Através da Fundação Gulbenkian, a orquestra e coro do maestro
Tom Koopman, especialistas de musica barroca, apresentaram a Ode ao Trovão, de
Georg Philip Telemann.
Para os portugueses, que apesar da crise têm o privilégio de
trazer estes especialistas ao nosso país, há nesta peça musical o especial
interesse de ter sido composta e executada, pela primeira vez, num concerto de
solidariedade com as vítimas do terramoto de 1755.
A iniciativa foi da cidade-estado de Hamburgo, que também
enviou dois navios com provisões de auxílio.
É interessante analisar o impacto que o fenómeno teve na
Europa, desde a lucidez de Voltaire (ver o Candide) à culpabilização pelo padre
Malagrida dos pobres lisboetas que tinham provocado a ira divina.
Um pouco à maneira do que se passa agora com a crise.
Para uns culpa dos pobres cidadãos que têm de ser punidos,
mesmo que a análise serena dos dados aponte para causas naturais, se
considerarmos como naturais as relações de causa e efeito entre as práticas do
sub-prime, dos investimentos virtuais e
dos off-shores, e a transferência de rendimentos das classes de menores
rendimentos para as de maiores rendimentos.
Telemann foi um expoente da musica barroca, dominada na Alemanha pela
religiosidade luterana.
A ode ao trovão comemora o terramoto sem falar dele, apenas
na força dos fenómenos naturais, numa adaptação de salmos da Bíblia.
Tradução do texto do troço reproduzido no youtube (fonte:
Programa do concerto na Gulbenkian):
“O trovão troa para
que glorifiquem o Senhor.
Mostrai-lhe gratidão
no seu templo!
Do templo ressoou até
aos confins da Terra,
longo e altíssono, o
cântico de louvor.”
É fascinante, como dizia Mr Spock, da nave Enterprise do
Star trek, a formação do mecanismo de agradecimento depois de um suposto
castigo e de uma tragédia tão extensa.
Também deveríamos agradecer aos beneméritos da troika, cujos
bancos têm lucros garantidos com o empréstimo a Portugal?
Por exemplo, o banco da Holanda, país do atual presidente do
Eurogrupo, prevê atingir 3,2 mil milhões de proveitos entre 2013 e 2017 com as
operações financeiras de apoio as países do sul (fonte: Daniel Oliveira e http://www.rijksoverheid.nl/ministeries/fin/nieuws/2013/02/15/duidelijkheid-over-winstafdracht-dnb.html
).
Isto é, a dívida dos países do sul anda a financiar os
países do norte.
É uma pena não se corrigir a politica financeira da Europa
(aquela coisa da união financeira).
Seria um negócio “win-win”, salvo melhor opinião.
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