O condomínio recebeu uma carta das Finanças, ou melhor, como agora se auto-intitulam, da autoridade tributária.
- Venham cá dar o numero de contribuinte da vossa empregada da limpeza.
- Ah, mas a senhora ganha menos do que o ordenado mínimo.
- Não interessa, agora têm de mandar para cá todos os meses a declaração J de quanto lhes pagam. Senão ela não tem segurança social.
Na verdade, a autoridade é autoritária com os fracos e compreeensiva com os fortes.
Os fracos são os que andam a trabalhar neste condomínio, naquele condomínio, naquela família, nesta família, nas tardes de segunda, nas manhãs de terça e de quinta, e a autoridade quer recolher as quantias todas para poder compor o IRS da senhora, para poder até preenchê-lo antecipadamente.
Cumprimentos à sagacidade da autoridade, que assim alarga a base tributária e faz crescer o PIB e a receita fiscal.
Mas, e há sempre um mas sempre que a sagacidade tem um assomo destes.
Mas aqui entra o dr Vítor Bento.
Que o governo faz mal em andar a cruzar tantos dados por cima da privacidade dos cidadãos.
Primeiro, reforça o clima de desconfiança dos cidadãos em relação aos serviços fiscais.
E depois, por simples aplicação do princípio da reciprocidade, que diz que Estado pode fazer as injustiças que quiser que o cidadão fará as que puder, estimula a fuga fiscal.
Pense-se um bocadinho.
A senhora da limpeza do condomínio onde mora o dr Vítor Bento trabalha também num restaurante afamado muito frequentado pelas elites (pobre meio este, o das elites deste país; que resultados tão pobres de elites tão distintas).
Que desde que o IVA aumentou 23% teve uma quebra de faturação de 40%.
Que horror, o que o aumento do IVA faz à restauração.
Ou será que a perseguição fiscal originou um software de fuga?
Enquanto donos de restaurantes honestos lutam para equilibrar as suas contas e outros desistem até ao suicídio (como dizia um deputado da maioria, é a seleção natural, havia restaurantes a mais), há sempre quem dê a volta.
A quebra de faturação real deve ter sido de 20% e assim nem foi preciso repercutir o aumento do IVA nos preciosos clientes.
Melhor seria os pensadores da autoridade tributária serem menos rígidos no seu pensamento e na sua ação.
Melhor seria estimular um clima de confiança mútuo, com fixação de tabelas contributivas razoáveis, por acordo participado.
Mas a autoridade tributária prefere perseguir a senhora da limpeza.
Poderei estar a ver mal, mas não é só a autoridade tributária que unilateralmente decide a aplicação de impostos.
O meu banco também lança impostos sobre os seus clientes.
A anuidade que aparece no extrato bancário é um imposto silencioso cobrado por uma entidade privada como se fosse a remuneração de um serviço.
É a usurpação de um direito da comunidade organizada em Estado, porque ninguém elegeu em eleições públicas os banqueiros.
Quem os elegeu foi uma elite restrita de acionistas, não foram os eleitores.
Oito euros, incluindo comissões, foi quanto me descontou o meu banco, unilateralmente.
Os cidadãos depositam o seu dinheiro no banco, o banco pode utilizá-lo para os seus investimentos, pelo menos uma parte, vamos que quatro quintos.
Se a média do depósito à ordem for de 1700 euros, temos que quatro quintos são 1350 euros e que os 8 euros representam um juro de 0,6%.
Coisa pouca, 0,6%, mas quem emprestou ao banco foi o cliente e quem recebeu o juro foi o banco tomador do empréstimo.
Ao contrário do que se vê por aí, que é quem empresta receber também juros, e tanto mais altos quanto o meio bancário e financeiro acha que o devedor mais dificuldade tem em os pagar, os juros.
Repito que depositar o seu dinheiro para o ter seguro é uma necessidade pública dos cidadãos que não tem de ser um negócio para alguns.
Não é um serviço que esses alguns prestam para depois se vangloriarem dos lucros que obtiveram em assembleias de acionistas.
É um serviço público.
Como dizia o presidente Andrew Jackson, vocês, banqueiros, são um ninho de víboras.
Ou como já disse este blogue, são uns meninos maus.
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