Senhor secretário de estado da cultura
Venho chamar-lhe a atenção para mais um caso em que o estado, perdulário, gasta o dinheiro dos contribuintes.
Junto duas fotografias atestando o facto.
No sábado, dia 2 de julho de 2011, passando pela zona do Chiado, verifiquei que o largo em frente do teatro nacional de S.Carlos se encontrava cheio de gente, e que uma orquestra tocava num palco improvisado, ao ar livre.
Informei-me do que tocavam e disseram-me que era a musica do Polichinelo, bailado com canto de Stravinsky, e do Amor brujo, de Manuel de Falla.
Ambas musicas que recolhem uma porção infima das preferencias dos cidadãos e cidadãs deste país e que precisam dos dinheiros do estado para se fazerem ouvir.
De vez em quando passava um elétrico da carreira 28, cheio de turistas e de carteiristas, e que pensarão eles, os turistas do elétrico e aqueles que passavam a pé pelo Chiado?
Possivelmente que Portugal é um país civilizado que mesmo com dificuldade em pagar as suas dividas prefere gastar o pouco dinheiro de que dispõe em cultura.
Resta-nos a esperança que o bom senso impere e acabe por impor uma solução correta para este abuso.
Aliás, como sabe, o bom senso é aquela entidade que deve prevalecer em todos os governos, e que acha que dez quilos de ferro, dentro de uma caixa fechada igual a outra caixa que contem um quilo de algodão, caem mais depressa do que o quilo de algodão quando lançadas as caixas de uma janela, simultaneamente, sem impulso inicial e nas mesmas condições de pressão, temperatura, vento, densidade do ar e posição geométrica de lançamento (Aristóteles achava que o ferro caía mais depressa, mas desde Galileu e o método experimental que se sabe que cai ao mesmo tempo, como qualquer corpo sujeito à aceleração gravítica, 9,8 metros por segundo quadrado).
Com a agravante do concerto ser gratuito, apenas com o mecenato do turismo de Portugal, da fundação EDP, do Millenium BCP, e o apoio institucional da CP, SIC, Radio Renascença, embaixada da Austria, etc, etc.
Por isso, a esperança é a de que, para o ano, não se assista no verão a este desperdício de dinheiros publicos, o que certamente irá contribuir para o reequilíbrio financeiro das contas públicas que o governo a que V.Exa pertence, tão voluntariosamente persegue.
Aplausos para a orquestra Gulbenkian, o seu jovem maestro, os cantores, a maioria portugueses (sujeitando a voz aos riscos de cantar ao ar livre, apesar da amplificação) e à organização. Destaque para o entusiasmo do maestro Cesar Viana, que partilha comigo a ideia de que às tantas não vale a pena perder tempo com muitas questões de administração e de organização, nem com os constrangimentos, que há que dar o esforço para produzir, neste caso musica e cultura.
Temo que os governantes não concordem, e achem que cultura não contribui significativamente para o PIB.
Mas tenhamos esperança, contrária àquela que eu mencionei acima.
Até porque, como homenagem a Fernando Pessoa, que nasceu neste largo, foi citada no inicio do espetáculo a sua quadra:
Numa quinta que não haverá
Há um poço que não há
Aonde há-de ir beber água,
alguém que te entenderá
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