensaios necessários para garantir a segurança da exploração ferroviária.
A fixação das datas de colocação em serviço de uma linha ferroviária é normalmente politica, e decidida por quem não tem competencias para compreender os conceitos de segurança de exploração ferroviária.
Por isso me aconteceu muitas vezes tentar combater a orientações superiores no sentido de antecipar a colocação em serviço. Com insucesso, pois os orgãos dirigentes sempre achavam que podiam fixar prazos, em lugar de perguntar aos técnicos quanto tempo era necessário para concluir os ensaios em segurança.
Recordo até um caso caricato em que tivemos de adiar os ensaios porque o orgão dirigente do metropolitano quis fazer uma viagem pré-inaugural. Tambem não havia pressa, porque as eleições tinham sido adiadas e a colocação em serviço da linha tambem.
Voltando ao caso da China, é evidente que não pode ainda garantir-se quais as causas. Sabendo-se que um comboio parou em cima de um viaduto por motivo de uma descarga atmosférica, tendo sido embatido por outro, não é admissivel que o sistema de proteção não tenha atuado de modo fail-safe. Isto é, falhando o sistema de proteção por falta de energia (em principio, deveria haver um sistema de alimentação de recurso) e não recebendo (via radio) o comboio em movimento uma mensagem de via livre, a travagem automática deveria ter sido atuada. Ou terá sido ainda pior, um sistema obsoleto de deteção da presença do comboio parado não terá funcionado, como no caso do acidente com o metro de Washington. Ou alguma ordem de avanço do comboio que embateu terá sido dada indevidamente. Ou o comboio que embateu estava a circular com defeito nos circuitos de receção das mensagens de proteção do movimento.
O grande problema da exploração em alta velocidade é a necessidade de uma manutenção eficaz. E isso só pode fazer-se com respeito pelas regras de manutenção, que são incompativeis com as teorias economicistas de redução de custos.
É grande a probabilidade das causas do acidente na China estarem aqui, na deficiente manutenção, ou nas pressas de colocação em serviço, sem a realização completa dos ensaios do sistema de proteção do movimento.
Aguardemos as conclusões do inquérito.
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