Gosto dos portugueses, mesmo que seja um auto elogio
dizê-lo, porque também sou português.
Os portugueses têm muitos defeitos; eu tenho.
Mas gosto deles porque se sente afabilidade quando se fala
com eles.
Bom, desde que não se esteja em conflito.
Talvez que o principal defeito dos portugueses seja o de
terem dificuldade em identificar os defeitos, em reconhecê-los, em
compensá-los, em corrigi-los, em sublimá-los, em utilizar os métodos para isso.
Questão de emotividade, talvez, sobreposição da parte emocional
à racionalidade.
Mas como reconhecer um defeito, se nos sentimos afáveis e
simpáticos uns para os outros, se nos sentimos bem? (bom, desde que não se
esteja em conflito, individual ou em grupo, e mesmo em conflito, reparem na facilidade com que silenciosamente se suportam as opressões).
Os outros, os não portugueses, têm os mesmos defeitos, que o
código genético é igual há mais 50.000 anos.
Mas encontram com mais facilidade o caminho da correção,
talvez por maior fidelidade ao método científico.
Por exemplo, o presidente alemão rapidamente se demitiu
depois de ser conhecido um caso de favorecimento em seu benefício na concessão
de um empréstimo para aquisição de casa.
Ou o primeiro ministro da Croácia que foi preso por ter
aceite subornos de uma companhia petrolífera em troca de uma concessão.
Ou o primeiro ministro do Paquistão, por ter feito o mesmo
em contratos de energia.
Nós portugueses gostamos de entusiasmar-nos com coisas
novas.
É o deslumbramento da inovação.
Os não portugueses também; até nos enviaram os seus gurus de
marketing e de coaching, de reorganização de empresas, insistir na tecla de que
só as empresas inovadoras sobrevivem e aumentam a quota de mercado.
Mas como não eram portugueses, não sabiam que a nossa
emotividade nos leva a ter dificuldade em distinguir entre o acessório e o
essencial, entre a inovação supérflua ou contra producente, e a inovação
fundamental para o progresso do negócio.
Inovação, palavra mágica.
Por exemplo, há uns anos, a cor dos táxis mudou.
Que as chuvas em dias de vento do norte de África deixavam o
preto manchado de poeira saariana.
Mudaram para uma cor clara.
De vez em quando mandavam-me parar, a mim, que tinha um
carro de cor parecida.
Reparem na fotografia recente:
Muitos voltaram à cor antiga.
É que a inovação não era essencial.
Assim somos.
Gostamos de bizantinamente discutir a cor dos táxis.
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