sábado, 9 de julho de 2011

Religo VII - O senhor cardeal não ficou impressionado

O senhor cardeal de Lisboa declarou que o corte do subsídio de Natal era uma medida equilibrada.
Justificou por ser aplicada acima de um limite, pelo que quem mais recebe, mais pagará.
E acrescentou que era uma medida que não o impressionava.
(No tempo do escudo, nunca havia cortes; os senhores ministros das finanças podiam diminuir os salários reais através da desvalorização do escudo e da subida do custo de vida. Impressionaria isso mais do que os cortes?)
Apelou ainda a que os portugueses colaborassem com o governo para pôr Portugal  a funcionar com genica, e que não se limitassem a pensar apenas na própria comodidade (ai, a costela de culpa sistemática da tradição judaico-cristã).

Ouvi-o a dizer isto na rádio, e pareceu-me triste , o senhor.
Possivelmente sentiu que fazia o mesmo que Cristo, ou o que dizem os escritos que ele fazia, ao remeter para Cesar a função de recolha do imposto.
Talvez tenha tambem pensado que as pessoas se devem libertar das preocupações materiais para mais facilmente se despegarem de parte significativa do dinheiro do subsidio de Natal.

Mas poderia ir mais longe.
Poderia ter citado os atos dos Apóstolos, e recomendar aos grandes grupos económicos, sociedades financeiras e bancos, que fizessem o que lá vem nesses Atos: a colocação em comum das mais valias obtidas para serviço e coesão da comunidade, entendendo coesão como medida inversa das desigualdades.

Estaria então o cardeal a pregar a teologia do imposto sobre os lucros dos bancos e grupos económicos, e então talvez se lembrasse do que os próprios membros da igreja católica portuguesa vêm dizendo, que a fome chegou à classe média.

Seria por pensar nisto e não o dizer por se sentir constrangido, que falou com um ar tão melancólico?

Pena a igreja católica deste país não despegar do governo, apesar da lei da laicidade. Assim não devemos criticar a influencia religiosa em paises como a Turquia. Como dizia Cristo, ou os escritos por ele, vê-se mais facilmente o defeito ocular nos outros. Ou parafraseando Ronaldo, com estratégias religiosas destas não ganhamos o jogo.

Fico eu impressionado com os cortes, para compensar a não impressão do senhor cardeal.

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