Ouvido na manifestação:
- Porque viemos à
manifestação, se sabemos que não vai mudar nada?
- Porque é uma
forma de expressão. Pode ser apenas um desabafo, mas é a forma de nos
exprimirmos.
Pode ser que não
seja suficiente a força de quem se manifestou para mudar; quando comparada com
a força dos senhores da finança de Bruxelas e Frankfurt e com a força de inércia dos senhores das nossas elites dirigentes.
Pode ser que,
como escreveu Urbano Tavares Rodrigues, “os mais atingidos não ousem
queixar-se”.
Pode ser que seja
mesmo assim, que nesta apagada e vil tristeza persista a nossa incapacidade de
nos organizarmos em equipas; não é por falta de alternativas a esta política, é por falta de entendimento entre as pessoas.
Pode ser que seja
este o caminho, o caminho da desigualdade cada vez maior; que, tal como Paul
Tomsen da troika logo ao princípio disse, na sua primeira entrevista, que em
Portugal se ganhava mais do que o que se produzia, que tinham de ser reduzidos
os rendimentos, que o fator trabalho estava demasiadamente bem remunerado.
É então apenas
isso, um roteiro de empobrecimento e de desemprego, apesar de serem quase 30%
as crianças que vivem na pobreza, sabendo-se a correlação forte entre as
condições de vida das crianças na pobreza e a insuficiência da média de
desenvolvimento intelectual.
A manifestação
exprime a indignação das pessoas perante a ignomínia deste roteiro, mas vem o primeiro
ministro e diz que a indignação não é uma resposta para a crise.
Convencido de ter
sido eleito para desempenhar uma missão salvadora, todas as críticas que se lhe
façam só reforçam essa convicção.
Falharam todos
os mecanismos constitucionais para repor
o funcionamento regular das instituições.
O poder
legislativo do Parlamento submete-se ao poder executivo através dos mecanismos
partidários, sem por em prática mecanismos de representação e de participação dos
eleitores.
O poder judicial
nem bom exemplo dá, com a estrutura jurídica paralisante que temos e o delírio
e fúria legisladora de sucessivos governantes.
O presidente da
República hesita.
Não é chamado o
povo a consultas referendárias.
Formalmente, o
atual governo tem então legitimidade para mais dois anos, quase.
Pessoalmente, não
ia tão longe como os manifestantes pediram, a demissão do governo.
Para não se
gerar mais perturbação, bastava demitir
o primeiro ministro, o ministro das finanças e o dos assuntos parlamentares,
indicando o partido mais votado novo primeiro ministro.
Os outros podiam
ficar até às próximas eleições.
Não é uma questão
política, é apenas uma questão de gestão, neste caso da coisa pública.
Que diabo, é
assim que funcionam as democracias.
bandeira negra da falta de solidariedade |
não vale a pena discutir números, mas os riscos de multidões deslocando-se em ruas estreitas e em acessos de metropolitano sem planos de absorção e de evacuação de emergencia não são toleráveis |
será um exemplo da não contenção de algumas despesas públicas? robô aéreo telecomandado para filmagem de manifestações; este sobrevoou a manifestação por diversas vezes, no Terreiro do Paço |
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